Projeto Lírios do Campo – cuidando de quem cuida

Premiado pela Câmara Municipal de São Paulo pelo trabalho de prover um descanso para o cuidador de idosos

Por Luciana Mitsue Sakano Niwa e Emília Naomi Todo Liem

Aniversário de 17 anos do Projeto Lírios do Campo (05/2025)

“Vejam como crescem os lírios do campo. Eles não trabalham nem tecem. Contudo, eu lhes digo que nem Salomão, em todo seu esplendor, vestiu-se como um deles. (…) Busquem pois em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas”. (Mateus 6.28, 29, 33)

Em 1996, o desejo de servir a Deus cuidando de pessoas idosas com limitações, floresceu no coração de uma mulher. Ela orou por aproximadamente dez anos e após a aposentadoria do marido, nascia o Projeto Lírios do Campo, criado oficialmente em 2007.

Com objetivo de proporcionar um dia de folga para o cuidador de idosos portadores de comprometimento cognitivo e físico leve e moderado, o Lírios do Campo recebe idosos para passar o dia na primeira, segunda e terceira sexta-feira de cada mês.

O projeto começou com um convite aos interessados em trabalhar com pessoas idosas. A ideia era que o projeto funcionasse com base em princípios bíblicos. Os interessados se reuniram por um ano para planejar, estruturar, desenvolver, capacitar e estagiar, com vistas a atender da melhor maneira possível os idosos que ficariam sob seus cuidados.

Lírios do Campo é ligado à Igreja Metodista Livre da Saúde, em São Paulo, SP. Do ponto de vista financeiro, o projeto sem fins lucrativos é autossustentável. Para cobrir os gastos com materiais lúdicos e de cuidados é cobrada uma mensalidade, e para subsidiar as refeições é paga uma taxa.

No projeto, são chamados usuários as pessoas idosas que desfrutam do projeto. O cuidador é o familiar responsável pelo cuidado do idoso e o/a voluntário/a é a pessoa de maneira direta no projeto.

Os critérios para participação do usuário no projeto são: presença de cuidador, vontade da pessoa em participar e competência do grupo em cuidar. Desse modo, a pessoa idosa e o cuidador participam de dois encontros e decidem se querem envolver-se com o projeto. Se decidem participar, Lírios do Campo entrevista o cuidador para conhecer as características sociodemográficas, hábitos alimentares e vesico-intestinais, atividades de vida diária, problemas de saúde, medicações em uso, convênio médico e o contato do cuidador.

O projeto tem capacidade para atender dezoito idosos. Atualmente, todas as vagas estão preenchidas e existe uma fila de espera. A maioria dos usuários tem ascendência japonesa e alguma limitação física e/ou cognitiva. Há predomínio de mulheres e a mais idosa tem 103 anos. Os cuidadores são familiares e nem todos frequentavam a igreja quando começaram a participar do projeto.

Atividades adaptadas.

As atividades acontecem entre 9 e 14 horas e incluem: aferição de pressão arterial e frequência cardíaca; músicas e louvores entoados acompanhados ao som do teclado; meditação rápida sobre uma passagem da Bíblia, com a ajuda do pastor; ginástica corporal sentada e com os dedos; exercícios orofaciais, atividades lúdicas adaptadas; origami que são dirigidas e acompanhadas pelos voluntários.

As refeições são feitas ao estilo da culinária japonesa, adaptadas com consistências macias, tamanhos diferentes de cortes e temperos para atender as necessidades dos usuários. Ao todo, são três refeições: lanche de boas-vindas, almoço e café de despedida.

Cada usuário recebe uma agenda do projeto onde constam o calendário com as datas dos encontros e uma anotação referente ao dia com informações de todas as atividades desenvolvidas para conhecimento da família. A agenda é o meio de comunicação entre os cuidadores e o projeto e é preenchida próximo ao final das atividades do dia no projeto.

Além dos encontros semanais, o Lírios do Campo oferece um passeio fora da cidade de São Paulo para maior integração entre os usuários, familiares e voluntários. Também são realizadas palestras de interesse do cuidador, como por exemplo o envelhecimento ativo e a doença de Alzheimer, geralmente em um sábado no segundo semestre.

Os critérios de aceitação para os que desejam ser voluntários são: preferencialmente terem vínculo com a igreja, serem indicados por outros voluntários e terem disposição para planejar e participar das atividades junto aos usuários. Da mesma forma que o usuário, o candidato a voluntário, também, participa de dois encontros antes de sua inserção no projeto, e pode escolher envolver-se com as atividades junto aos usuários ou na preparação das refeições. Hoje o projeto conta com 28 voluntários divididos entre o cuidado com os idosos limitados e as atividades da refeição.

Ginástica dos dedos.

Ao término das atividades do dia, os voluntários se reúnem para avaliação das atividades, refeições oferecidas no dia, percepções sobre facilidades e dificuldades dos usuários. A partir dessa avaliação o próximo encontro é planejado e são feitos planos de comemorações, visitas e passeios. Tudo é documentado e arquivado na igreja.

Em 2011, o Lírios do Campo foi premiado pela Câmara Municipal de São Paulo, no dia do voluntário, pelo trabalho de prover um descanso para o cuidador de idosos.

Ao longo dos dezessete anos de existência o projeto, Deus tem sido maravilhoso e apesar de três voluntários estarem na morada celestial, podemos acompanhar conversões e batismos de pessoas idosas em idades avançadas.

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Aposentada do trabalho, na ativa como voluntária

Por Emília Naomi Todo Liem

Meu nome é Emília Naomi Todo Liem. Sou formada em fonoaudiologia pela PUC-SP e atuei por mais de vinte no atendimento a crianças e a adolescentes.

Aposentei-me em 2020 e me apresentei como voluntária no Projeto Lírios do Campo em 2022 quando as reuniões voltaram a ser presenciais.

Soube pela senhora Rosa Hasegawa que nas casas de idosos do Japão eram realizados exercícios orofaciais a fim de prevenir a disfagia. E por causa de minha formação, ela pediu que eu dirigisse o momento de exercícios orofaciais com usuários.

A disfagia apresenta diversos sintomas que mostram a dificuldade para mastigar e deglutir. Um exemplo de sintoma é o engasgo, com risco da saliva, líquido, e alimento irem para o pulmão, provocando a pneumonia aspirativa.

Esse não é um distúrbio exclusivo da velhice, ele pode surgir em estados avançados de doenças como o Alzheimer e Parkinson, em sequela de doenças neurológicas, de câncer e de AVC.

Para diagnosticar e tratar a disfagia são necessários a avaliação fonoaudiológica, exames e exercícios específicos.

Os exercícios com as estruturas orofaciais ajudam a manter o tônus muscular e a mobilidade para a respiração, fala, voz, mastigação e deglutição.

As estruturas orofaciais trabalhadas com os exercícios são as arcadas dentárias, a articulação temporomandibular, as bochechas, a língua, os lábios, a úvula e as pregas vocais. Cada estrutura é trabalhada individualmente, e depois coordenadamente.

Na fala, mastigação e deglutição há diversos movimentos sincronizados das estruturas orofaciais.

Os usuários do Lírios do Campo não apresentam os problemas de saúde citados acima. Alguns deles apresentavam apenas engasgos na fala e na alimentação e, depois de participarem dos exercícios do projeto,  melhoraram significativamente.

Todos participam dos exercícios orofaciais de forma muito descontraída e divertida.

Luciana Mitsue Sakano Niwa é enfermeira com especialização em enfermagem geronto-geriátrica modalidade residência na UNIFESP. Mestrado em ciências do cuidado pela USP, Doutorado em saúde coletiva pela USP. Participa da Igreja Metodista Livre, no bairro Saúde, São Paulo, SP. Atua como voluntária nos projetos Lírios do Campo e Cérebro Ativo.

Emília Naomi Todo Liem, formada em Fonoaudiologia pela PUC – SP, é voluntária no Projeto Lírios do Campo da Igreja Metodista Livre no bairro Saúde, em São Paulo, SP.

Leia mais:

>> Integração de idosos na igreja – Resgatando sonhos

>> Roda de Conversa 60+ na Igreja Batista da Redenção (Redê)

“Os velhos terão sonhos”

Por Elisa Maria Ferraz Arruda

Não há idade para que Deus nos coloque dentro de seus planos

“E, depois disso, derramarei do meu Espírito sobre todos os povos. Os seus filhos e as suas filhas profetizarão, os velhos terão sonhos, os jovens terão visões.” (Joel 2.28-31)

Meu nome é Elisa Maria. Soube da coluna “Sessenta +” por intermédio da Mara, missionária longe – em terras distantes e levando a palavra de Deus para refugiados em São José do Rio Preto, SP – missionária perto – em Londrina, PR, entre mulheres em situação de vulnerabilidade –, e membro da minha célula. Mara e eu sempre fomos companheiras em muitos momentos de oração.  Hoje mesmo, tivemos um cafezinho em casa. Conversamos, oramos e nos despedimos porque ela voltará para seu campo de trabalho.

Vou contar um pouco sobre mim.

Sou uma professora estadual aposentada, desde 2000. Na maioria dos meus dias, trabalhei com pessoas com dificuldades na área da visão e, após o ano 2000, dando aula, de metodologia trabalhada na área da deficiência visual em pós-graduação, para professores. Também trabalhei em outras áreas como técnica social rural na empresa paranaense Acarpa, Emater, de 1980 a 1985. Foi um tempo muito bom. Só tenho a agradecer por tudo que Deus me proporcionou na vida, tanto na área de trabalho, como no testemunho da minha fé em Jesus.

Fui casada com Antonio por quem orei para que se convertesse durante 47 anos, e que foi passageiro de último vagão, aceitando a Jesus no leito de hospital nos seus últimos dias de vida. Hoje sou viúva. Tive um casal de filhos. Minha filha mais velha mora em Orlando, na Flórida, e tem quatro filhos e um neto. Meu filho mora em Londrina, e tem duas filhas. Então, sou uma viúva com cinco netos e um bisneto.

Nasci e fui criada em uma família cristã. Minha mãe foi quem ensinou a cada uma das cinco filhas que apesar dos desertos, a fé nos mantém perto de Deus e nos seus caminhos.

Depois de concluir minha formação no curso Clássico e Magistério fui para São Paulo, capital, para estudar e trabalhar. Morei no bairro Perdizes e quando comecei a frequentar a Igreja Batista em Perdizes Humberto Viegas Fernandes era o pastor. Fiz parte do corpo docente do Colégio Batista Brasileiro.

Sempre trabalhei dentro das igrejas que frequentei, mas minha experiência pessoal com o Senhor Jesus foi na Igreja Batista em Perdizes, durante  uma pregação sobre o atalaia feita pelo pastor visitante Ivenio dos Santos. Deus me disse claramente que saísse do lugar onde estava sentada e fosse para frente porque era comigo que estava falando. E eu obedeci, o que foi surpresa para todos, pois eu trabalhava na igreja em vários departamentos e naquele dia recebi a Jesus como meu Senhor e Salvador. Meu batismo foi uma festa, colocaram água quente no batistério e as senhoras da igreja levaram chocolate quente pois aquele dia estava bem frio.

Passei por vários desertos e Deus foi modificando minha vida. Não sou perfeita e Ele trabalha a minha vida da maneira que lhe apraz.  Como o este texto é endereçado aos 60 +, me sinto em casa para escrever. Creio que Deus tem um plano para cada um de nós, como é descrito em sua Palavra: e que ele escreveu sobre nossos dias, antes mesmo que fôssemos formados (Sl 139.16). Creio também que seus propósitos para cada um de nós estão baseados em seu amor, e que através do livre arbítrio que Deus nos dá, muitas vezes, saímos desse propósito porque achamos que podemos resolver tudo sozinhos, e que não precisamos mais do Senhor. Ledo engano, pois, esquecemos que Deus é Deus de relacionamento e que tem prazer em nos ouvir e falar conosco, como sempre tivemos prazer em ouvir nossos filhos. Esquecemos que quando aceitamos a Jesus ganhamos uma família pela qual fomos adotados e temos uma herança junto com Jesus. Creio também que para Deus não há idade para que ele nos coloque dentro de seus planos, pois quando lemos sua Palavra, entendemos que chamou a muitos apesar da idade avançada. Sua palavra nos orienta a remir o tempo que estamos vivendo aproveitando para testemunhar que Jesus é o dono da nossa vida e que devemos viver esse tempo da melhor maneira possível.

Sei que muitas pessoas depois de certa idade não sonham com mais nada e acham que a vida já está no fim, mas a última palavra é do Senhor, só ele sabe os planos que tem a nosso respeito, planos de bem e não de mal para nos dar o fim que desejamos (Jr 29.11). Sabemos que as promessas de Deus são muitas e que nada pode mudar os planos que ele tem para nós. Devemos aproveitar com alegria a bênção da vida. Devemos crer em suas palavras, em suas promessas.

Sinto-me honrada em poder colaborar com Ultimato. Li muitos testemunhos enriquecedores de vida na revista.

Atualmente frequento a 1ª Igreja Presbiteriana de Londrina, uma igreja em células onde fui participante de uma célula protótipo, depois líder de célula e já há alguns anos supervisora de células. Nesta  igreja, ouvi a voz do Senhor durante um culto de terça-feira, na Tarde da Esperança, mandando que eu abrisse uma Bolsa de empregos para colocação no campo de trabalho os que estavam desempregados, e assim o fiz por sete anos. Uma psicóloga, a mesa diaconal e eu montamos vários cursos profissionalizantes e encaminhamos muitos ao mercado de trabalho. Depois, foi montado o Instituto Esperança, que existe até hoje, englobando outros trabalhos.

Deus me deu graça e escrevi alguns livros devocionais como: Sementes de Fé, (durante um dos desertos da vida); Palavra: passaporte para uma Vida Abundante, (com o qual aprendi que só a palavra de Deus cura a nossa alma e nos dá alívio e alegrias), e Se forte e corajoso (também em meio a outro deserto). Em meio a tudo isso, fui e estou sendo forjada para o novo de Deus, o qual espero com coragem e ousadia e dou graças e glorifico o seu nome por tudo.

Quando relembro minha caminhada, vejo que só consegui chegar até aqui porque dependi de Deus. Me agarro às suas mãos todas as manhãs, pois sei que meu Redentor vive e que sem ele não sou nada e não irei a lugar nenhum. Todos os dias digo: “Com meu Deus eu salto muralhas”.

Elisa Maria Ferraz Arruda, 80 anos, membro da 1ª Igreja Presbiteriana Independente de Londrina, PR.

Imagem: Edson Porto Fassoni. @efassoni.

Atualizado em 27 de janeiro de 2025.

No silêncio da noite

Por Wilfried Körber

Não é sem motivo que Deus programou as noites. É nas noites que há momentos quietos, sem agitação, em que Ele consegue falar conosco. Não, que não use também outros momentos, mas é nas noites, e principalmente na vida dos idosos, que Deus dá o seu “Alô”. É minha experiência. Melhor ainda seria dizer que é nas madrugadas.

Os versos 1 a 9 do Salmo 77, de Asafe, falam de momentos de grande tristeza durante a noite, mas depois do verso 11 o texto muda o foco, e somente coisas boas vêm à memória do salmista. Já o Salmo 92 começa diferente: “Bom é render graças ao SENHOR e cantar louvores ao Teu nome, ó Altíssimo, anunciar de manhã a Tua misericórdia, e, durante as noites, a Tua fidelidade.” Esclarecedor é o Salmo 30.5 que diz: “Porque não passa de um momento a Sua ira; o Seu favor dura a vida inteira. Ao anoitecer pode vir o choro, mas a alegria vem pela manhã.”

Por muito tempo não me era simpático o pensamento de que o meio da noite é um bom momento de oração. Durante a noite quero dormir, e meu pensamento tem preguiça. Contudo, ultimamente, devido à idade, fico muito tempo acordado durante a noite, e percebo que estes momentos são bons para falar com Deus. Tanto que, agora, o meu despertador toca na hora determinada, bem cedo, para a oração e tenho tido momentos maravilhosos de comunhão com Deus. Na madrugada.

Os motivos para se dormir mal, podem ser vários, mas com certeza, nenhum deles merece atenção. Uma situação difícil não vai mudar porque fico acordado. Ao acordar, lembro-me que o melhor a fazer é buscar contato com Deus, meu Pai. Ele nunca deixará de me atender.

Um conselho simples e sem filosofia: Quando acordo e não consigo dormir novamente, faço um programa para o dia de amanhã, pedindo a orientação de Deus. Pronto, Vou acordar no dia seguinte. Obrigado, SENHOR

  • Wilfried Körber nasceu em Göttingen na Alemanha em 1931 e vive no Brasil desde 1937. Converteu-se aos 16 anos na então Igreja Alemã Batista Zoar, frequentada por sua mãe. Membro fundador da Igreja Batista Filadélfia de São Paulo, envolveu-se com o trabalho de evangelização de crianças e missões, com sua esposa Gisela, de saudosa memória. Há mais de uma década escreve textos para o devocionário Presente Diário. Atualmente vive em Sorocaba, SP. @lampadaparaosmeuspes_.
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O cuidado com os idosos vai além das tarefas diárias, envolvendo um profundo respeito, amor e diálogo

Entrevista com Adriana Saldiba

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Ao valorizar as pessoas idosas, a igreja ajuda as diferentes faixas etárias a enxergarem a velhice como algo bom e cria um alicerce comunitário importante para o envelhecimento ativo e saudável

Adriana Saldiba, nutricionista e doutora em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, traz à tona uma perspectiva sobre o processo de envelhecimento.

Casada com o Rev. André Saldiba e mãe de três filhos, sua dedicação se estende não apenas à sua família, mas também ao ensino e à pesquisa como coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Envelhecimento na Universidade São Judas Tadeu. Além disso, Adriana lidera a REPRINTE, uma rede nacional de programas interdisciplinares sobre envelhecimento.

Conversamos com Adriana sobre o papel dos valores cristãos no cuidado com os idosos, os desafios enfrentados pelas famílias e a importância da comunicação intergeracional. Ela compartilha preciosos ensinos sobre como a fé pode fortalecer as famílias diante dos desafios do envelhecimento e como a esperança na vida eterna influencia a forma como os cristãos encaram esse processo inevitável.

Adriana nos conduz por uma jornada de reflexão, destacando a importância da autonomia e independência das pessoas idosas, bem como a necessidade de uma rede de apoio familiar sólida para promover um envelhecimento ativo e saudável. Ela nos convida a explorar como as igrejas e comunidades religiosas podem desempenhar um papel vital no apoio às famílias que cuidam de membros idosos, incentivando práticas intergeracionais e a valorização das pessoas idosas dentro desses espaços.

Por meio de suas experiências e conhecimentos, ela nos mostra que o cuidado com os idosos vai além das tarefas diárias, envolvendo um profundo respeito, amor e diálogo dentro da família. Sua visão nos inspira a repensar nossas abordagens ao envelhecimento e a reconhecer o valor intrínseco de cada indivíduo em todas as fases da vida.

Confira a seguir.

Como os valores cristãos influenciam a maneira como as famílias lidam com o envelhecimento de seus membros?

A família é uma rede de apoio fundamental para a garantia de um envelhecimento saudável. Valores cristãos que permeiam as famílias podem gerar um ambiente de amor, de alegria, de respeito, de honestidade, de gratidão, de paciência, de solidariedade e de lealdade às pessoas idosas para que possam usufruir de um envelhecimento ativo com total autonomia.

Diversos trabalhos têm evidenciado que um envelhecimento ativo garante uma melhor qualidade de vida do processo de envelhecer.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2005), “o envelhecimento ativo é o processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas”.

A palavra “ativo” refere-se à participação contínua nas questões sociais, econômicas, culturais, espirituais e civis, e não somente à capacidade de estar fisicamente ativo ou de fazer parte da força de trabalho.

Quais são os desafios mais comuns ao lidar com membros idosos?

Manter a autonomia e a independência das pessoas idosas é um grande desafio! Isso deveria ser uma meta de todos e envolve amigos, colegas de trabalho, vizinhos e membros da família.

A autonomia refere-se à capacidade de uma pessoa controlar, lidar e tomar decisões pessoais sobre sua vida diária, de acordo com suas próprias regras e preferências.

Por outro lado, independência é geralmente definida como a capacidade de realizar atividades relacionadas à vida diária sem depender significativamente da ajuda de outras pessoas, permitindo viver de forma autossuficiente na comunidade.

A qualidade de vida, por sua vez, é definida como a percepção que um indivíduo tem de sua posição na vida, considerando sua cultura e sistema de valores, além de seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações.

Este conceito abrangente incorpora diversos aspectos, como saúde física, estado psicológico, nível de dependência, relações sociais, crenças e interação com o ambiente.

À medida que uma pessoa envelhece, sua qualidade de vida está fortemente ligada à sua capacidade de manter autonomia e independência.

Isso significa que preservar a habilidade de tomar decisões pessoais, realizar atividades cotidianas e permanecer engajado na comunidade são aspectos cruciais para promover uma boa qualidade de vida na velhice.

Na perspectiva cristã, como a noção de honrar pai e mãe se aplica ao cuidado dos idosos na família?

Quando honramos nossos pais e nossas mães, nós incentivamos as crianças a valorizarem, a respeitarem e a cuidarem com amor e carinho das pessoas idosas.

O processo de envelhecimento é algo inerente a todos os seres humanos. A partir do momento que nascemos, já começamos a envelhecer a cada dia. Falar sobre envelhecimento precisa ser algo natural. “A criança de ontem é o adulto de hoje e o avô ou avó de amanhã”.

A qualidade de vida das pessoas idosas quando se tornarem avós é influenciada não apenas pelas experiências e pelos desafios enfrentados ao longo da vida, mas também pela forma como as gerações futuras fornecerão assistência e apoio uns aos outros, quando necessário.

Como a comunicação entre diferentes gerações dentro da família pode facilitar o processo de envelhecimento e a aceitação da ajuda?

A família deve ser o espaço de valorização da pessoa idosa, no qual avôs e avós brincam, contam histórias e cozinham com os netos e com as netas.

Além disso, avós e avôs devem ter autonomia para tomar as suas decisões e ser respeitados por todos da casa.

Isso fortalece a habilidade das pessoas idosas de tomar suas decisões e realizar as suas atividades cotidianas, garantindo assim um envelhecimento ativo e saudável.

Crianças que convivem com pessoas idosas tendem a desenvolver, quando adultas, uma escuta atenta às pessoas idosas, respeitando as suas queixas, as suas trajetórias de vida, seus medos, suas inseguranças, sua história!

Quais são os benefícios de envolver toda a família no cuidado e apoio aos membros idosos? Como podemos promover essa colaboração familiar?

A capacidade funcional de um indivíduo determina sua habilidade de realizar atividades do dia a dia, podendo ser classificado como dependente, quando necessita de auxílio, ou independente, quando consegue realizar essas atividades sem ajuda externa.

O comprometimento da capacidade funcional ocorre quando o indivíduo encontra dificuldades em realizar as atividades cotidianas, o que está associado a um maior risco de fragilidade, dependência, institucionalização, quedas, problemas de mobilidade e até mesmo mortalidade.

Essas complicações podem resultar em cuidados de longo prazo e custos elevados.

É fundamental que a família das pessoas idosas esteja bem-informada sobre a importância de incentivar a realização das atividades básicas diárias das pessoas idosas, como tomar banho, se vestir, se alimentar, além do incentivo à ações mais amplas e complexas, como a realização de compras para a família, uso do telefone, uso de meio de transportes, entre outras atividades.

Muitas vezes, a imobilidade na velhice é incentivada pela família, como uma forma de cuidado à pessoa idosa, mas. pelo contrário, o melhor cuidado à pessoa idosa é incentivá-la a ter autonomia e independência.

É essencial que a família esteja consciente do seu papel crucial no estímulo à independência e à autonomia da pessoa idosa, promovendo assim uma melhor qualidade de vida e prevenindo complicações associadas à perda de capacidade funcional.

Como as igrejas e comunidades religiosas podem desempenhar um papel importante no apoio às famílias que cuidam de membros idosos?

O rompimento de laços sociais e a perda de familiares podem levar a pessoa idosa à solidão.

O isolamento social e a solidão na velhice estão ligados a um declínio de saúde física e mental.

A igreja tem um papel de acolher as pessoas idosas e as famílias que promovem essa rede de apoio.

Atividades intergeracionais, espaço de fala e de escuta, incentivo ao voluntariado das pessoas idosas podem ser estratégias sólidas para a igreja inibir o ageísmo e o capaciticismo, e trazer a valorização das pessoas idosas.

A comunidade de fé pode também promover um aprofundamento dos valores cristãos entre os seus frequentadores para fortalecer a rede de suporte social das pessoas idosas e, consequentemente, garantir um envelhecimento saudável.

A igreja, ao valorizar as pessoas idosas, engaja diferentes faixas etárias da comunidade a enxergar a velhice como algo bom e cria um alicerce comunitário importante para o envelhecimento ativo e saudável.

O conceito de família na perspectiva cristã é amplo e inclui não apenas os laços sanguíneos, mas também os relacionamentos espirituais. Como isso se reflete no cuidado dos idosos dentro das comunidades cristãs?

O apoio familiar desempenha um papel crucial na preservação da saúde física e mental do indivíduo.

Quando percebido como disponível e satisfatório, ele beneficia tanto quem o recebe quanto quem o oferece dentro da família.

Por isso, compreender o contexto familiar é essencial para um planejamento assistencial adequado às pessoas idosas, envolvendo uma compreensão das dinâmicas e estruturas familiares.

A família é um sistema dinâmico que busca promover o desenvolvimento emocional e a liberdade do indivíduo no mundo.

Em situações de disfuncionalidade, a capacidade de fornecer cuidados pode ser prejudicada, o que impacta negativamente na independência, autonomia e qualidade de vida das pessoas idosas.

A falta desse suporte familiar pode levar a problemas psicológicos e afetivos, levando a sérias complicações de saúde física, mental e social da pessoa idosa.

Como a esperança e a promessa da vida eterna influenciam a maneira como os cristãos encaram o envelhecimento e a morte?

O fato de termos esperança na vida eterna pode trazer sentido e significado à morte e nos incentiva a deixar um legado, uma marca significativa à outras gerações.

Essas convicções podem nos auxiliar a experimentar um envelhecimento ativo pleno, repleto de autonomia e independência com participação pertinente nas questões sociais, econômicas, culturais e espirituais mesmo durante a velhice.  

Você poderia compartilhar exemplos de famílias que encontraram força e consolo em sua fé ao lidar com os desafios do envelhecimento de seus entes queridos?

Nos desafios para cuidar das pessoas idosas, não há uma “receita de bolo” ou um guia prática com o passo a passo. Cada família tem a sua dinâmica e o seu jeito singular.

Famílias que respeitam e valorizam a autonomia das pessoas idosas, que estimulam o diálogo acolhedor e atento, também têm conversas difíceis, mas pautadas no amor, no perdão, no respeito e no cuidado um do outro, podendo, dessa maneira, encontrar um caminho saudável diante dos desafios diários do envelhecimento.

Acertos mais comuns da família com pessoas idosas

  • Famílias que escutam e valorizam as pessoas idosas da casa.
  • Crianças que entendem a importância da pessoa idosa na família.
  • Avôs e avós que brincam, contam histórias e cozinham com os netos e com as netas.
  • Famílias que dialogam muito, têm conversas difíceis também, mas pautadas no amor, no respeito e no cuidado um do outro.
  • Avós e avôs que têm autonomia para tomar as suas decisões e são respeitados por todos da casa.

Saiba mais:

Aposentar não é deixar de ser produtivo, por Robert Koo

Segunda carreira e missões, por Adécio da Silva Corrêa

Estão abertas as inscrições para o 4º Encontro do MC 60+

Estão abertas as inscrições para o 4º Encontro do MC 60+

Com o tema “É tempo de colher, mas ainda é tempo de plantar”, o 4º Encontro Nacional do Movimento Cristão 60+ quer ajudar os participantes a refletirem sobre como nesta faixa de idade é possível desfrutar dos frutos cultivados ao longo da vida nas diferentes áreas, a descobrir novos papeis e a despertar novas aspirações para o serviço ao Reino de Deus.

Seguindo os três pilares do MC60+ (integração na Igreja, segunda carreira e auto cuidado), as reflexões serão desenvolvidas a partir destes subtemas: Novos papeis na igreja, Novas oportunidades de trabalho e Nova maneiras de cuidar de si, por meio de devocionais e reflexões bíblicas, palestras, mostra de  oportunidades e boas práticas, cânticos, troca de experiências.

Para este encontro são convidadas pessoas com 60, 70, 80 ou mais anos, aposentados ou não, e lideranças evangélicas que já têm ministérios com os 60+ ou que desejam criar iniciativas a eles direcionadas, conhecendo melhor as suas necessidades e aptidões.

E a boa notícia é que estão abertas as inscrições.

Clique aqui ou acesse o QR Code ao lado e inscreva-se.

O Movimento Cristão 60+ é formado por um grupo de cristãos com diferentes experiências  rofissionais e eclesiásticas que buscam compartilhar a visão de que mesmo na terceira idade podemos servir a Deus  com vigor e entusiasmo, dispondo nossas experiências e habilidades anteriormente adquiridas a serviço do Reino, por intermédio de iniciativas individuais ou coletivas de apoio e cuidado integral a indivíduos, familiares e comunidades; engajamento em projetos eclesial, social, educacional, cultural e ambiental.

A base bíblica que os norteia é o Salmo 92.2-15.

Serviço:

4ª Encontro Nacional do Movimento Cristão 60+ (MC 60+)

Quando: 23 a 25 de setembro de 2024

Onde: Estância Árvore da Vida, em Sumaré, SP

Inscreva-se aqui.

Clique aqui e conheça o programa do 4º Encontro

A oração deste idoso

“Não me rejeites na minha velhice; quando me faltarem as forças, não me desampares… Não me desampares, pois, ó Deus, até à minha velhice e às cãs…” (Salmo 71.9 e 18)

Por Kléos M. Lenz César

Senhor, fui moço e agora sou velho… e não posso evitá-lo. Aceito o envelhecimento do corpo como uma situação normal, mas peço-te que não me deixes envelhecer no espírito. Renova a minha mente dia após dia.

Senhor, fui moço e agora sou velho… e já aprendi muitas coisas, mas quero continuar aprendendo sempre. Abre os meus olhos para perceber o que ainda não percebi. Ensina-me coisas novas.

Senhor, fui moço e agora sou velho… mas quero conservar o amor à minha família, ao próximo, aos meus amigos, aos meus irmãos em Cristo, a todos aqueles que me rodeiam. Preserva em mim esse amor e torna-o cada dia mais intenso.

Senhor, fui moço e agora sou velho… mas ainda tenho projetos de vida. Quero trabalhar por ti enquanto aqui viver. Torna esses projetos uma realidade em minha vida. Dá-me forças e entusiasmo para realizá-los.

Senhor, fui moço e agora sou velho… mas recuso-me ser achado na “antessala da morte”. Não quero ser encontrado na “fila dos pré-mortos”. Enquanto conservares a minha vida, mantém-me a cabeça erguida, enche-me de otimismo, entusiasmo e vida.

Senhor, fui moço e agora sou velho… e assumo a minha ancianidade; entretanto, não quero absorver os chamados “complexos de velhice”. Eles me humilham e me fazem um pessimista depressivo. Livra-me deles.

Senhor, fui moço e agora sou velho… e às vezes sinto medo do futuro, da enfermidade, da solidão, da viuvez e da morte. Ajuda-me a não me preocupar com essas possibilidades. Ajuda-me a não ser hipocondríaco. Ajuda-me a fixar meu olhar em Jesus e a apropriar-me de suas virtudes. Ajuda-me, dia após dia, a ter vivas em minha mente suas lindas e maravilhosas promessas.

Senhor, fui moço e agora sou velho… e, embora às vezes a vida me seja difícil, não tenho queixas de ti. Tu me tens sustentado desde o ventre de minha mãe, “a substância ainda informe”, e sei que o farás até o momento de minha partida. Sustenta esta minha fé. Não permitas que ela se abale, qualquer que seja a circunstância que eu tenha de enfrentar.

Senhor, fui moço e agora sou velho… mas tenho uma família encantadora. Estão todos nos teus caminhos, servindo-te em suas profissões. Minha esposa é uma companheira dedicada, que caminha comigo nesta nova etapa da vida. Meus filhos são amáveis e solícitos por mim. Estão todos ativos em tua Igreja. Ajuda-me sempre a amá-los e a valorizar o seu carinho.

Senhor, fui moço e agora sou velho… e não sei o número dos dias que me restam, e nem quero saber. Entreguei-te o meu relógio, e não o quero de volta. Não desejo existir nem mais nem menos um dia além ou aquém daquele que predeterminaste para mim. Mas quero que me ajudes a viver intensamente enquanto não chegar a minha hora.

Senhor, fui moço e agora sou velho… e não devo estar muito distante do céu. Alegra-me sempre pensar que, quando os meus olhos se fecharem, minha alma estará contigo para todo o sempre. Ajuda-me, Senhor, a aguardar esse dia em plena confiança e tranquilidade.

Senhor, fui moço e agora sou velho… mas ainda sinto alegria de viver porque sei que Tu estás comigo, que és o meu pastor, que nada me faltará, e que me fazes repousar em pastos verdejantes, junto das águas de descanso. Ajuda-me a continuar um velho alegre e feliz.

Senhor, fui moço e agora sou velho… mas, enquanto viver, quero honrar o teu nome. Se, por acaso, eu vier a fracassar, leva-me para junto de ti, antes do fracasso.

Por Jesus Cristo, Senhor de todas as idades, meu Salvador, amém.

Kléos Magalhães Lenz César, foi professor de poimênica e hiperetologia no Seminário Teológico Presbiteriano do Rio de Janeiro por 6 anos. Foi pastor e professor de música no Instituto de Educação Clélia Nanci, em São Gonçalo, RJ.

Texto publicado originalmente no livro Fui Moço, Agora Sou Velho… E Daí?, Editora Ultimato.

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Engata Terceira, um programa do Águias de Cristo

Por Elias Bispo

Há quase 30 anos, por iniciativa do Rev. Edijéce Martins Ferreira, pastor emérito da Igreja Presbiteriana da Madalena, em Recife, PE, foi organizado o Ministério da Terceira Idade, denominado Águias de Cristo.

Dia das Mulheres

As programações do Águias de Cristo são diversificadas e abrangem aspectos espirituais, evangelísticos, missionários, culturais, musicais, esportivos e recreativos, buscando-se a interação intergeracional e com outros ministérios da comunidade.

Essas atividades foram interrompidas em decorrência do distanciamento social imposto pela pandemia da Covi-19, ensejando o desenvolvimento do Programa de Assistência a Terceira Idade, Engata Terceira.

Foram consideradas algumas linhas mestras como consolidação da cosmovisão cristã, assistência espiritual e material, manutenção das amizades, estilo de vida saudável e, na medida do possível, com a flexibilização das regras de isolamento, o retorno à igreja.

Culto da Terceira Idade

A população idosa da Madalena é composta por cerca de 130 idosos, com idades entre 60 a 100 anos, sendo 89 mulheres e 41 homens, distribuídos nas seguintes faixas etárias:

  • 90 – 2 idosos
  • de 80 a 89 – 25 idosos
  • de 70 a 79 – 44 idosos
  • de 60 a 69 –  59 idosos

O Engata Terceira exigiu a elaboração de um plano de ação que possibilitasse a assistência com base nas seguintes premissas:

  1. Mobilização dos irmãos interessados em participar da ação de várias faixas etárias, em especial os mais jovens;
  2. Fazimento de pelo menos um contato mensal com todos os idosos;
  3. Realização de contatos por telefone com o objetivo de se atingir toda a população de idosos;
  4. Remessa de mensagens físicas a essa membresia, que corresponde a 25% da comunidade;
  5. Fazê-los se sentir prestigiados e não esquecidos pela igreja, comemorar o Dia do Idoso;
  6. Levantar as necessidades dos contatados, com consolidação e repasse das informações ao Conselho e Junta Diaconal, quando necessário.
Atividade laboral

Passada a pandemia, o Águias de Cristo retornou as suas atividades com muita força, colhendo-se bênçãos como a manutenção da identidade do grupo, a abertura de um diálogo intergeracional entre aqueles que participaram do projeto; comunhão entre os idosos e os jovens; o resgate do sentimento de pertencimento a comunidade; a alegria de sentir integrante do Corpo de Cristo.

Elias Bispo é contador, atua na área financeira há 44 anos, educador financeiro, servidor público, casado com Mércia (psicóloga) há 42 anos, um casal de filhos, três netos, presbítero na Igreja Presbiteriana Madalena.

Não tenho medo da morte

Thomas Hahn escreve com o coração sincero este depoimento na “última idade”. Com 88 anos, ele celebra as dádivas de Deus e a igreja em que está inserido – mesmo em meio a muitas dificuldades. 

A Igreja de Cristo tem um mandato muito especial. Fundada e encabeçada por Jesus, que vive e reina para sempre, ela encontra sua razão de ser na formação de discípulos imitadores de Cristo. É neste contexto que gostaria de relatar minha experiência com a igreja da qual sou membro – por coincidência, desde que me tornei idoso.

É difícil precisar o momento em que nos tornamos idosos. Está mais para processo do que para momento. A parte física foi mais definida? Primeira cirurgia de coluna aos 72, a segunda aos 75, resultando em perda definitiva da capacidade de andar. Aos 76, aposentei-me do meu trabalho como corretor de seguros. Alguns anos depois, um erro médico prejudicou minha capacidade de ler: hoje me limito a poucas páginas diárias com o auxílio de lupa. Dirigir, não mais, à exceção da minha rua, que tem supermercado, farmácia – e, a cereja do bolo, minha igreja, a 200 metros do meu condomínio.

As vicissitudes da nossa economia conseguiram reduzir minha aposentadoria de uma zona de relativo conforto para um salário mínimo. Idem para minha esposa. Minhas contas – ah, como eu gostaria de reduzir meus gastos farmacológicos! – são custeados por meus filhos; é claro, portanto, tenho que controlar da melhor forma possível o que, quanto e como gasto.

Sou, então, um exemplo acabado de um idoso dependente, que passa a maior parte do tempo sentado em casa. E aí vem a surpresa: não estou deprimido – pelo menos não mais do que o justificado pelo noticiário do jornal! Por que será?

Em primeiríssimo lugar, porque pela bondade de Deus, tive, como primeiro efeito da minha conversão aos 38 anos, a perda de qualquer medo da morte. A vida eterna é uma realidade que se enraizou no meu ser – e esta lição aprendi na igreja, no ensino bíblico.

Minha convicção foi testada duas vezes com paradas cardíacas, nenhuma das quais me deixou com sequelas de ansiedade quanto à duração da minha vida. Conclusão: tenho vivido minha terceira (e última) idade sem medo da morte, sem angst, sem sofrimento espiritual, mesmo que severamente cerceado em possíveis atividades.

Como consequência desta minha fé, conversei com meu Deus, nos seguintes termos: “Não estou reclamando, ou me queixando, mas, para ser bem sincero, eu não estou curtindo ficar por aqui, só aguardando meu nome ser chamado. Mal posso esperar pelo que tens preparado para mim. Então, eis o que proponho: eu topo ficar por aqui, desde que possa, de alguma maneira, servir-te, servir ao teu Reino. Pode ser?” Creio que Deus aceitou esta proposta meio idiota, feita há uns 15 anos. Na minha igreja preguei, toquei piano, criei um grupo de homens, aconselhei, ministrei à solidão dos pastores – e, em dezembro de 2023, sem ter o menor preparo formal, fui ordenado pastor da igreja! Igreja Batista, ainda por cima – e tem crente por aí que não crê em milagres… E tudo ocorreu dentro das minhas limitações físicas.

É bem verdade que a atitude da igreja para com minha faixa etária teve muito a ver com sua visão, sua maneira de ser. Não estamos engajados em crescimento numérico, excelência, show-business e outras métricas pelas quais várias igrejas se pautam. Reforçamos, sempre que podemos, nossa identidade como família: irmãos e irmãs, filhos do mesmo Pai. Sou irmão mais velho, mas irmão, não um ET. Existe respeito – mas aí, tem que ser mútuo, não é?

Thomas Hahn e Christine

Conclusão: A Igreja tem uma parcela importante de contribuição para o bem-estar espiritual do idoso. Primeiro, criando uma cultura de inclusão; segundo, cuidando do ensino quanto à morte e vida eterna do crente. E ao crente, cabe se colocar à disposição de Deus para sua obra, confiantes num Deus que conhece nossas limitações. Ser aposentado da fé é privar-se da vida!

Thomas Hahn, 88 anos, casado com Christine há 60, pastor da Igreja Batista da Granja Viana, em Cotia, SP.

Crédito da imagem: Unsplash

O Grupo 60+ na Igreja Batista da Redenção em Belo Horizonte, MG

Autocuidado, cuidado mútuo, aceitação, segunda carreira, conexões

Os 60+ em movimento

Por Xênia Marques Lança de Q. Casséte

Logo após a fundação do Movimento Cristão 60+ (MC 60+) em 2022, alguns membros da Igreja Batista da Redenção (Redê), em Belo Horizonte, MG, apresentaram o Movimento para o Colegiado de pastores e receberam todo apoio para a criação do Grupo 60+ na igreja. A estratégia foi convidar os interessados a estudarem juntos, dentro do programa de capacitação da igreja, o Escola de Cristo, o livro Aprender a Envelhecer, do médico-psiquiatra cristão, Paul Tournier, publicado pela Editora Ultimato. O grupo foi composto por dezessete pessoas que se encontraram presencialmente sete vezes, no primeiro semestre de 2023, para fazer estudos que proporcionaram excelente aprendizado, edificação e comunhão.

Desde então, o movimento 60+ se tornou conhecido pela comunidade da Redê e os mais jovens já estão cientes de que aprender a envelhecer deve começar bem antes da velhice.

Um grupo de jovens casais, liderados pelo pastor Luiz Felipe também estudou o livro de Tournier, em 2023.

E neste ano, o Grupo 60+ da Redê tem programado atividades para incluir toda a comunidade e outras pessoas que se interessarem, seguindo a missão do MC 60+, que é “impulsionar os 60+, aposentados ou não, a desenvolverem uma segunda carreira e o autocuidado, a continuar a dar frutos ao longo do processo de envelhecimento”. Inspirado no livro Aprender a Envelhecer, o grupo vai trabalhar seguindo as áreas de autocuidado, cuidado mútuo, aceitação, segunda carreira, conexões.

A partir das conversas do grupo foram definidas as atividades para 2024, que incluem palestras e rodas de conversa com profissionais da saúde integral, do direito, fisioterapia preventiva, passeios e visitas a espaços culturais e naturais, viagens, sessões de cinema, encontros intergeracionais na comunidade de fé, oficinas de arte, culinária nutritiva, visitas domiciliares e a hospitais, encontros informais e estudos de livros, que já estão acontecendo neste primeiro semestre: A Missão da Mulher e Aprender a Envelhecer, ambos de Paul Tournier.

Visando ao autocuidado, está agendada para o mês de maio, a participação de dois psicólogos, membros da Redê, que farão uma palestra e, em seguida promoverá uma roda de conversa com os presentes. O grupo 60+ da Redê está muito unido e motivado, compreendendo a realidade político-social e econômica, a promover melhor compreensão da velhice e seguir olhando para Jesus dando frutos também nesta estação da vida.

Xênia Marques Lança de Q. Casséte, jornalista, faz parte da equipe do Coletvo Bereia de Checagem de Notícias e é voluntária do Movimento Cristão 60+.

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Oportunidades de Envolvimento em Ações Missionárias e Sociais

O movimento cristão 60+ tem participado das seguintes ações missionárias e sociais as quais recomendamos e podemos indicar formas de envolvimento.

Cristolândia

Ação missionária da Junta de Missões Nacionais em vários estados do Brasil, focada principalmente em dependentes, encarcerados e moradores de rua, visando sua transformação integral, através de acolhimento, discipulado, socialização, profissionalização e integração na sociedade.

Nosso envolvimento: suporte espiritual e material, visita e encorajamento. Ajudar na inserção dos acolhidos na sociedade.

ACEV – Ação Evangélica

Missão que atua principalmente no sertão nordestino, na implantação de igrejas, também em ações sociais, através da perfuração de poços artesianos, plantação comunitária, projeto de saneamento com construção de banheiro e criação de galinhas e cabras para sustentabilidade nas áreas mais carentes do Brasil.

Nosso envolvimento: suporte espiritual e material, visitas e participação efetiva na obra. Participar do planejamento e na execução do projeto.

Seminário Teológico Betel Brasileiro

Uma das mais tradicionais instituições de educação teológica e missiológica, com sede em João Pessoa e campus espalhados no Brasil, que alia ensino teológico de excelência com espiritualidade, com uma mensalidade baixa, permitindo acesso às pessoas de todas faixas sociais, contribuindo para edificação da Igreja.

Nosso envolvimento: auxílio na gestão financeira, com suporte financeiro, bolsa de estudo, busca da autossustentabilidade da instituição tanto na sede, em João Pessoa, como no seu campus em São Paulo.