O papel dos avós na família

Por Gilson Bifano

Como os avós podem ajudar e abençoar os pais de seus netos e os netos hoje?

Um dia desses um avô, um tanto preocupado, procurou-me o compartilhou suas preocupações em relação ao comportamento de um de seus netos.

O menino, de nove anos, segundo a visão do avô, passava muito tempo na internet.

Na conversa, procurei levar o avô preocupado a algumas reflexão e como agir na situação exposta.

Em que sentido o avô poderia ajudar o neto? Deveria chamar a atenção dos pais de seu neto?

Em que sentido os avós podem ajudar os pais de seus netos nesta e em outras questões?

Na minha conversa procurei alistar as responsabilidades e o papel dos avós na família.

Em primeiro lugar, uma grande contribuição que os avós podem dar à família é dedicar tempo a oração.

Orar para que os pais de seus netos tenham sabedoria para criar os filhos nestes dias tão difíceis.

Orar para que os pais de seus netos saibam eleger as prioridades da vida.

Podem orar pela vida espiritual dos netos para que os mesmos façam uma decisão verdadeira por Cristo.

Em segundo lugar, Deus coloca os avós na família para que os mesmos passem o legado para as gerações futuras.

Falei ao avô preocupado que, durante o tempo em que neto passasse com ele, deveria dedicar tempo para conversar, contando, por exemplo, histórias da família, mostrando fotografias, contando histórias bíblicas e tantas outras coisas importantes na relação avós e netos.

Em terceiro lugar, os avós são importantes porque tem mais experiência da vida e podem ajudar os pais mais novos neste grande desafio que é educar crianças nos dias de hoje.

Avós podem, com sabedoria, conversar com os pais de seus netos sobre suas observações.

A atitude seria a mesma praticada por Jetro em relação ao genro Moisés.

Acho muito interessante a fala de Jetro quando disse: “não é bom o que fazes” (Êx 18.17).

Em nenhum momento Jetro desqualificou seu genro Moisés ou reprovou seu comportamento.

Embora este texto seja muito aplicado à liderança cristã, o princípio pode ser aplicado de um modo geral.

O avô preocupado foi orientado a ter um conversa amistosa e respeitosa com sua filha e genro e externasse suas preocupações, mas deixando sempre as decisões por conta deles.

Somente em circunstância muito especiais os avós devem assumir a responsabilidade de educar os netos. Esta responsabilidade é dos pais. Por mais que os avós percebam qualquer inadequações, não devem interferir, apenas, com sabedoria, conversar e aconselhar os pais de seus netos.

Muitas vezes ouvimos que os avós estragam os netos. Embora isto esteja no dito popular, não deve ser a realidade na relação com os netos.

Avós não devem desqualificar ou tirar a autoridade dos pais e nem contradizer os ensinamentos passados por eles aos seus netos.

Pode, sem nenhuma dificuldade, ser flexíveis e tolerantes, mas sem danificar os princípios disciplinares passados pelos pais.

Avós podem ser canais de bênçãos para seus netos, tal como Jacó foi para Efraim e Manassés (Gn 49).

Se os avós cristãos forem sábios, tementes a Deus, pacientes e conselheiros serão, nos dias de hoje, canais de bênçãos para seus descendentes, tal como Jacó.

Para refletir:

1 – Que avó ou avô, na Bíblia, você mais admira? Por quê?
2 – Como os avós podem abençoar os netos hoje?

Gilson Bifano, escritor e palestrante na área de casamento e família. Coach de casais e famílias.

Artigo publicado originalmente no site do Ministério Oikos. Reproduzido com permissão do autor.



Envelhecimento global da população

Por Jason Mandryk, Tom McCormick & Adriana Saldiba

ESTADO ATUAL E FUTURO DO ENVELHECIMENTO GLOBAL

James Hillman escreve: “O século XXI pode ou não ser marcado pela consciência ecológica, mas certamente será caracterizado pela sua população envelhecida.” 1 O envelhecimento global está ocorrendo rapidamente e, sem dúvida, será uma força modeladora no nosso mundo futuro.2 A Divisão de População das Nações Unidas estima que o número de pessoas com 65 anos ou mais deve dobrar nos próximos trinta anos, de modo que, até 2050, entre 16 a 22 por cento da população global terá 65 anos ou mais.

O envelhecimento global será variável regionalmente, mas permanecerá uma realidade constante.3 Mesmo na região demograficamente mais jovem, a África, a proporção daqueles com 65 anos ou mais em relação aos menores de 15 anos aumentará mais rapidamente (três vezes) do que na Europa (duas vezes) ou na América do Norte (duas vezes).4

Em resumo, conforme resumido pela Divisão de População da ONU do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais:

  1. O envelhecimento da população é sem precedentes — Não tem paralelo na história da humanidade, com um envelhecimento ainda mais rápido e intenso a caminho.
  2. O envelhecimento da população é onipresente – Trata-se de um fenômeno global que afeta todo homem, mulher e criança… embora de maneira distinta.
  3. O envelhecimento da população é profundo — Terá consequências e implicações significativas para todas as regiões do mundo, todas as camadas socioeconômicas e todos os aspectos da vida humana.
  4. O envelhecimento da população será duradouro — Não retornaremos às populações jovens de antes 5.

A população mundial está envelhecendo

O impacto desta maciça tendência demográfica será abrangente, afetando a economia, as normas socioculturais, os quadros morais e éticos, a infraestrutura de saúde, as migrações geográficas e as relações intergeracionais. O envelhecimento global também terá um impacto na igreja, no discipulado e na Grande Comissão. Assim, o envelhecimento global é uma realidade demográfica que apresenta a imperativa necessidade de uma resposta teológica e missiológica correspondente. No entanto, uma análise geral das iniciativas evangélicas em diferentes meios de comunicação, conferências e treinamentos revela que o envelhecimento global não tem sido uma alta prioridade, além de dignas iniciativas em pequena escala. A igreja pode se dar ao luxo de esperar que o envelhecimento global tenha um impacto significativo? Este relatório informa à igreja sobre a realidade, as oportunidades e os desafios do envelhecimento global, com a esperança de que ela permaneça fiel ao seu Senhor e à nossa Grande Comissão.

EFEITOS DO ENVELHECIMENTO GLOBAL

Efeitos econômicos e sociais

O envelhecimento global acarreta uma acumulação de encargos sociais, aumentando as populações economicamente não produtivas, esgotando os fundos de pensão e ampliando as necessidades de cuidados com a saúde.”6 

Preocupações médicas aliadas ao isolamento social intensificam os desafios econômicos. Nos Estados Unidos, estima-se um gasto adicional anual com o Medicare (para pessoas idosas) na ordem de 6,7 bilhões de dólares. Na China, devido às exigências de cuidados de longa duração para aqueles com 85 anos ou mais, alguns concluem que os cuidados de longa duração representam uma ameaça ao crescimento econômico do país. Dos indivíduos com 85 anos ou mais previstos para estar vivos em 2050, aqueles na China serão 1,4 vezes mais do que o total de pessoas vivendo em todo o mundo no ano 2000 e, até 2050, 26 por cento da população mundial com mais de 85 anos residirá na China, enquanto 8 por cento estarão nos EUA. 8  Já a China lidera mundialmente no número total de casos de demência, com 20 por cento dos casos globais, e 1.000.000 de novos diagnósticos por ano, estimando-se que 90 por cento não sejam diagnosticados. Até 2050, cerca de 50 por cento dos casos globais de demência estarão na China; 30 por cento nas Américas; 19 por cento na Europa e 16 por cento na África. Ao longo da história da igreja, os cristãos se dedicaram a cuidar daqueles em situação de necessidade especial, fundando hospitais para o cuidado físico e mental, leprosários, ministérios para cegos, surdos, deficientes, entre outros. O cuidado com a demência é uma área de necessidade especial em crescimento entre as pessoas idosas. Existem aproximadamente 9.900.000 novos casos em todo o mundo por ano, ou seja, um novo caso a cada 3,3 segundos.

A Razão de Dependência de Idosos agrava este desafio; ou seja, as porcentagens da população em idade ativa em comparação com aqueles que necessitam de cuidados de saúde dispendiosos ameaçam todas as regiões do mundo. 9Aliado a este desafio está o desafio relacionado aos membros da família responsáveis pelo suporte aos pais. Geralmente, os filhos da população mais velha estão inseridos no mercado de trabalho e também têm a responsabilidade de cuidar dos seus pais. A Razão de Apoio Parental indica a gravidade das mudanças demográficas: existem menos cuidadores adultos filhos em comparação com o número de pais que necessitam de apoio.

A Razão de Dependência de Idosos e a Razão de Suporte Parental exacerbam a pressão econômica sobre as famílias, mas, por outro lado, incentivam as residências multigeracionais que estão mais bem preparadas para se apoiarem mutuamente. Comunidades capazes de estabelecer relações interdependentes saudáveis entre gerações mostrarão maior resiliência diante dos desafios futuros.

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Notas
1. A Força do Caráter: E a Vida Duradoura (2000), p. xx.
2. As razões básicas são simples: diminuição da taxa de fecundidade (# de crianças / mulheres em idade fértil) e aumento da expectativa de vida. Para um gráfico simples , confira ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO MUNDIAL: 4>1950-2050, p. 5.
3. Confira https://www.researchgate.net/figure/Percentage-of-population-aged-60-years-or-over-by-region-from-1980-to-2050_fig4_344199610
4. Confira ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO MUNDIAL: 1950-2050, p. 16.
5. Resumo Executivo do Envelhecimento da População Mundial 1950-2050. Direitos Autorais © Nações Unidas 2002, Divisão de População, Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais.
6. O Fundo de População das Nações Unidas e a HelpAge International afirmam: “O envelhecimento da população é uma tendência global importante que está transformando economias e sociedades ao redor do mundo.” “Envelhecimento no século 21: Uma Celebração e um Desafio — Sumário Executivo.” 5 de outubro de 2012. https://www.helpage.org/resource/ageing-in-the-21st-century-a-celebration-and-a-challenge-executive-summary/.
7. Até 2025, 26% desses 85+ em todo o mundo estarão na China.
8. http://www.duke.edu/web/cpses/Dudley%20Poston.ppt
9. Na China, tem-se observado uma diminuição constante no número de adultos em idade produtiva, passando de 7,8 para o suporte econômico de cada idoso em 1985 para (projetado) 1,6 em 2050.

A caminho de casa – vida, fé e como terminar bem. Resenha

A caminho de casa, de Billy Graham, não é um livro de teologia, mas de sabedoria, escrito por um servo fiel de Deus que enfrenta com honestidade e graça os efeitos debilitantes da idade avançada. O subtítulo, Vida, fé e como terminar bem, é muito apropriado.

Embora organizado em dez capítulos, o livro segue um curso sinuoso. É como se, sentado ao lado de Graham, ele lhe transmitisse informalmente seus pensamentos. Há passagens de exposição das Escrituras e alguns conselhos práticos (como a importância de um testamento), mas a maior parte do livro é uma sabedoria simples sobre as realidades, físicas e espirituais, do envelhecimento e como lidar com elas.

Graham retorna várias vezes a diversos temas-chave: a importância de estar em paz com as limitações e realidades do envelhecimento, de continuar a ministrar e impactar as pessoas ao seu redor e de manter Cristo como o alicerce de sua vida. Em todo o livro, há dicas como:

“Que testemunho você está oferecendo às pessoas que o seguem? Lembrar-se do que Deus fez por você o revigorará na velhice. Os outros estão observando suas ações e atitudes. Não diminua o impacto que você pode causar; transmita as verdades fundamentais da Palavra de Deus.”

“Não importa quem sejamos, a aposentadoria nos apresenta duas opções. Podemos usá-la para nos satisfazermos, ou para causar impacto na vida de outras pessoas. Em outras palavras, a escolha que enfrentamos é entre a autoindulgência vazia e a atividade significativa.”

“A vida raramente é fácil à medida que envelhecemos, mas a velhice tem suas alegrias especiais – a alegria de passar tempo com a família e os amigos, a alegria de se livrar das responsabilidades que antes tínhamos e a alegria de desfrutar as pequenas coisas que antes não percebíamos. Mas, acima de tudo, à medida que aprendemos a confiar cada dia em nas mãos de Cristo, os anos dourados podem ser um período de aproximação dele. E essa é a maior alegria da vida.”

Embora eu tenha apenas 47 anos, encontrei muito nesse livro para refletir e considerar. Foi uma alegria lê-lo, e eu o recomendo de coração a qualquer pessoa que tenha idade avançada ou que esteja esperando ter um dia.

Resenha originalmente publicada no site Light Along the Journey.

Clique aqui e leia algumas páginas do livro A caminho de casa, de Billy Graham, em pdf.

“Não se esqueça do seu Criador”

Por Antônio Carlos W. C. de Azeredo

Fazenda do Cerro, Bocaina do Sul, SC, 2009. Por Antônio Carlos.

1 Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais dirás: Não tenho neles prazer;

2 antes que se escureçam o sol, a lua e as estrelas do esplendor da tua vida, e tornem a vir as nuvens depois do aguaceiro;

3 no dia em que tremerem os guardas da casa, os teus braços, e se curvarem os homens outrora fortes, as tuas pernas, e cessarem os teus moedores da boca, por já serem poucos, e se escurecerem os teus olhos nas janelas;

4 e os teus lábios, quais portas da rua, se fecharem; no dia em que não puderes falar em alta voz, te levantares à voz das aves, e todas as harmonias, filhas da música, te diminuírem;

5 como também quando temeres o que é alto, e te espantares no caminho, e te embranqueceres, como floresce a amendoeira, e o gafanhoto te for um peso, e te perecer o apetite; porque vais à casa eterna, e os pranteadores andem rodeando pela praça;

6 antes que se rompa o fio de prata, e se despedace o copo de ouro, e se quebre o cântaro junto à fonte, e se desfaça a roda junto ao poço,

7 e o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu.

8 Vaidade de vaidade, diz o Pregador, tudo é vaidade.

Conclusão

9 O Pregador, além de sábio, ainda ensinou ao povo o conhecimento; e, atentando e esquadrinhando, compôs muitos provérbios.

10 Procurou o Pregador achar palavras agradáveis e escrever com retidão palavras de verdade.

11 As palavras dos sábios são como aguilhões, e como pregos bem fixados as sentenças coligidas, dadas pelo único Pastor.

12 Demais, filho meu, atenta: não há limite para fazer livros, e o muito estudar é enfado da carne.

13 De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo homem.

14 Porque Deus há de trazer a juízo todas as obras, até as que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más.

Antonio Carlos W. C. de Azeredo (1938–2024), autor da seleção acima, trabalhou a maior parte do tempo como funcionário do Banco Central do Brasil, em Brasília.

Seu compromisso com a igreja e com o ensino da Palavra de Deus o destacava. Foi por muitos anos dedicado líder e professor no departamento infantil da escola dominical, sempre à frente do culto de abertura para crianças. Fez isso no seu breve tempo em Viçosa, MG, e em sua longa jornada em Brasília, na Igreja Presbiteriana Nacional, onde integrou o colegiado de pastores desde 2001, além de ter exercido várias outras funções

Ao longo dos anos, desenvolveu a apostila Desenhando a Linha de Redenção no Contexto da Visão Panorâmica da Geografia e História Bíblicas. Antônio Carlos dedicou-se também a desenhos e pintura.

Sua esposa morreu cerca de quatro anos antes dele. Ele faleceu no dia 22 de março de 2024. Deixou dois filhos, cinco netos e dois bisnetos.

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No silêncio da noite, por Wilfried Korber

Sessenta Mais se reúnem para ouvir “Agnus Dei” ao som de duas gaitas

Por Cilas Gavioli

Que tal ouvir Asa Branca ou Agnus Dei, ao som da gaita, numa roda de amigos?

Essa é exatamente uma das boas coisas que acontecem no Café Prosa e Companhia, um encontro trimestral dos 60+ da Chácara Primavera – momento de prosa, amizade e bons relacionamentos. Nesse encontro lúdico, há um período de adoração embalado pelos talentos dos 70 e 80 mais. No último encontro, por exemplo, o Sr. Ângelo Gilberto, de 83 anos, tocou em duas gaitas.

Nosso trabalho com os 60 Mais é muito novo. Nasceu em 2023.

Recentemente, iniciamos uma atividade toda quinta-feira à tarde, chamado Espaço Gerações – Longevidade, que consiste em oficina de memória e espiritualidade.

Temos também um grupo de mulheres cuja tarefa é ligar para os 60, 70, 80 mais para saber como eles estão passando. Essas mulheres me ligam periodicamente, e, caso haja uma demanda pastoral, elas me comunicam.

Existe também um outro setor que é o de visitação. Um grupo de pessoas sai visitando os 70 ou 80 mais que estão enfermos ou reclusos em suas casas.

Nossa equipe conta com o apoio de Samila Battistoni, psicóloga especialista em pessoa idosa, Daniele Rodrigues, fonoaudióloga, e Thiago Viana, músico.

Sabemos que é só o começo e que temos muito o que aprender. Afinal, não é pouca gente: temos quase 300 pessoas 60 mais em nossa comunidade!

Cilas Fiuza Gavioli, casado com Raquel, com quem tem um casal de filhos e uma neta, é pastor auxiliar da Igreja Presbiteriana Chácara Primavera, em Campinas, SP, servindo na diaconia e no ministério 60 Mais.

Saiba mais sobre o Ministério Chácara 60+ aqui.

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Uniedas segue fazendo discípulos entre indígenas no Brasil e na América do Sul

Por Xênia M. Lança de Q. Casséte

Indígena do povo Terena do Mato Grosso do Sul, Jader Oliveira também é pastor e presidente da União das Igrejas Evangélicas Indígenas da América do Sul (Uniedas).1 Segundo Jader, “A Uniedas foi fundada em 1972, cinco anos após a Funai (Fundação Nacional do Índio) proibir a permanência de missionários cristãos nas aldeias, no ano de 1967. E nesse momento fomos desafiados a continuar a caminhada de fazer discípulos entre nosso povo”.

A Missão Uniedas está presente em seis estados brasileiros: Acre, Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Alagoas e São Paulo. A Missão trabalha com 41 etnias no Brasil (das 266 etnias brasileiras, 117 ainda não têm presença missionária). “Hoje, a Uniedas não é apenas do povo Terena, mas também é Xavante, Xingu, Pataxó, Xucuru, Caiapó, etc. É um ministério do povo indígena e carecemos de orações”, diz Jader.

Há desafios e conquistas: “Deus vai nos dando possibilidades, dentro da nossa realidade. Fazemos nossos próprios barcos para irmos evangelizar pelos rios da Amazônia, Rondônia, Roraima, Pará e Mato Grosso. No início, havia sete igrejas da missão e atualmente são 43 em todo o Brasil. Nós entendemos que Deus nos amou como o povo que somos, com a nossa cultura, com a nossa cor, cor da terra. Somos índios porque nascemos índios e não será a religião, pesquisas ou teorias que vão tirar a nossa identidade. Mas formos alcançados pelo Evangelho do Senhor Jesus Cristo e temos certeza de que quando na Cruz do Calvário Jesus disse “Está tudo consumado” as 266 etnias registradas no Brasil também estavam presentes no Seu maravilhoso plano de salvação da humanidade”.

A esperança que o Evangelho trouxe a todos é o que faz a Missão Uniedas seguir levando o Evangelho aos povos indígenas no Brasil e na América do Sul, porque todos precisam dessa esperança e de salvação.

Preparando obreiros e missionários

“Temos institutos preparando missionários e obreiros como o Centro de Treinamento em Pimenta Bueno, RO, com 48 alunos. No Baixo Xingu, o irmão Terena, pastor Cirenio, divide uma casa de seis por trinta e quatro metros como moradia para sua família e para cerca de 28 jovens a quem discípula e ensina. E é uma luta diária para alimentar todos”.

Segundo a Uniedas, há muitos missionários indígenas dispostos evangelizar indígenas no Brasil e no exterior como o Edson, um jovem da tribo Caxinauá que sobe em um barco e viaja durante três dias junto com sua esposa e seus filhos até aldeias indígenas no Peru para falar do amor de Cristo e da salvação que ele dá. E entre os povos indígenas do Xingu há uma igreja e duas congregações, fruto do trabalho missionário da Missão. Para Jader, “é hora da igreja brasileira começar a ouvir o missionário indígena, suas experiências e metodologias”.

Primeira igreja dos Terena

A primeira igreja evangélica dos Terena foi construída em 1926 (e continua no mesmo local). Henrique Winston e John Hey, missionários da Inglaterra e da Escócia, que vindo do Paraguai e chegando ao Mato Grosso em 1912, trouxeram as boas novas do Evangelho aos Terena. Entre 1905 e 1906, o Serviço de Proteção ao Índio (SPI), órgão que inaugurou a política indigenista no Brasil, iniciou aldeamentos e as reservas indígenas. “Esses missionários chegaram entre nós no período em que estavam sendo feitos os aldeamentos. Não chegaram pregando o Evangelho nem usando um púlpito ou abrindo a Bíblia. Eles começaram um relacionamento nos ajudando no difícil processo de sair da vida nômade e, então, começarmos a estabelecer um lugar para nosso povo”, conta Jader.

Winston era construtor, carpinteiro, oleiro e cozinheiro e ensinou estas profissões aos Terena. E quando chegou a hora de construir o primeiro templo os missionários e os indígenas criaram uma olaria e uma serraria que colaborou para a construção. Naquele momento de medo e adaptação dos Terena a uma nova forma de vida, os missionários também os ensinaram a furar poços, a cuidar da alimentação e abriram uma escola, dando grande ênfase à educação dos indígenas. “O que mais impactou a vida do nosso povo foi a educação de adultos e crianças. Hoje, nós temos inúmeros irmãos Terena com graduação superior, pós-graduação, mestrado e doutorado e alguns com pós-doc. Tudo isso como fruto do trabalho que os missionários fizeram entre nós no início do século 20”, relembra Jader.

“Hoje, a cidade em que moro, com 50 mil habitantes tem uma universidade federal onde estudam mais de quatrocentos indígenas. E a gente sempre escuta que a universidade só não fecha porque tem os alunos indígenas”, relata o pastor. “Então, o Evangelho que foi pregado para nós não só nos apresentou o céu e o que virá depois, mas nos deu instrumentos para vivermos como cidadãos brasileiros e cidadãos do Reino de Deus”.

Apesar de o Evangelho não ter sido pregado no idioma Terena, isso não mudou a sua cultura. “Isso é irrelevante para nós diante do que as boas novas do Evangelho trouxeram para o nosso povo”. A bisavó do pastor Jader, Tati, foi a primeira Terena que se converteu ao Evangelho, já com mais de 60 anos. Ela era filha de um dos maiores feiticeiros dos Terena. E o primeiro pastor Terena era seu filho. Todos os seus netos foram pastores e uma grande parte dos bisnetos também são pastores.

A respeito do trabalho feito pela Uniedas, Jader conta: “Nós preferimos ficar ‘embaixo do radar’, ir somente pelos rios e estradas para não entrar em atrito direto com os que são contra nosso projeto de missões entre indígenas no Brasil”. Assim, quando os que não concordam com este trabalho chegam nas aldeias, a Uniedas pode sair porque, de um modo geral, já está deixando uma igreja constituída e alguns líderes treinados. “Nós plantamos, outros regam e colhem os frutos, mas a obra é de Deus, não nossa”, afirma o pastor Jader.

Censo 2022

De acordo com o último Censo Demográfico apresentado em 2022 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existem hoje, no Brasil, 266 povos indígenas, totalizando uma população de 1.693.535 pessoas. Esse número de pessoas autodeclaradas indígenas no Brasil representa uma parcela de 0,83% de toda a população que vive no país. Uma das constatações do levantamento é que 51,25% dessas pessoas vivem na Amazônia Legal composta pelos estados do Norte, Mato Grosso e parte do Maranhão. Só no Mato Grosso do Sul existem hoje, 116,3 mil indígenas, incluindo os Terenas.

Ainda conforme a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, sobre o Censo 2022, ao se considerar o total de indígenas que vivem no país, 622,1 mil (36,73%) residem em Terras Indígenas e 1,1 milhão (63,27%) fora delas; três estados respondem por quase metade (46,46%) das pessoas indígenas vivendo nas Terras Indígenas no Brasil: Amazonas (149 mil), Roraima (71,4 mil) e Mato Grosso do Sul (68,5 mil).

Durante a cerimônia de apresentação dos dados do Censo Indígena de 2022, em Belém (PA), Sonia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas, disse que as informações do Censo vão “subsidiar a presença indígena no governo brasileiro, que está trabalhando de forma totalmente transversal, integrada com outros ministérios para pensar políticas públicas adequadas, que possam chegar a essas distintas realidades”.

Nota

1. Jader Oliveira participou do 2º Encontro do Movimento Cristão 60+, em Pompeia, SP, onde compartilhou sobre o trabalho da Missão Uniedas.

Terenas criaram rede de igrejas evangélicas. Acesso em 03 de maio de 2024.

Brasil tem 1,69 milhão de indígenas, aponta Censo 2022. Acesso em 03 de maio de 2024.

Brasil tem 1,7 milhão de indígenas e mais da metade deles vive na Amazônia Legal. Acesso em 06 de maio de 2024.

Xênia M. Lança de Q. Casséte, jornalista, aposentada, faz parte do grupo 60 + da Igreja Batista da Redenção (Redê).

Movimento Cristão 60+ anuncia a programação do seu 4° Encontro

Por Délnia Bastos

Com o provocante tema “É tempo de colher, mas ainda é tempo de plantar”, o Movimento Cristão 60+ anuncia a programação do seu próximo encontro, que acontecerá em Sumaré, SP.

Os participantes serão recebidos na tarde do dia 23/9, a partir das 15 horas. Após o jantar, participarão da abertura do evento, ouvindo uma explanação geral sobre os temas principais, uma palestra sobre a visão bíblica da velhice e um panorama dos 60+ no Brasil.

No segundo dia, às 9h, após o café da manhã e um momento de relacionamento, louvor e oração, a primeira devocional será sobre “Florescer e frutificar – vida abundante para os 60+”. A seguir, haverá a segunda palestra, abordando uma via de mão dupla: “Novos papéis na igreja – o que a igreja pode fazer pelos 60+ e o que os 60+ podem fazer pela igreja”, seguida de discussão em grupos quanto à prática local dos participantes neste assunto, fechando a manhã com o compartilhar das conclusões dos grupos em plenária. Após o almoço, serão oferecidos diversos workshops (veja relação abaixo). Encerrando o dia, após o jantar, será o momento especial para louvor e adoração, seguido da terceira palestra: “Novas oportunidades de trabalho”. Para encerrar o dia, haverá testemunhos práticos de segunda carreira.

No terceiro e último dia do evento, a rotina da primeira parte da manhã se repete, sendo a segunda devocional sobre “Florescer e frutificar – a alegria de colher”, seguida da quarta palestra “Novas maneiras de cuidar de si mesmo”, com a mesma dinâmica de discussão em grupos e devolutivas em plenária, culminando com a celebração da Ceia do Senhor no final da manhã. O encerramento será logo após o almoço.

Este 4⁰ Encontro acontece em tempo oportuno, quando o assunto é pauta importante em diversos círculos, evangélicos ou não. Recentemente o Movimento Lausanne trouxe tópicos específicos sobre o envelhecimento (Veja Envelhecimento global da população e O envelhecimento global e a obra missionária).

Workshops

Envelhecer com sentido, dignidade e relevância

Sucessão: processo de transferência de conhecimento, cultura, valores e legado da atual geração para a nova geração

Amor e sexualidade na terceira idade

Como enfrentar as doenças, especialmente as demências, na velhice?

Como lidar com a solidão na velhice? Estabelecendo rede de apoio

Ministérios dos 60+ para os 60+: Os modelos de sucesso

Igreja promovendo autocuidado na área da saúde física e mental

Revisão de vida depois dos 60+: avaliação, renovação, legado e ensinando as futuras gerações

Serviço:
4º Encontro Nacional MC 60+
É tempo de colher, mas ainda é tempo de plantar
Quando: 23 a 25 de setembro de 2024
Onde: Estância Árvore da Vida, em Sumaré, SP
Para inscrever-se, clique aqui.

Délnia Bastos é casada, mãe de três filhos e avó de cinco netos, e serve na área de governança em algumas iniciativas de missão.

Aposentar não é deixar de ser produtivo

Experiências profissionais, pessoas com quem convivi, lugares que conheci, foram divinamente escolhidos para que, mesmo “aposentado”, eu pudesse ser usado por Deus para ser luz em meio à escuridão

Por Robert Liang Koo

Revisitar a sua própria história é sempre surpreendente. Como cheguei aqui? Não foi por minha escolha nem muito menos por mérito. Foi pela mão invisível de Deus, que me guiou, abrindo as portas, fazendo-me entrar mesmo sem entender. Pela graça de Deus, sou o que sou. E a graça não foi em vão, mas tem seu propósito (1Co 15.10).

Tenho 78 anos, três filhos e nove netos. Sou a quarta geração de uma família cristã da China. Meu avô nasceu na Coreia por causa das perseguições aos cristãos em meados do século 19. Chegamos ao Brasil em 1958, e me formei em engenharia eletrônica no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) em 1971. Sou grato a Deus por ter conhecido a Aliança Bíblica Universitária (ABU) durante o tempo de faculdade. Ela me deu base bíblica para entender o embate ideológico, influenciou minha formação espiritual e despertou em mim compaixão pelas causas sociais que iriam direcionar toda a minha vida. Já casado, vivi alguns anos nos Estados Unidos e com isso pude entender e comparar três culturas diferentes: a oriental, a americana e a de terceiro mundo (a brasileira); a concepção de vida e o cristianismo tingido por cada cultura.

De volta ao Brasil, permaneci por um certo tempo na academia, dando aula e fazendo  pesquisa. No fim da década de 80, comecei a minha própria empresa na área de automação industrial. O interessante é que nunca foi meu sonho ser um empresário, mas as circunstâncias me levaram por esse caminho. Embora eu não tivesse formação nem experiência empresarial, a graça de Deus foi mais do que suficiente. Minha empresa conseguiu sobreviver em meio a várias crises e decisões equivocadas, cresceu e permanece sólida, depois de 35 anos.

Também nessa época, comecei a pastorear a igreja da qual fui um dos fundadores. Como não havia feito seminário teológico, dediquei-me à leitura de bons livros, não só de teologia e de comentários bíblicos, mas principalmente de temas relacionados a orientação da formação espiritual. As obras de A. W. Tozer, John Stott, Eugene Peterson são as minhas leituras preferidas. Eu acredito que a congregação precisa não somente de exposição bíblica e ortodoxia, mas principalmente de saber como aplicar esses conhecimentos na sua vida diária.

Ao me aproximar dos 70 anos, iniciei o processo de passar a responsabilidade tanto da empresa como da igreja para outras pessoas. Eu sabia que retardar esse processo traria prejuízo, pois impediria o amadurecimento e a formação de novos líderes, então passei um bom tempo caminhando junto com eles.

Sempre alguém me pergunta: “Você já se aposentou?”. Fico pensando o que isso significa. Ter idade para receber uma aposentadoria não significa parar de trabalhar, ou que não temos mais utilidade. Não encontro base bíblica para deixar de ser produtivo mesmo que estivesse com idade avançada.

O trabalho vai mudando de acordo com a necessidade e a oportunidade, mas a vocação permanece sempre a mesma. Trabalho é o meio para cumprir a vocação. À medida que o tempo passa, a vocação que antes estava abstrata, nebulosa, fica mais concreta e clara, e o trabalho, mais objetivo. Trabalho é uma bênção de Deus. Ele traz maturidade e compreensão do mundo. O meu trabalho secular (academia, governo e empresa) me deu ferramentas para cuidar da igreja e das pessoas.

Mais recentemente, em meio à pandemia, montamos um projeto social para abençoar produtores rurais e comunidades urbanas com a distribuição de alimentos vindos do campo. Olhando para trás, vejo que minhas experiências profissionais, pessoas com quem convivi, lugares que conheci, foram divinamente escolhidos para que, mesmo “aposentado”, eu pudesse ser usado por Deus para ser luz em meio à escuridão.

Dom não é somente talentos que recebemos pela graça, mas engloba toda experiência adquirida debaixo do desígnio de Deus e deve ser usado para a sua glória até o último dia da nossa vida.

Robert Liang Koo foi empresário e pastor em São Paulo por mais de 30 anos. Atuou na ABUB nas décadas de 60 e 70. É engenheiro pelo ITA e PhD pela Carnegie-Mellon University, nos Estados Unidos. Ele integra o núcleo fundador do MC60+.

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Pequenas grandes coisas que nós, idosos, devemos fazer

Por Thomas Hahn

Eis minha única credencial para falar sobre a velhice: sou um velho. A arrogância da minha ignorância não me constrange: me liberta, assim como liberta você, leitor, de me levar muito a sério. Ficamos ambos mais leves.

O que fazer durante o ocaso da nossa vida?

Permito-me fazer algumas sugestões de como proceder em nossa caminhada.

Simplificando

Somos acumuladores de coisas que, em certo momento, nos pareceram vitais, mas que mais tarde provam ser pesadas e desnecessárias. Nossa inércia natural faz com que não tomemos decisões que tornariam nossas vidas mais simples, menos pesadas? As de nos desfazermos daquela casa com quartos para as crianças? Elas cresceram, voaram do ninho, casaram. A casa ecoa o silêncio. Mudei para um pequeno apartamento que contém o espaço que minha esposa e eu realmente precisamos, e que nos custa muito menos em manutenção.

A casa de praia/campo para qual só vamos uma vez por mês para pagar as contas? Passe adiante, e alugue um quarto de hotel, variando o destino. Simplifique os investimentos para que sejam facilmente administrados, seja por você, seja pelos seus sucessores. Deixe as coisas em ordem para os herdeiros, consultando um advogado para escolher o melhor caminho. Em síntese: diminua o peso e viva uma vida de leveza.

Aprendendo a depender

Você era o provedor, o sustentáculo, a coluna de sustentação. Agora você se vê dependente. Pode ser financeira, ou fisicamente. Lembro-me da minha reação, no hospital, depois de uma pesada cirurgia, sendo ensaboado e banhado no chuveiro por um enfermeiro. No começo, humilhação. A seguir, a percepção da providência de Deus, dando a este enfermeiro o dom de cuidado. A Graça de Deus em ação, e eu o receptor desta imensa Graça. A dependência mudou meu olhar, minha percepção. Aprendi a ver Deus realizando sua obra; meu foco deixou de ser autocentrado, e passei a ver o outro mais claramente.

Perdendo

A terceira idade é um período que se caracteriza por perdas. Perdas físicas: não é como desejaria, um processo de declínio lento e gradual, mas sim uma sucessão de quedas súbitas, de mudanças bruscas de patamares. Pode ser financeira: viver na aposentadoria é bem mais desafiador do que se imaginava. Perdas de pessoas queridas, amigos e amigas que se vão, pedaços nossos que são tirados, ficando os buracos da ausência, dores que continuam a doer, a despeito das orações e lembranças de versículos bíblicos sobre o consolo. E, por fim, a perda que define o início da nossa velhice: a perda da relevância. Não somos mais players. Os mais jovens não nos consultam – pelo contrário, nos dão conselhos que soam como ordens. Em nosso local de trabalho, nossa opinião patentemente não carrega nenhum peso; se perguntados, é meramente protocolar. Neste aspecto, a igreja pode mitigar a dor da irrelevância, invocando a sabedoria dos idosos (de verdade, não de mentirinha).

Aprendendo uma nova linguagem

Fazemos parte de uma civilização que endeusa a prosa da ciência. Com isto, perdemos o senso do Belo. Nossa teologia se debruça sobre a prosa racional e expositiva de Paulo, mas esquece que a cada raciocínio doutrinário segue-se uma doxologia, uma explosão poética de louvor e adoração, posto que a linguagem do amor é a poesia. E, já que em breve nós, os velhinhos, seremos adoradores na presença de Deus, convém que aproveitemos este tempo para sermos mais poetas e menos prosadores.

Já que falei em amor, faço uma proposta: reúna-se com as pessoas que lhe são realmente importantes, e diga-lhes o quanto as ama. Não em público, mas em casa, à mesa, com pão e vinho, olho no olho. Solene, não no piloto automático do “Te amo, irmã/irmão”. Quando meus filhos e seus cônjuges vieram me ajudar a comemorar meus oitenta anos, pedi a palavra antes do almoço, e lhes informei que eu os respeitava, admirava, e amava. Foi tão gostoso, que eu gostaria que você tivesse um prazer semelhante!

Uma última palavra sobre o amor: lembremos que dentro desta palavra existe outra, sem a qual a primeira não subsiste. Esta palavra é perdão. Na etapa final de nossa vida aqui na Terra, devemos fazer um esforço para, enquanto possível, consertar relacionamentos quebrados. Perdoar ou pedir perdão, conforme o caso. Mesmo sabendo que nem sempre nosso esforço será exitoso. Sem perdão não há como construir o amor, e o amargor continuará em nós.

Que o outono e o inverno da sua vida sejam inundados pelo amor do nosso Deus Triúno: Pai, Filho e Espírito Santo!

Thomas Hahn, 88 anos, casado com Christine há 60, pastor da Igreja Batista da Granja Viana, em Cotia, SP.

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Isabel – “Minha segunda carreira foi ser mãe”

Abracem sua segunda carreira de coração, seja ela qual for – algumas vezes será escolhida, outras vezes será imposta pelos acontecimentos. Mas aceitem o que vier de bom grado e Deus será com cada um de vocês

Meu nome é Isabel, que significa “Deus é meu juramento”. Sou da linhagem do primeiro sacerdote: Arão. Vocês devem achar estranho… Em nossa cultura, a pessoa é o nome, ou o nome é a pessoa, sei lá. Para nós, é fundamental saber o significado de cada nome, que, afinal, faz parte da personalidade da pessoa e mostra seu relacionamento com o Deus Eterno. Zacarias esqueceu de mencionar que o nome dele significa “lembrado por Jeová”. Como vocês ouviram, ele foi mesmo lembrado por Deus e contemplado com grandes maravilhas.

Não somente ele. Eu participei de tudo, exceto da visita do anjo no templo. Depois de dispensar a multidão, já em casa, como não podia falar, Zacarias escreveu pra mim um resumo da promessa do anjo. Fiquei extasiada!

Fui a primeira mulher mencionada no Novo Testamento, mais especificamente, no Evangelho escrito pelo Dr. Lucas. Ele foi um grande pesquisador e autor, e deu ênfase especial às mulheres em seu livro. Sou muito grata por isso.

Como Zacarias mencionou, não tínhamos filho e isso trouxe grande sofrimento para mim. Mas não vou me deter nessa parte. Tenho coisa mais bonita pra contar pra vocês!

Deus fez um milagre no meu corpo! Fazia uns dez anos que eu não tinha mais o costume das mulheres. Contudo, acordei um dia com enjoo e descobri que estava grávida, direitinho como o anjo havia dito. Resolvi ficar mais em casa – um costume da minha terra – mas também pra evitar falatórios. Nesse tempo, meu corpo foi se transformando a cada dia e, de certa forma, ficando cada vez mais “vivo”. Quando completei seis meses de gravidez, recebi a visita de uma prima muito querida, a Maria. No momento em que ela foi entrando pela porta, meu filho mexeu muito dentro da barriga, uma mexida diferente de soluço, de chute, de qualquer outro movimento que ele já tinha feito. Parecia um estremecimento de alegria, uma emoção muito forte. Nesse exato momento, fiquei possuída pelo Espírito Santo e exclamei para Maria: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito o fruto do teu ventre. E de onde me provém que me venha visitar a mãe de meu Senhor?” Gente, que tempo especial tivemos o privilégio de viver! Quisera eu que todos vocês estivessem lá. O Espírito Santo, de repente, parecia que estava solto. Enchia um e outro entre um espaço de tempo curto, o que era novidade para todos nós. E eu estava ali, diante da mulher escolhida para ser a mãe do Messias, que tanto aguardamos. O meu Senhor estava sendo gerado no ventre da minha prima Maria! Isso era deslumbrante e muito emocionante!

Maria ficou comigo por três meses. Nessa época, aprendi sobre a intergeracionalidade: ela era tão jovem e eu, nos meus sessenta e poucos (dizem que a mulher para de contar, né?). Uma diferença de mais de 40 anos entre nós duas. Mas tínhamos assunto o tempo todo. Além disso, ela me ajudava em algumas tarefas da casa que já estavam ficando pesadas para uma grávida, ainda mais uma 60+. E ela me ouvia muito, das histórias do templo, dos meus antepassados, das minhas experiências de vida. Que tempo gostoso!

Aí nasceu nosso meninão e Maria fez sua viagem de volta. Afinal, ela também precisava se

organizar para receber seu bebê dali uns meses.

O resto da história Zacarias já contou a vocês. Gostaria de acrescentar apenas (porque é um dos temas deste evento) que não escolhi uma segunda carreira, ela me escolheu – e foi deliciosa! Minha segunda carreira, por incrível que pareça, foi ser mãe. Amamentei o Joãozinho por alguns anos, me diverti e me alegrei muito com ele. Parece que junto com a bênção de ser mãe tive outra bênção, a de me sentir rejuvenescida.

Irmãos, para finalizar, deixo alguns conselhos. Deixem-se surpreender por Deus: esperem dele algo novo e não o óbvio. Esforcem-se por se relacionar com outras gerações, como os jovens, os adolescentes e as crianças; mesmo que haja resistência no início, todos saem ganhando e aprendendo no processo. Abracem sua segunda carreira de coração, seja ela qual for – algumas vezes será escolhida, outras vezes será imposta pelos acontecimentos. Mas aceitem o que vier de bom grado e Deus será com cada um de vocês.

Este artigo é parte da palestra Os 60+ do Primeiro Natal, oferecida no III Encontro do Movimento Cristão 60+.

Délnia Bastos é casada, mãe de três filhos e avó de cinco netos, e serve na área de governança em algumas iniciativas de missão.

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