Tudo valeu a pena. E continuo olhando para o futuro com a mesma certeza do nosso irmão Calebe: “Estou forte ainda hoje, como no dia em que ‘o Senhor me enviou’”.
Por Manoel Elecinio das Neves Oliveira
Tenho uma vida e dois chamados; o primeiro para a salvação e o segundo ministerial. Focarei no segundo. Para ser bem-sucedido, precisei descobrir a natureza do meu chamado (Ef 4.11-16).
No ano de 1983, eu fui chamado para o meu “Sai da tua terra, da tua parentela”, tal como Abraão (Gênesis 12). Comecei minha formação teológica em Cuiabá, MT, berço da minha conversão, e já naquele ano fui chamado para cruzar a ponte e iniciar meu ministério em Várzea Grande, sendo, a partir de então, auxiliar de pastor na Primeira Igreja Batista de Várzea Grande e colaborador em um projeto comunitário no CTA Igreja Batista do Parque do Lago, realizado em parceria com a Visão Mundial, durante a semana. Depois, fui convidado para assumir o pastoreio na Igreja Batista no Jardim Imperial, onde eu e minha esposa também cuidávamos de uma creche.
Ordenado ao ministério pastoral no dia 11 de março de 1989, deixei a Igreja Batista no Jardim Imperial e, no final desse mesmo ano, indo/fomos para Terra Nova do Norte, no extremo norte de Mato Grosso. Eu, minha esposa guerreira, Dazinha Chaves, meus três filhos pequenos (Larissa, Talissa e Felipe, com oito meses de vida) estávamos vivendo agora uma realidade totalmente diferente: tomar banho de caneca, luz elétrica funcionando apenas quatro horas sim, quatro horas não, mas num firme propósito de fazer missões e de cumprir meu chamado, sem garantia salarial, e sempre experimentando o cuidado gracioso do Senhor. Corremos o risco de contrair malária, mas o Senhor sempre nos livrou; também violência, por causa do garimpo que se alastrava por toda aquela região norte do Mato Grosso e sul do Pará, mas o Senhor sempre nos protegeu, olhando para tudo isso, posso dizer que “Aquele que habita no esconderijo do altíssimo, à sombra do onipotente descansará” (Salmo 91.1).
Depois de termos passado por Colíder e Arenápolis (importantes escolas para mim), em fevereiro de 2003 cheguei em Pontes e Lacerda.
Hoje posso dizer que tudo valeu a pena, o choro, as incertezas etc. Posso dizer “Fui moço, agora sou velho; mas nunca vi um justo desamparado” (Sl 37.25). E continuo olhando para o futuro na mesma certeza do nosso irmão Calebe: “Estou forte ainda hoje, como no dia em que ‘o Senhor me enviou’” (Js 14.11).
Forte e confiante para mais uma vez ser enviado para um novo desafio. Em 2017 passei por uma cirurgia cardíaca e também nos últimos dez anos caminhou comigo “um filho na fé” que, agora, de comum acordo – eu, igreja e ele assumiu a direção da igreja.
Para mim, 2024 tem sido de muitas expectativas, tempo de recomeçar uma nova caminhada ministerial, e sempre na confiança de que aquele que começou a boa obra em mim, é fiel pra completá-la.
Manoel Elecinio das Neves Oliveira, 63 anos, ordenado ao ministério em 11/03/ 1989, é pastor auxiliar na Primeira Igreja Batista (PIB) em Pontes e Lacerda, MT. É casado com Dazinha Chaves Oliveira.
Quem deseja evangelizar pessoas idosas ou não, deve dedicar tempo à oração intercedendo diante de Deus por seu público alvo e por si mesmo
Por Verônica Farias e Sergio Lyra
Podemos considerar a pessoa idosa como um campo de missão? E, nesse caso, como os próprios idosos crentes podem responder a este desafio missionário?
Pense comigo, se o número de idosos cresce na sociedade em geral, então, temos que aprender a inserir e não descartar ou ignorar o potencial desta faixa etária dentro de nossas igrejas. Segundo, como igreja, podemos apoiá-los e incentivá-los a envolverem-se em ações que comuniquem o Evangelho àqueles da sua faixa de idade que não conhecem as boas novas de Cristo. De idoso para idoso, assim como de jovem para jovem, a mensagem é comunicada a partir da afinidade que a própria faixa etária carrega: as crises, as dúvidas, os receios, as perdas ou os ganhos, os interesses, as habilidades manuais e até a própria religiosidade, que nessa fase está mais aguçada, tudo pode tornar-se um fio condutor de conversa, de convite e até de amizade, para o testemunho cristão acontecer naturalmente.
Uma pessoa mais velha pode também se tornar um mentor ou mentora de outros mais jovens na igreja. Considero de grande valor e importância a presença de um mentor ou mentora durante a vida cristã e de serviço, comunicando sua sabedoria para outras gerações. Tenho experimentado o prazer e o privilégio da presença ativa de um mentor em toda a minha vida cristã e carreira missionária, até o momento. Sei da diferença positiva que isso faz, assim como imagino que Timóteo diria o mesmo a respeito da influência do apóstolo Paulo em seu desenvolvimento pessoal. Por isso, pensei em convidar essa pessoa para partilhar a escrita desse texto comigo. Nas minhas relações mais próximas não conheço ninguém que poderia falar sobre esse tema do anúncio do Evangelho com tanta propriedade e naturalidade de quem faz o que diz, como o pastor Sérgio Lyra. Pela graça de Deus tem sido ao longo das últimas três décadas de convivência ministerial e pessoal, um modelo cristão a me inspirar. Ele nos conduzirá adiante nessa reflexão, de maneira bíblica, concisa e prática, como costuma ser o seu estilo.
Identificando barreiras e pontes
Muitas coisas poderiam ser ditas sobre como evangelizar uma pessoa idosa, entretanto, vou começar levando em consideração a pessoa que irá ser o instrumento de verbalização da fé. Se o pregador já for uma pessoa da terceira idade, uma porta larga provavelmente estará aberta para o início de uma conversação. Todavia, considerando que a evangelização por amizade é a estratégia que mais facilita o anúncio do evangelho, acredito que parentes e amigos de idosos, mesmo que estejam em idades diferentes, conseguirão uma oportunidade (Cl 4.5) para apresentar a verdade do evangelho.
Para ser prático, vou identificar três atitudes que podem produzir barreiras, fazendo com que a semente do evangelho seja como aquelas que o semeador lançou, caíram na beira do caminho e Satanás não deixou nascer (Mt 13.19). Ao mesmo tempo, vou sugerir como construir pontes de contato.
1. Não faça da sua fala o centro da conversa – A pessoa idosa geralmente gosta de conversar, entretanto quando alguém tenta se comunicar, sendo o “centro da atenção”, isso tende a ser uma barreira, por mais interessante que seja o assunto. A ponte para compartilhar a fé é construída através de conversas que tem o seu início em assuntos que a pessoa gosta de conversar. Intencionalmente, deixe o idoso falar.
2. Rejeite a figura de professor – Mesmo que os conceitos abraçados pelo idoso estejam errados, assumir o papel de um professor pode produzir rejeição, principalmente se você é mais novo. Recomendo que se utilize o método de fazer perguntas, despertando o interesse e, de maneira sutil, conduzindo a conversa para a vida espiritual.
3. Cuidado com as abordagens relâmpago – Se você não dispõe de tempo para uma conversa um pouco mais demorada, é recomendável que outra oportunidade seja encontrada. Uma das atitudes que normalmente irrita uma pessoa idosa é não lhe dar uma atenção mais pessoal.
Como iniciar uma conversa sobre o evangelho
Normalmente uma pessoa idosa tem disponibilidade e prazer para uma conversa descontraída. Além disso, ela traz consigo muitas lembranças de histórias que fizeram parte da sua caminhada e muito comumente gosta de dialogar com uma pessoa interessada em suas lembranças. Uma boa estratégia é fazer perguntas acerca das experiências de vida para estabelecer uma comunicação amigável. Vou lançar mão de um diálogo hipotético para facilitar melhor como essa abordagem pode ser feita.
“Qual a experiência que o senhor considera uma das mais interessantes?”.
Ao ouvir atentamente a história que vai ser contada, procure encontrar algum aspecto ou ponto de contato que, a partir dele, você possa entrar na vida espiritual. A mudança de assunto pode seguir a mesma estratégia de fazer perguntas.
“Percebi que o senhor disse que agradecia a Deus pelo privilégio de ter filhos. Mas me diga uma coisa, o que Deus realmente significa para o senhor?”.
Perceba que o assunto agora foi direcionado para o relacionamento dele para com Deus. Enfatizo a importância de não assumir a postura de “professor”, isso geralmente cria barreiras. Recomendo que o processo trilhe o caminho da conversa. Depois de ouvir o que ele pensa sobre Deus, evite de imediato corrigir um conceito errado apresentado. Opte por conduzir a conversa com cuidado e apresentar a verdade da Bíblia, sendo você quem constrói a agenda. Isso pode ser feito com outra pergunta:
“Não sei se o senhor já leu a Bíblia, mas eu aprendi que ela fala muito sobre Deus e do que Ele quer que a gente faça. O senhor me permitiria mostrar alguns textos da Bíblia Sagrada?”.
Se o idoso for católico, peça para trazer a Bíblia dele, o Novo testamento é o mesmo que abraçamos nas igrejas evangélicas, e inicie uma apresentação do plano se salvação. Recomendo a sequência do livro de Romanos: (1) Somos todos pecadores (Rm 3.10-12); (2) Por causa do pecado fomos separados de Deus (Rm 3.23); (3) O pecado entrou no mundo e trouxe a morte para todos (Rm 5.12); (4) O pecado gerou a morte, mas Jesus trouxe a vida (Rm 6.23); (5) Jesus morreu por nós pecadores (Rm 5.8); (6) O que devemos fazer para ser salvo (Rm 10.9).
Aprendendo a depender do Espírito Santo
Sempre devemos lembrar que quem convence a pessoa do seu pecado é o Espírito Santo, e é através da Sua ação que o crente é habilitado com poder para ser testemunha de Cristo (At 1.8). É o Espírito Santo que traz a vida para uma pessoa que está morta em seus pecados (Ef 2.1) e permite que ela passe a desejar a Deus. É o Espírito de Deus que habilita nossa mente para entendermos as verdades reveladas nas Escrituras e nos ajuda a colocá-las em prática. Devemos aprender a depender do Espírito Santo tanto para apresentarmos a verdade do evangelho, quanto para vermos o poder de Deus atuando e transformando a vida de uma pessoa idosa.
Na prática, isso significa que quem deseja evangelizar pessoas idosas ou não, deve dedicar tempo à oração intercedendo diante de Deus por seu público alvo e por si mesmo. Um bom evangelista também precisa dedicar tempo para estabelecer seu ponto de contato e a estratégia a ser utilizada para verbalizar a verdade salvadora da fé em Jesus, pedir e depender do Espírito Santo que oriente toda a conversa.
Verônica Farias, missionária e psicóloga clínica, serve na área do Cuidado Integral do Missionário (CIM) desde 2006. É membro do conselho deliberativo do CIM BRASIL-AMTB e integrante da Agência PMI. Doutoranda em ministérios, atua como professora convidada em diversos cursos de treinamento missionário.
Sergio Lyra, pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil desde 1980, doutor em ministério, professor no Seminário Presbiteriano do Norte, coordenador do Centro de Pós-graduação do Betel Brasileiro e autor de livros na área de missiologia urbana.
Que privilégio ter a música como um presente de Deus que conecta nossas histórias com as de outras gerações
Por Shih Li Li Yoshimoto
Enquanto pensava sobre o que escrever a respeito dos hinos e do louvor comunitário, vieram à lembrança músicas como:
“Quando estou com o povo de Deus eu sinto a maior alegria Quando estou com o povo de Deus eu sinto a real harmonia Que prazer ver o povo de Deus louvando, tendo aqui um lugar todo santo, quando estou com o povo de Deus eu sinto a maiooor, maior das alegrias!!!”
Se você cantou essa música junto comigo, significa que em algum lugar do passado experimentamos juntos o prazer e a alegria de poder louvar a Deus junto com o povo de Deus.
Você se lembra, ainda, da música cantada em seu primeiro acampamento? Ou no dia da sua conversão ou consagração? Como esquecer? Quando as cantamos novamente, lágrimas voltam a rolar.
Quantas vezes um louvor expressou a imensa gratidão que você sentia por Deus, mas não encontrava palavras o suficiente para dizê-lo? Quantas vezes um hino fez você lembrar de verdades que precisava resgatar, ou um “corinho” o consolou nas dores inefáveis?
Um dos poderes da música consiste em marcar em nossa memória emoções vividas nos momentos especiais da nossa vida. Por isso tocamos músicas preferidas no nosso casamento, na nossa formatura e elas são imprescindíveis nas nossas celebrações eclesiásticas.
Recordo-me de me contarem que ao se reunir escondida, a igreja perseguida da China contava com cada lembrando um trecho da Bíblia uns aos outros e, apesar de não poderem cantar audivelmente para não serem descobertos, eles escolhiam um hino e “cantavam” com seus lábios mudos, olhando uns para os outros, ou de olhos fechados num só espírito para adorar a Deus.
Veio-me agora uma outra música: Obrigado pela música, do Stênio Marcius. Em um dos trechos ela diz assim: “Obrigado pela música, Nela a alma pode saciar Esta sede que só vai parar Se eu te adoro, ó Deus, com música”.
A música fala tanto por mim, e me permite conectar com Deus, com as emoções e desejos dentro de mim, e me conecta com as pessoas que cantam ou cantaram comigo no presente e no passado.
A música fala tanto a mim quando ela é recheada com a palavra de Deus que atinge a minha alma. Os testemunhos de quem experimentou a imensa graça e as virtudes (belezas) de Cristo expressos em canções me inspiram e me levam à adoração do Deus glorioso, tão digno da nossa exclamação e aclamação!
Obrigada, Senhor, pelos salmistas, que escreveram os 150 hinos que estão no meio da Bíblia. Apesar de não termos ideia das melodias, nem dos ritmos que foram entoados, eles têm sido inspiração para músicos de tantas gerações, ensinando-nos a salmodiar e a expressar nossas orações.
Sou tão grata aos irmãos da história da igreja que nos deixaram hinos e cânticos espirituais, tais como o Martinho Lutero, John Newton, Charles Wesley, Fanny Crosby, entre tantos outros. Por meio desses hinos e cânticos podemos declarar a nossa fé e nos conectar com muitos irmãos de denominações diferentes, pois comunicam doutrinas fundamentais da fé reformada.
Louvo a Deus e agradeço às tias da igreja que me ensinaram os cânticos de salvação da APEC (Aliança Pró Evangelização da Criança), e deram um repertório rico de verdades da palavra de Deus ao meu jovem coração:
“Tão fácil de entender, tão claro como a luz
Em meu lugar pra me salvar Jesus morreu na cruz.
É crer só nele agora de todo o coração,
Meninos, sem demora, aceitai a salvação!”.
Tenho pensado sobre como devemos ter cuidado em avaliar os cânticos ensinado às nossas crianças e ao povo de Deus hoje, considerando que esses se tornarão o repertório de suas memórias afetivas e espirituais. Que possamos ser zelosos ao compor e compartilhar canções e hinos novos que comuniquem ao coração da nova geração as verdades espirituais que fortalecem o espírito.
Que privilégio ter a música como um presente de Deus que conecta nossa alma, nossas histórias com as do povo de Deus de tantas gerações, e com auxílio desse recurso poderoso de memorização, guardar no coração as preciosas promessas de Deus que despertam nossos anseios pelo momento em que estaremos “Lá onde não há choro, onde todos cantaremos juntos hinos de louvor ao Senhor” (Jerusalém de Sergio Pimenta).
Shih Li Li Yoshimoto, 55 anos, psicóloga, mestre em divindades e em aconselhamento bíblico. Fundadora do ministério Mais Barnabés (@maisbarnabes) de formação e capacitação de conselheiros bíblicos. Casada com o pastor Daniel Yoshimoto e mãe de Jonathan, Ester e Sayuri.
O conteúdo a seguir é parte da palestra “Novos papeis na igreja”, oferecida pelo pastor Daniel Yashimoto no 4º Encontro do Ministério Cristão 60+ realizado em setembro de 2024 em Sumaré, SP.
Por Daniel Yashimoto
“Os justos florescerão como a palmeira, crescerão como o cedro do Líbano; plantados na casa do Senhor, florescerão nos átrios do nosso Deus. Mesmo na velhice darão fruto, permanecerão viçosos e verdejantes, para proclamar que o Senhor é justo. Ele é a minha rocha; nele não há injustiça.” (Salmo 90.12-15)
Salmo 90.12
“Os justos florescerão como a palmeira, crescerão como o cedro do Líbano.”
Homens e mulheres de Deus, aqui chamados de justos, florescem como a palmeira. E crescem como o cedro do Líbano.
Filipenses 2.14-16
Façam tudo sem queixas nem discussões, de modo que ninguém possa acusá-los. Levem uma vida pura e inculpável como filhos de Deus, brilhando como luzes resplandecentes num mundo cheio de gente corrompida e perversa. Apeguem-se firmemente à mensagem da vida.
Como será sua igreja daqui a 5 ou 10 anos?
Só idosos?
Só jovens?
Idosos e crianças?
Intergeracional?
Qual será seu papel na igreja daqui a 5 ou 10 anos?
O mesmo que hoje, mas num ritmo menor, capacitando os da próxima geração?
Ajudando a fazer surgir novos ministérios?
Ajudando a estabelecer ministérios fora da igreja?
Dedicação a uma segunda carreira?
“O mais importante é que vocês vivam em sua comunidade de maneira digna das boas-novas de Cristo.” (Fp 1.27)
Qual é o papel da igreja para os 60+?
Entender a diversidade 60/70/80/90+
Oferecer um pastor para esse(s) grupo(s)
Organizar ministérios que ajudem esse(s) grupo(s) a florescer
Se a igreja pedir, faça. Se não pedir, junte-se a mais duas pessoas para pensarem na necessidade que estão vendo e como podem supri-la. E comecem. Se estiver dando certo e começar a crescer, apresente para a igreja.
Daniel Yoshimoto é casado há 30 anos com a Lili, engenheiro, revisor, tradutor, pastor, articulador social, pastor metodista livre e presbiteriano, pai do Jonathan, Ester e Sayuri. MDiv (primeiro aluno não chinês do Servo de Cristo), pastor por 24 anos da IMeL Sorocaba e há 8, da ISP, uma igreja presbiteriana chinesa. Gosta de ler e ainda joga basquete.
“Somos caçadores da foto perdida”. De certa forma, isso realmente nos motiva
Por Muryllo de Queiroz Casséte
Meu nome é Muryllo, tenho 67 anos e sou médico. Sou casado com Xênia, pai de Mariah e Jônatas. Desde a adolescência gosto de fotografar, porém nunca fiz nenhum curso específico e fui aprendendo um pouco com a prática. Considero uma ofensa aos profissionais quando me chamam de fotógrafo. Sou apenas um diletante.
Fotografar sempre teve para mim duas vertentes: a memória, quando fotografo familiares, encontros diversos, passeios com amigos e eventos na igreja. O segundo aspecto é a busca por beleza em qualquer forma e em qualquer lugar. Gosto de amplidões com elementos solitários; de animais, aves, insetos, de texturas várias como cascas de árvores, folhas, bolhas, gotas; de objetos ou seres muito pequenos (macrofotografia), onde posso garimpar o belo quase oculto.
Seja no pequeno ou nas vastidões, seja nos seres vivos ou objetos, sempre podemos vislumbrar o gênio criativo do nosso Deus. Como nos ensina a Bíblia: “Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos” (Sl 19.1-2).
Hoje, me sensibilizo com as fotos preto e branco. Endosso e confirmo uma frase do mestre Sebastião Salgado: “As cores podem nos distrair”. Porém, também gosto de brincar com fotos coloridas, saturando as cores ao extremo e descobrindo nuances e tons escondidos. Enfim, procuro estar atento ao que me cerca, pois frequentemente tropeçamos no belo.
Numa viagem a Fernando de Noronha o avião circulou pra nos mostrar do alto uma pitada da beleza que veríamos na ilha. Um rapaz a bordo, que também fotografava me disse: “Sempre somos caçadores da foto perdida”. De certa forma, isso realmente nos motiva.
Muryllo de Queiroz Casséte é médico ginecologista e faz parte da Cooperativa Unimed em Belo Horizonte, MG. Ele e sua esposa, Xênia Casséte, são membros da Igreja Batista da Redenção na capital mineira.
>> Clique aqui e conheça uma galeria de fotos de Muryllo Casséte <<
Com certeza, na história de minha vida há batalhas que ora ganhei, ora perdi. E sei que seguirá assim. No entanto, posso dizer como o profeta Samuel: “Até aqui nos ajudou o Senhor!”
Por Xênia Marques Lança de Q. Casséte
Nasci em 1959, por isso faço parte da “Geração Baby Boomers” – nome que faz referência ao aumento de nascimentos após a Segunda Guerra Mundial. De fato, meus pais se casaram em 1955 e já em 1957 tiveram o primeiro dos cinco filhos. Eu sou a segunda. Me identifico com algumas das características observadas na “Geração Baby Boomers” como por exemplo: priorizar a estabilidade, dar valor ao casamento, à compra de um carro, ter uma casa própria, fazer um curso superior e frequentemente ter medo da inovação. E por me identificar de fato, olhando para trás e para o presente vejo que caminhei até aqui conquistando sonhos por meio das lutas, somente pela bondade do Senhor.
Meus pais que pertenceram à chamada “Geração Silenciosa” – os que arcaram com as consequências da Grande Depressão e da Segunda Guerra Mundial e sofreram muitos traumas e dificuldades financeiras (o que ocorreu também nos países da América do Sul). Por isso, Amaro e Olga, meus queridos pais que já estão com o Senhor, eram reservados, românticos, mas com os pés no chão; aprenderam francês e latim na escola e conseguiam ler, escrever e até falar um pouco, especialmente meu pai. Gostavam de futebol e do rádio, onde ouviam notícias, músicas e até radionovelas. Iam ao cinema para ver as grandes produções das décadas de 50 e 60 e liam muito. Também se preocupavam com a própria educação – todas as sextas-feiras viajavam sessenta quilômetros para fazer os cursos de história e de pedagogia em uma cidade onde havia uma faculdade – e com a educação dos seus filhos. Para isso, se esforçaram muito para comprar uma casa em Belo Horizonte (BH), com o objetivo oferecer aos filhos a oportunidade de fazer um curso superior na capital.
Foi assim que, quando adolescente, vim estudar em BH. Depois de tentar três vestibulares, passei na PUC-Minas para o curso de comunicação social e recebi primeiro o diploma de bacharel em relações públicas (RP). Na época, a convite do pastor Manfred Grellert, tive o privilégio de trabalhar na ONG Visão Mundial (VM), cuja sede era na capital mineira. Trabalhei com a equipe de comunicação social da VM e foi lá que decidi voltar à faculdade para fazer jornalismo.
Conheci meu marido, Muryllo (Mury), e nos casamos no mesmo ano em que me formei na faculdade. Desde então compartilhamos alguns pensamento e sonhos iguais. O amor a Deus, o amor à família, o amor ao próximo, à justiça e à paz. Passamos nossa infância e adolescência dentro de um regime de ditadura militar no Brasil que durou 21 anos.
Isso deixou uma marca em nossas vidas como na de todos os que viveram a situação. Por isso, fizemos questão de, recém-casados, irmos juntos às ruas de nossa cidade para engrossar o grito pelas “Diretas Já”, um movimento político com grande apoio da sociedade entre os anos de 1983 e 1984, que pedia por eleições diretas no Brasil em 1985. Infelizmente, o imenso apoio popular à Emenda Dante de Oliveira não foi suficiente para a sua aprovação, mas ali, a partir daquele movimento histórico, o fim da ditadura militar se materializou e finalmente, no ano de 1985 o Brasil teve a abertura política tão desejada e ficou livre da opressão, repressão, perseguição política, violência, mortes e falta de liberdade impostas ao povo brasileiro pelo golpe militar em 1964.
Nós engravidamos da primeira filha, nossa querida Mariah, em 1986. Com o nascimento dela, trabalhar oito horas ficou pesado e prejudicou tanto o passar o tempo como o acompanhar mais de perto seu crescimento, assim como com nosso amado Jônatas, o segundo filho, que nasceu em 1989. Naquele momento, Deus me mandou a bênção de poder trabalhar nas páginas diárias do Diário Oficial do Estado de Minas Gerais com uma carga horária de apenas cinco horas. Foi uma grande alegria e alívio para a culpa. Fiz a prova e fui aprovada para trabalhar como repórter do jornal que, à época, tinha vinte e seis páginas e várias editorias. Passei por quase todas. Tive chefes e colegas maravilhosos que foram generosos e me ensinaram muito.
Exerci a profissão de jornalista com muita alegria em cumprir a rotina das pautas diárias, entrevistas e a volta à redação para escrever as matérias. Foram trinta e oito anos (com pequenas paradas) trabalhando como repórter, editora, assessora de imprensa. Descobri a alegria do jornalismo e as suas tristezas também. Mas me encontrei na profissão que nos permite estar sempre ligados ao que acontece na cidade, no país e no mundo e também interagir, aprender, pesquisar, conhecer pessoas da cultura e artes, da política, economia, saúde, educação, religião. E conviver com os colegas foi uma benção à parte. Somos amigos até hoje, nos encontramos regularmente, quase todos já aposentados como eu.
A aposentadoria acabou trazendo o medo de perder tudo ao que havia me dedicado na fase mais produtiva da vida, mas Deus esteve comigo nessa fase também, orientando e me dando sabedoria para tomar decisões importantes para esta fase que ainda pode dar muitos frutos, como nos ensina a Bíblia e diversas pesquisas sobre o envelhecimento. Segundo Priscilla Neves, psicóloga e especialista em gestão de recursos humanos, viver mais e de forma produtiva já é um fato no mundo atual: “Até um tempo atrás, a aposentadoria vinha na faixa dos quarenta anos e com um sentido de ciclo produtivo finalizado, de invalidez. Hoje, as pessoas se posicionam de forma diferente e o recado que elas querem dar é de que ainda estão ativas e antenadas”. Para ela, muitas pessoas estão se preparando para parar de trabalhar cada vez mais tarde: “Vamos chegar em um ponto em que o limite não será mais a legislação, e sim o limite de cada um”. E isso é muito bom!
Já no ano seguinte ao da minha aposentadoria fiz uma especialização em revisão de texto em um curso à distância. Revisei alguns livros de amigos e familiares e percebi que também posso ser produtiva nesta área, com tranquilidade e alegria. De acordo com um estudo da Universidade de Warwick, no Reino Unido, à medida que as pessoas passam dos 50 anos, os seus níveis de stress, preocupação e raiva diminuem significativamente e “apesar do declínio físico, as pessoas se sentem mais felizes à medida que envelhecem”. O estudo ainda afirma que isso pode se dar “devido ao fato de que os idosos têm melhores habilidades para lidar com as dificuldades ou circunstâncias negativas da vida em comparação com pessoas mais jovens”. Eu posso dizer que esta tem sido uma realidade em minha vida.
E nós, que estamos por aqui neste 2024, passamos por uma pandemia assustadora, a Covid-19 que matou mais de 700 mil pessoas só no Brasil. Perdemos familiares e amigos e vivemos um tempo de medo e angústia. Tomei e tomo todas as vacinas, que são o recurso que Deus dá à humanidade de se livrar de tantas doenças e pandemias. Alguns não quiseram ser vacinados, infelizmente. Mas mesmo já tendo uma idade mais avançada, a maioria de nós conseguiu recuperar a saúde psíquica e guardar a fé, graças a Deus e à capacidade que Ele nos dá de resistência e o fruto da alegria no Espírito Santo.
Minha profissão se tornou também minha “segunda carreira”, sugerida por Paul Tournier no livro Aprender a Envelhecer. Isso é mais uma benção e um desafio. E durante a pandemia da Covid-19 eu tive o privilégio de vir a fazer parte da equipe do Coletivo Bereia de informação e checagem de notícias, onde estou até agora. No Bereia, jornalistas e outros profissionais têm feito um excelente trabalho já reconhecido no Brasil e no exterior. O fact-checking é uma checagem de fatos que confronta informações com dados, pesquisas e registros. Isso se tornou extremamente necessário em um mundo de tecnologias avançadas, redes sociais diversas que facilitam a produção e difusão de informações falsas, duvidosas, que não correspondem à verdade em muitas ocasiões. As conhecidas fake-news que se tornaram muito presentes na sociedade, especialmente na política.
Sou muito agradecida a Deus, ao Coletivo Bereia e, mais recentemente, ao Movimento Cristão 60+ (MC 60+) que também me deu a oportunidade de fazer textos e matérias para o blog e também para a revista Ultimato. Agradeço muito à Klênia Fassoni, diretora da Editora Ultimato, que confiou em mim e tem me dado oportunidades de escrever para o site Ultimatoonline exercendo minha profissão também como uma segunda carreira.
Minha vida não tem sido uma guerra, mas com certeza há algumas batalhas que ora ganhei, ora perdi. E sei que seguirá assim. No entanto, posso dizer como o profeta Samuel: “Até aqui nos ajudou o Senhor!” E graças a Deus também posso lembrar o salmista: “Grandes coisas fez o Senhor por nós e por isso estamos alegres” (Sl 126.3). Quero seguir com esta certeza e esperança até quando encontrar com o meu Salvador.
Xênia Marques Lança de Q. Casséte é jornalista, esposa e mãe. Membro da Igreja Batista da Redenção, faz parte da equipe do Coletivo Bereia de informção e checagem de notícias.
Referências
O Globo. “Trabalho na 3ª idade: é possível se sentir produtivo depois dos 60?”. Disponível aqui.
O Globo. “Com que idade somos mais felizes? Ciência faz descoberta surpreendente”. Disponível aqui.
Outro dia, escrevi que a noite ou a madrugada são bons momentos para Deus me falar, mas não é este quando (dia ou noite) que é referido nesse título. O “quando” do título quer informar o seguinte:
Deus fala comigo enquanto leio a Sua Palavra.
Deus fala comigo quando estou cantando certos hinos.
Deus fala comigo enquanto estou orando.
Deus fala comigo enquanto fico quieto, meditando.
Deus fala comigo quando tem um recado ou uma ordem para mim.
Deus fala comigo quando lhe presto atenção.
Deus já falou comigo pelo WhatsApp. É uma realidade recente.
Deus sempre fala pelo Seu Espírito.
Poderíamos também perguntar: Como Deus fala comigo? De viva voz? Talvez os meios serão outros e poderíamos fazer outra lista, parecida com a anterior. O que importa, é o fato de que Deus fala e nós lhe devemos atenção. Às vezes Deus precisa usar palavras duras, como encontramos nos livros dos profetas, mas, na maioria das vezes, o recado termina com palavras amorosas, de consolação, de ânimo, de esperança, e promessas incontáveis.
Assim sendo, fiquemos atentos para quando Deus nos diz alguma coisa, e repito aqui as ocasiões, para que todos se lembrem desses momentos preciosos:
Enquanto leio a sua Palavra
Existem várias maneiras de se ler a Palavra: De acordo com um plano de leitura, cumprindo o estabelecido de ler por dia três trechos estabelecidos. Na minha opinião esse sistema não é produtivo; estaremos cumprindo uma meta e nada mais.
A melhor maneira, no meu entender é orar antes, para que Deus nos revele o que precisamos saber, lendo em qualquer parte da Bíblia, prestando atenção para descobrir o que aquele texto diz a mim. Tenho também feito boa experiência ao escolher, por exemplo o livro de Isaías, para ler um trecho por dia, do começo ao fim, sem pressa nem prazo estabelecido, verificando também o que aquela palavra tem a dizer a mim pessoalmente.
Ao tentar descobrir a mensagem de Deus nos hinos
Geralmente acontece que estes contêm uma afirmação de consolo, de reanimação, de submissão, de alegria e de fé. São incontáveis as letras de hinos com uma mensagem para o nosso coração. É Deus se comunicando.
Talvez o modo mais clássico, se assim podemos dizer, é quando estamos orando
Eu falo, Deus responde, eu peço, Ele atende, de preferência como Jesus recomendou, fechando-se no quarto e a sós.
Também quando fico quieto, meditando, Deus fala
Há duas condições difíceis de praticar: Ficar quieto. Nosso interior costuma ser muito agitado, e há na nossa mente várias coisas ao mesmo tempo. Ficar quieto para poder escutar o sussurro do Espírito Santo, precisa ser treinado. Com o nosso pensar também é quase assim. Precisamos de disciplina mental para não deixar a mente vagar, mas ficar concentrada no objetivo que temos.
Às vezes Deus fala quando tem uma tarefa para nos dar
Estávamos distraídos com outras coisas, nem pensávamos em Deus, quando de repente Ele nos envia a algum lugar para fazer determinado trabalho.
Finalizando esse comentário, quero ainda dizer que podemos ouvir Deus, quando lhe damos atenção, deixando de lado qualquer outra ação ou pensamento, dizendo: Fala Deus! E Ele fala.
Wilfried Körber nasceu em Göttingen na Alemanha em 1931 e vive no Brasil desde 1937. Converteu-se aos 16 anos na então Igreja Alemã Batista Zoar, frequentada por sua mãe. Membro fundador da Igreja Batista Filadélfia de São Paulo, envolveu-se com o trabalho de evangelização de crianças e missões, com sua esposa Gisela, de saudosa memória. Há mais de uma década escreve textos para o devocionário Presente Diário. Atualmente vive em Sorocaba, SP. @lampadaparaosmeuspes_.
Na primeira devocional do IV Encontro MC60+, Ágatha Cristian Heap, pastora auxiliar na Igreja do Nazareno em Atibaia, SP, e mestre em religião com ênfase em teologia, lembrou aos presentes da promessa de Deuteronômio 7.9: “Saibam, portanto, que o Senhor, o seu Deus é Deus, ele é o seu Deus fiel que mantém a aliança e a bondade por mil gerações daqueles que o amam e obedecem aos seus mandamentos”. A pastora disse aos participantes do encontro: “Conscientes da bondade e soberania de Deus, podemos caminhar em paz. Isso também nos impulsionará a servir. Podemos escolher amadurecer ou apodrecer”.
Ágatha relatou um diálogo entre os personagens Charlie Brown e seu cachorro filósofo, Snoopy: “Charlie Brown, realista, disse: – Um dia nós vamos morrer, Snoopy. E com sua sabedoria canina, Snoopy respondeu: – É, mas até lá, em todos os outros, nós vamos viver”
Experiências das igrejas com 60+
Ainda no primeiro dia do encontro foram compartilhadas as experiências de algumas igrejas que já têm um ministério específico com os 60+. O irmão Elias Bispo falou sobre o trabalho “Águias de Cristo” da Igreja Presbiteriana Madalena, em Recife, PE, que há 30 realiza anos o projeto “Engata Terceira” que abriu um diálogo intergeracional com idosos e jovens da comunidade. Os cerca de 130 idosos do projeto participam de classes da Escola Bíblica Dominical (EBD) com temas específicos; são integrados ao Ministério de Missões da igreja, com preparação de cultos missionários, onde os 60+ aprendem e cantam hino na língua do país em foco; fazem a decoração em eventos especiais; recebem o pastoreio necessário para este tempo da vida.
Em seguida, Cheng Lin que faz parte do grupo criador do MC60+ e é membro da Igreja Batista da Redenção em Belo Horizonte, contou sobre a experiência do Grupo 60+ da igreja, que teve início há dois anos e já reúne mais de 80 pessoas nas rodas de conversa e palestras com vários temas pertinentes a esta etapa da vida. Também estão estudando juntos o livro Culpa e Graça, do psiquiatra cristão Paul Tournier. Outros dois livros do mesmo autor já foram estudados: A Missão da Mulher e Aprender a Envelhecer, todos da Editora Ultimato.
Também a Igreja Ação Evangélica (Acev), há 86 anos em Patos, no sertão da Paraíba, compartilhou mais uma vez o trabalho social da igreja que trabalha com projetos de perfuração de poços comunitários para a população pobre da região, saneamento comunitário com a construção de banheiros, hortas comunitárias, doação de cabras e kits de galinheiro e 2 galinhas para a sustentabilidade das famílias. E um outro projeto da Acev é o “Melhor Idade”, que reúne mulheres idosas uma vez por semana para oração, celebração, compartilhamento e atividades específicas.
Cristolândia
Alex e Rafaela, missionários da Missão Batista Cristolândia em Parelheiros, distrito da zona Sul de São Paulo, SP, que trabalham com a missão de resgatar, reeducar, evangelizar, discipular, ressocializar e devolver às famílias as pessoas usuárias de drogas. Contaram que vários voluntários com mais de 60 anos ajudam a instituição levando pastoreio aos assistidos pela Cristolândia e para os missionários que ali trabalham, além de oferecerem cursos diversos. “Robert Koo é um desses voluntários. Várias igrejas têm enviado voluntários, além de cestas básicas. A irmã Odete, 77 anos, sai do bairro da Penha uma vez na semana para ensinar crochê e bordado na Cristolândia de Parelheiros, que fica a 60 km da capital”, contaram os missionários. E o próprio Alex, missionário hoje na instituição, compartilhou um pouco da sua história de restauração de vida a partir da iniciativa de um irmão 60+ que se disponibilizou a conseguir uma vaga na Cristolândia para ele, que era usuário de drogas desde a adolescência e vivia nas ruas. Por causa do gesto de bondade e interesse daquele irmão idoso, Alex foi recebido pela instituição, passou pelo processo de desintoxicação e creu em Jesus e foi discipulado. Posteriormente, Alex fez o seminário teológico e foi convidado para ser missionário na Cristolândia, onde serve e coordena hoje, com sua esposa.
Panorama dos 60+ no Brasil
O engenheiro e consultor organizacional, Oseas Heckert apresentou um panorama sobre a situação dos 60+ no Brasil. Heckert falou sobre os direitos do cidadão 60+ no Brasil, e citou o Estatuto do Idoso (Lei 10.741/2003); a Política Nacional do Idoso (Lei 8.842/1994) e dos benefícios da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS). Entre os benefícios estão a gratuidade nos transportes públicos municipais, gratuidade de medicamentos, proteção do Estado contra a violência física, financeira e psicológica, e outros. O palestrante também apresentou gráficos sobre o envelhecimento da população mundial que apontam o Brasil com 40% (75 milhões) de pessoas 60+ no ano de 2.100 (World Population Prospects: The 2017 Revision).
De acordo com o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) 2022, hoje, no Brasil, a população com 60+ representa 15,8% (32 milhões) de pessoas. E conforme os dados apresentados pelo palestrante, esse crescimento da população idosa no mundo e no Brasil já representa um cenário de sérias dificuldades socioeconômicas. Especificamente no Brasil, a previsão para o ano de 2.051 é que o número de beneficiários do INSS superará o de pagadores de impostos, a população ativa.
Futuro
“Precisamos falar sobre o futuro” foi a palestra do administrador, consultor e futurista social, Volney A.Faustini, membro da 1ª. Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo. Ele garantiu aos presentes do IV Encontro MC60+ que não importa o que seja: idade, limitações etc, cada pessoa 60+ deve: 1) Pensar no seu legado – sua contribuição; 2) Ir ao encontro ao seu chamado – sua missão e 3) Construir o seu futuro – seu kairós.
Concluindo, ele chamou os presentes à reflexão: “A vida boa não é algo que um dia você vai alcançar. É um estilo de vida” e citou dois versículos bíblicos: “Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus” (1Pe 4.10). “Uma geração contará à outra a grandiosidade dos teus feitos; eles anunciarão os teus atos poderosos” (Sl 145.4).
Lectio Divina
A devocional do último dia foi dirigida por Dora Bomilcar Andrade, coordenadora de Oração da Associação de Missões Transculturais (AMTB), que convidou os participantes do Encontro a acalmar a alma e a pedir a Deus para abrir os olhos e falar aos seus corações naquela manhã. “A humildade vai permitir você escutar a voz do Senhor, hoje”, disse Dora. Ela levou todos a fazerem uma “lectio divina” ou uma leitura orante da palavra de Deus. Enquanto todos silenciaram, a dirigente leu várias vezes o texto de Isaías 46:4: “Eu sempre cuidei de vocês. Mesmo na sua velhice quando tiveram cabelos brancos sou eu que os ajudarei, carregarei e os sustentarei”. A pergunta aos presentes, em leitura orante: “O que eu respondo ao Senhor motivado no que escutei?” E convidou todos ao tempo de leitura, silêncio, oração e finalizar escrevendo o que Deus falou a cada um particularmente.
O casal Flanalion e Maria Gracia Tenório de Albuquerque, da cidade de Lavras, MG, disseram estar muito felizes por virem ao Encontro. Gracia, que é católica, disse que foi muito importante participar porque desde sua adolescência se sentia chamada para a obra de Deus, mas nunca se envolveu ativamente. “Aqui eu vi que ainda é tempo de plantar. A palavra do senhor de 93 anos (Wilfried Korber) me fez entender que tenho que ter uma atividade e vou procurar fazer isso agora”. O médico veterinário, Flanalion, contou que foi membro de uma igreja presbiteriana, mas que se desligou e está desigrejado no momento. Fomos incentivados pela filha a participar do Encontro e foi muito bom! “Vi que ainda existem possibilidades e que sempre podemos fazer algo ou colaborar. Fomos muito desafiados neste ambiente de convivência tão boa. Agora meu período de validade está estendido. Eu sempre falei que era só até os 70. Estou com 67 anos e me reencontrei aqui. Eu sempre pedi a Deus que me falasse o que fazer. O encontro me permitiu ouvir a voz de Deus”, falou emocionado.
A jornalista Marília de Camargo César, membro da Igreja Batista de Água Branca, em São Paulo, autora dos livros O Grito de Eva, Feridos em Nome de Deus e Entre a Cruz e o Arco-íris chegou ao Encontro para conhecer mais uma atividade importante para o empresário Jiro Nishimura, 82 anos, membro da Igreja Holiness, fundador e presidente por anos da empresa Jacto Máquinas Agrícolas, uma potência no agronegócio no país. Marília foi convidada por ele para escrever sua biografia. A jornalista se disse encantada com o encontro e com tanta gente reunida com um objetivo. “Me emocionei com os cânticos que cantei na juventude”. Ela não veio como participante, mas se sentiu abençoada por poder ver tantos 60+ reunidos em um novo movimento da igreja que muitos ainda não conhecem. “Precisa ter mais divulgação para que as igrejas se envolvam, porque é muito importante neste momento em que o país está envelhecendo, muita gente desmotivada, isolada e solitária. Vim por um motivo e acabei enxergando outras coisas também muito importantes”, disse a jornalista.
Xênia Marques Lança de Q. Casséte, é jornalista, membro da Igreja Batista da Redenção, em Belo Horizonte, onde participa do Grupo 60+, e faz parte da equipe do Coletivo Bereia – Informação e Checagem de Notícias.
O IV Encontro do Movimento Cristão 60+ (MC60+) foi realizado nos dias 23 a 25 de setembro, na Estância Árvore da Vida, em Sumaré, SP. O período de louvor e adoração foi dirigido por Lili Yoshimoto, pastora, música e fundadora do Ministério Mais Barnabés. O encontro teve início com o jantar no dia 24/9 e no local formou-se uma fila extensa dos 60+ que chegavam para participar. Alguém que procurava um lugar na fila, perguntou com bom humor: “Não tem preferencial para idoso?”. A gargalhada ecoou.
Estiveram presentes no IV Encontro do MC60+ cerca de duzentas pessoas de várias partes do Brasil, a partir de 40 anos e até algumas crianças. Mas o participante mais idoso, que recebeu uma homenagem no encerramento do evento, tem 93 anos e conquistou a todos. Wilfried Körber, membro da Igreja Família de Sorocaba, SP, é muito alegre, extrovertido e demonstrou muita lucidez e sabedoria do Alto quando falou ao grupo reunido na Estância Árvore da Vida. Ele escreve e pinta telas, que vende para ofertar para missões.
O sr. Wilfried se aposentou aos 79 anos e cuidou da esposa enferma, que veio a falecer, infelizmente, mas enquanto isso ele decidiu que deveria gastar melhor o seu tempo com Deus: “Preciso usar meu tempo de forma útil para Deus até eu morrer”, disse aos presentes. Leu o texto de Mateus 21.18-19, e disse que “O importante é que nenhum de nós esteja ocupando inutilmente lugar no Reino de Deus”. E desafiou todos: “Neste tempo da vida, não fiquem parados ou vão enferrujar. Se não tiverem condições de sair, sejam intercessores”.
A palestra “O que a Igreja pode fazer pelos 60+ e o que os 60+ podem fazer pela igreja” foi ministrada pelo pastor da 1ª. Igreja Presbiteriana Formosa de São Paulo, Daniel Yoshimoto, que afirmou: “Uma igreja que abrange todas as gerações é a mais saudável”. E disse que há muitas possibilidades de trabalho na igreja de hoje para os membros 60+ e há ministérios novos fora da igreja também, como por exemplo: ser conselheiro, trabalhar em projetos sociais, se dedicar a missões e até ser missionário, trabalhar com refugiados e com estudantes que chegam de fora e não têm família para acolhê-los. “Talvez seja possível ter um pastor específico para os 60+ da igreja, o que pode ser uma oportunidade para alguém 60+”, disse o pastor.
Yoshimoto sugeriu que todos façam a pergunta: “Qual o meu papel na igreja neste momento?”. E aconselhou: “Mas o mais importante é viver de modo digno do Evangelho de Jesus Cristo”.
A Bíblia e a velhice
Erni Seibert, diretor-executivo da Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), trouxe ao IV Encontro o tema “A Visão Bíblica sobre a velhice”, e usou vários textos e personagens bíblicos para dar um panorama sobre as diversas maneiras de olhar a velhice nos tempos bíblicos e nos dias de hoje. O palestrante fez várias perguntas cujas respostas foram demonstradas na Bíblia: 1) Qual a nossa visão sobre velhice? 2) O idoso é sábio? 3) A velhice é ruim? 4) O idoso atrapalha ou ajuda?; 5) O idoso tem uma missão a cumprir?; 6) A velhice é uma fase produtiva ou é o declínio da vida? (Jó 12:12-13, Salmos 92:13-15, Nm 8:24-26, Zacarias 8: 4, Provérbios 23:28, Isaías 65:20-22, Eclesiastes 9:10, Tito 2:2-5, Isaías 46:3-4).
Erni Seibert disse que o nosso comportamento neste momento da vida depende de nossa visão da velhice. O que pensamos? A velhice é benção? Castigo? Depende?… E continuou dizendo que “o idoso é diferente, não é menos ou mais”, e citou Provérbios 16:31: “Os cabelos brancos são uma coroa de honra que é encontrada no caminho da justiça”. Então, pode-se deduzir que a coroa de honra é para os que trilham ou trilharam os caminhos de Deus.
Envelhecer e viver bem
Ageu Heringer Lisboa, psicólogo e membro fundador do Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos (CPPC) e seu primeiro presidente, dirigiu uma das oito oficinas oferecidas durante o IV Encontro MC60+. Com o tema “Envelhecer com sentido, dignidade e relevância” a oficina teve o maior número de participantes do evento. Ageu convidou a educadora Paula Dallapiccola para dar um testemunho pessoal de sua caminhada como 60+ trabalhando para viver com sentido, dignidade e relevância. Segundo o palestrante, “Há vários modos de envelhecer e morrer: cultura, tradições familiares, Bíblia, mas o que importa, como disse Paul Tournier, é ‘Aprender a envelhecer e viver bem até o fim’”. Ageu incentivou os presentes a terem este objetivo e trabalhar por ele.
O palestrante disse que nós existimos no presente e que neste tempo lançamos sementes, as cultivamos e deixamos legados para as futuras gerações. Para isso nós precisamos viver e morrer com dignidade, sentido e relevância. Envelhecer com dignidade denota integridade, elevação ética, moral espiritual. “Viver de modo digno do Evangelho” de Cristo; envelhecer com sentido significa ter alvos, direção, propósito e autodoação generosa e criativa. E envelhecer com relevância é o resultado dos dois primeiros modos. Isso acontece no âmbito familiar e comunitário, onde temos a oportunidade de ser “o bom perfume de Cristo”, informou o psicólogo.
Ageu aconselhou: “Nossas vidas precisam ser desfrutadas como imagem e semelhança do Criador”. E citou o texto de Eclesiastes 3: “Há tempo para todas as coisas…tempo de morrer”. E acrescentou: “Nós precisamos também ter em mente a possibilidade da morte, que é um tempo impregnado do sagrado”. Para isso será preciso realizar tarefas prévias e planejar as póstumas com gratidão a Deus pelo tempo da vida.
Segunda carreira
O pastor, empresário e professor, Robert L.Koo, que faz parte do Núcleo Facilitador do MC60+, compartilhou com os participantes do Encontro o significado da “Segunda carreira”. “O dom de Deus e seu chamado são irrevogáveis, e independem da idade que tenhamos. Talvez vocês tenham esquecido seu dom e talento, mas agora é tempo de redescobrir”, disse Koo.
Segundo o palestrante, “é preciso pensar no sentido da vida neste momento e perguntar: – O que devo fazer?”, Para o pastor Robert, especialmente na velhice devemos nos oferecer para trabalhar para o Reino de Deus. “A segunda carreira tem esse propósito, porque é o que Deus quer que façamos. O ingrediente mais importante da segunda carreira é a vontade de Deus”, afirmou. Robert lembrou que o tempo é a nossa maior riqueza e disse que é necessário conhecer a si mesmo, saber suas limitações e não escolher uma Segunda Carreira sob pressão. “Pergunte-se: Qual é sua maior experiência neste tempo de sua vida?”.
Cuidar de si mesmo
O pastor, escritor e professor Gilton Medeiros, que é também o diretor executivo e fundador do Ministério Vida Radiante – Centro de Juventude e Cultura Cristã, ministrou a última palestra do IV Encontro do MC60+ com o título: “Novas maneiras de cuidar de si mesmo”. Ele disse que é possível observar uma perda paulatina do significado do que é ser gente. Hoje, “Intensifica-se a tendência de o mundo transformar as pessoas em número e um agente destinado a apenas consumir”, disse pontuando as marcas do atual cenário. E em meio às dificuldades que encontramos, o pastor aconselhou os 60+ com o texto de Mateus 6.27: “E qual de vós poderá, com todos os seus cuidados, acrescentar um côvado à sua estatura?”. Ele reafirmou a importância do cuidado de si mesmo nesta fase da vida. Para isso, é necessário que o 60+ entenda que “não tem controle sobre os fatos essenciais da vida como a saúde, as circunstâncias econômicas, sociais e políticas, com o clima e etc”.
Pr. Gilton recomendou que o 60+ deve viver plena e abundantemente e oferecer sua vida e talentos ao Senhor e para o crescimento do Seu Reino. “É preciso servir a Deus mais e melhor. Há muita coisa para se fazer e a nossa aposentadoria é no Céu”, afirmou. Segundo o palestrante, para cuidar melhor de si, o idoso deve deixar o passado no passado (Fp 3.13-14); assumir uma nova atitude – intencionalidade; planejar, programar a vida; construir relacionamentos intencionais; estabelecer objetivos concretos, alvos mensuráveis e metas que sejam desafios. O palestrante animou os 60+ do encontro a fazerem um inventário dos seus hábitos (bons e ruins), se propor a aperfeiçoar os bons hábitos e a eliminar os ruins.
Mais do que o esperado
Os participantes do IV Encontro do MC60+ não se cansavam de dizer que foi um tempo de muito aprendizado, que receberam mais do que esperavam tanto de ensino quanto de comunhão e alegria. O casal de Ponte e Lacerda, MT, pastor Manuel E. C. Oliveira e sua esposa Dazinha Chaves Oliveira, teóloga, que souberam do encontro pela Revista Ultimato disseram que foi maravilhoso encontrar pessoas que estão passando pelas mesmas coisas. “Nos reencontramos com esta nova realidade da vida, conhecemos irmãos com quem pudemos compartilhar além das palestras que nos ajudaram a refletir e a criar uma nova vida. Foi muito gratificante para nós”, disseram, anunciando que quando voltarem à Primeira Igreja Batista de Ponte e Lacerda vão reunir os 60+ da igreja, fazer cultos, cantar hinos do hinário Cantor Cristão e outras atividades compartilhadas no evento em Sumaré.
Para o casal Pr. Paulo e Dora Andrade, de Atibaia, SP, o encontro foi maravilhoso por reunir e dar esperança a um grupo marginalizado pela sociedade e incentivou todos a seguirem em frente, “porque não estamos mortos e ainda temos uma missão no Reino de Deus e um papel importante no mundo”, disse o pastor. Outro ponto positivo citado por Dora foi conviver com pessoas que têm as mesmas dificuldades, fazer novas amizades e uma troca generosa.
Despedidas
O encerramento do IV Encontro do MC60+ na manhã do dia 25/9, reuniu todos ao redor da mesa para a celebração da Ceia, em memória do Senhor e Salvador Jesus. Robert Koo dirigiu o momento. Ao final, muitos abraços, sorrisos e despedidas emocionadas. Em seguida a parada para foto de todo o grupo, que já é marca dos encontros. E a esperança de que haja muitos frutos individuais e na igreja brasileira para servir e desafiar a população que está envelhecendo.
Xênia Marques Lança de Q. Casséte, é jornalista, membro da Igreja Batista da Redenção, em Belo Horizonte, onde participa do Grupo 60+, e faz parte da equipe do Coletivo Bereia – Informação e Checagem de Notícias.
Alguns chamam a velhice de bênção. Outros a consideram um castigo. Alguns pensam que na velhice a pessoa tem mais sabedoria. Para alguns os idosos têm uma missão a cumprir, para outros, é apenas o declínio da vida. Como você vê a velhice?
Na mitologia grega, contava-se que na cidade de Tebas havia uma esfinge (personagem com cabeça humana e corpo de animal) que desafiava os que ali passavam com um enigma. Se a pessoa não soubesse a resposta, ela era devorada. O enigma perguntava: “Quem, de manhã, anda com quatro pernas, de tarde, anda com duas, e, de noite, anda com três?” Ninguém havia conseguido responder, até que chegou Édipo. Esse herói mitológico, com uma história muito complicada, respondeu que era o ser humano. O homem, no amanhecer da vida engatinha com quatro pernas. Na idade adulta, anda com duas pernas. E, no entardecer da vida, usa bengala, andando com três pernas. Diante dessa resposta, a esfinge se atirou no despenhadeiro e morreu. Nessa visão mitológica, a velhice é o fim da vida, com certas limitações, mas pode trazer também certas possibilidades.
A visão que temos da velhice irá nos orientar sobre como encará-la e sobre como viver este tempo tão especial. Existem muitas maneiras de ver a velhice. Muitas visões parecem contraditórias. Mas elas podem coexistir, como num paradoxo. Vejamos algumas dessas visões. Alguns chamam a velhice de bênção. Outros a consideram um castigo. Alguns pensam que na velhice a pessoa tem mais sabedoria. Outros veem os velhos como ultrapassados. Para alguns a velhice atrapalha, para outros, ela ajuda. Para alguns os idosos têm uma missão a cumprir, para outros, é apenas o declínio da vida. Como você vê a velhice?
A visão determina o comportamento
A visão que temos da velhice tem vários componentes. Um primeiro aspecto que precisamos considerar é que a nossa visão é moldada por nossa experiência e o nosso aprendizado. Cada pessoa tem experiências únicas. As experiências da pessoa começam com a sua criação, família, passam pela escola, igreja, sociedade, leituras, amizades e tudo o mais que constrói a vida de alguém. Mas, além das experiências pessoais, há outros aspectos importantes para a construção da visão.
A sociedade e a cultura nas quais a pessoa cresce transmitem valores que são absorvidos e assimilados. Essa absorção nem sempre é consciente. Por exemplo, se entra um idoso num ônibus e rapidamente mais de uma pessoa lhe oferece um lugar para sentar-se, isso ensina a todos uma lição da cultura local. Da mesma forma, se ninguém oferece um lugar ao idoso, isso ensina outra lição.
De uma maneira bem especial, a leitura e o estudo da Bíblia Sagrada formatam a visão que as pessoas têm sobre a velhice. A Bíblia é um livro que a maioria dos leitores considera relevante para suas vidas. Mas, nem sempre, o que a Bíblia ensina é o mesmo que a sabedoria popular ensina. Por exemplo, possivelmente a sabedoria popular concorda com a afirmação de que com os velhos está a sabedoria. Mas a Bíblia não diz isso. Em Jó 12.12-13 diz: “Está a sabedoria com os idosos? Será que a longevidade traz o entendimento? Com Deus estão a sabedoria e a força; ele tem conselho e entendimento.” A sabedoria não está com o ser humano só por ele ser velho. A sabedoria sempre está com Deus.
Para termos uma visão bíblica da velhice, precisamos ver o que o texto bíblico diz. Vejamos a seguir alguns exemplos.
Viver uma vida longa seria o normal para o ser humano. Deuteronômio 5.16: — “Honre o seu pai e a sua mãe, como o Senhor, seu Deus, lhe ordenou, para que você tenha uma longa vida e para que tudo vá bem com você na terra que o Senhor, seu Deus, lhe dá”.
O idoso deve ser respeitado e Deus deve ser honrado. Levítico 19.32: — “Fiquem de pé na presença das pessoas idosas e as tratem com todo o respeito; e honrem a mim, o Deus de vocês. Eu sou o Senhor”.
O respeito ao idoso deve ser uma prática de vida. 1Timóteo 5.1-2: “Não repreenda um homem mais velho; pelo contrário, exorte-o como você faria com o seu pai. Trate os mais jovens como irmãos, as mulheres mais velhas, como mães, e as mais jovens, como irmãs, com toda a pureza”.
O idoso é diferente, não menos ou mais que pessoas de outras idades. Provérbios 20.29: “A glória dos jovens é a sua força, e a beleza dos velhos são os seus cabelos brancos”. Provérbios 16.31: “Os cabelos brancos são uma coroa de honra que é encontrada no caminho da justiça”.
Os idosos podem contribuir para a igreja e a sociedade. Salmos 92.13-15: “Plantados na Casa do Senhor, florescerão nos átrios do nosso Deus. Na velhice ainda darão frutos, serão cheios de seiva e de verdor, para anunciar que o Senhor é reto”.
Questões sobre a velhice
A Bíblia também trata algumas questões que estão presentes na vida dos idosos. É evidente que os tempos bíblicos eram diferentes dos dias de hoje. Mas a palavra bíblica nos leva a repensar práticas de nosso tempo. Vejamos alguns pontos.
Aposentadoria. Nos tempos bíblicos não havia a prática da aposentadoria como atualmente. A organização do trabalho era diferente do que as leis trabalhistas promovem em nosso país. Um texto que fala dos levitas nos leva a pensar no que poderia ser a aposentadoria em nossos dias. O texto bíblico diz: Números 8.24-26: “— Isto é o que diz respeito aos levitas: da idade de vinte e cinco anos para cima entrarão, para fazerem o seu serviço na tenda do encontro; mas a partir da idade de cinquenta anos deixarão de estar a serviço e não mais servirão; porém ajudarão os seus irmãos na tenda do encontro, no que diz respeito ao cargo deles; não terão mais serviço. Assim você fará com os levitas quanto aos seus deveres”.
O texto não diz que ao final da vida a pessoa não deve fazer nada. Ele ensina que o idoso pode continuar ajudando, mas com uma carga de trabalho menor. É uma visão diferente do que a de aposentadoria que temos no nosso país.
Ser útil e produtivo para a sociedade. Enquanto as forças permitirem, os idosos podem ajudar o próximo com o seu trabalho. Eclesiastes 9.10: “Tudo o que vier às suas mãos para fazer, faça-o conforme as suas forças, porque na sepultura, que é para onde você vai, não há obra, nem projetos, nem conhecimento, nem sabedoria alguma”.
Moderação. O consumo exagerado de bebidas alcoólicas é um problema comum entre idosos na nossa sociedade e já acontecia nos tempos do Novo Testamento. Outra questão que o texto bíblico menciona é a da fofoca. Os velhos podem usar melhor o seu tempo ensinando coisas boas aos jovens. O conselho bíblico ainda é válido hoje. Tito 2.2-5: “Quanto aos homens idosos, que sejam moderados, respeitáveis, sensatos, sadios na fé, no amor e na perseverança. Do mesmo modo, quanto às mulheres idosas, que tenham conduta reverente, não sejam caluniadoras, nem escravizadas a muito vinho. Que sejam mestras do bem, a fim de instruírem as jovens recém-casadas a amar o marido e os filhos, a serem sensatas, puras, boas donas de casa, bondosas, sujeitas ao marido, para que a palavra de Deus não seja difamada”.
Exemplos de idosos
A Bíblia também ensina sobre idosos contando detalhes da vida de alguns deles. Por vezes, a Bíblia revela poucas coisas sobre a vida dessas pessoas. Mesmo nesses casos, ela dá uma lição positiva sobre elas. Contudo, em outros casos, ela conta coisas boas e más que essas pessoas fizeram na vida. Mas mostra como foi importante essas pessoas sempre se voltarem para Deus e terminarem os seus dias confiando em Deus. Vale muito como a pessoa termina a sua vida. Destacamos quatro personagens.
Ana. A Bíblia tem apenas alguns versículos sobre a vida dessa personagem. Mas eles são ricos em ensinamentos. Lucas 2.36-38: “Havia uma profetisa, chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Ela era bem idosa, tendo vivido com o marido sete anos desde que tinha se casado. Agora era viúva de oitenta e quatro anos. Ela não deixava o templo, mas adorava noite e dia, com jejuns e orações. E, chegando naquela hora, dava graças a Deus e falava a respeito do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém”.
Simeão. Sobre esse personagem também sabemos pouco. Ele esperava a vinda do Messias. E, quando toma o menino Jesus nos seus braços, ele faz uma oração que até hoje é lembrada de cor por muitos cristãos. Lucas 2.29-32: “Agora, Senhor, podes despedir em paz o teu servo, segundo a tua palavra; porque os meus olhos já viram a tua salvação, a qual preparaste diante de todos os povos: luz para revelação aos gentios, e para glória do teu povo de Israel”.
Davi. O grande rei de Israel teve muitas histórias que mostram um grande pecador. Mas ele ensinou por sua vida a importância do arrependimento e de sempre voltar para Deus. Ao final de sua vida, o autor do livro de Crônicas assim resumiu a biografia do rei Davi: 1 Crônicas 29.26-28: “Assim, Davi, filho de Jessé, reinou sobre todo o Israel. Ele reinou sobre Israel durante quarenta anos: sete anos em Hebrom e trinta e três em Jerusalém. Morreu em boa velhice, cheio de dias, riquezas e glória; e Salomão, seu filho, reinou em seu lugar”.
Abraão. Esse personagem é o pai de todos os que creem. Em sua vida também teve altos e baixos, mas sempre reconheceu seus pecados e se voltou para Deus. Tal como o rei Davi, teve o seu reconhecimento registrado no primeiro livro da Bíblia. Gênesis 25.7-8: “Abraão viveu cento e setenta e cinco anos. Ele morreu bem velho e foi reunir-se com os seus antepassados no mundo dos mortos”.
Dois salmos sobre a velhice
Vários Salmos falam sobre a velhice. Destaco dois que ensinam muito sobre o tema. Se trata do Salmo 90 e do Salmo 71. Sugiro que você os leia em forma de oração, em sua Bíblia.
Depois desse rápido estudo sobre o que a Bíblia ensina sobre a velhice, certamente podemos concluir que:
Deus nos conhece
Deus é bom
Deus nos ajuda
Deus nos abençoa
Somos gratos a Deus pela velhice.
Erní Walter Seibert, diretor executivo da Sociedade Bíblica do Brasil e Vice-Presidente das Sociedades Bíblicas Unidas.
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