Premiado pela Câmara Municipal de São Paulo pelo trabalho de prover um descanso para o cuidador de idosos
Por Luciana Mitsue Sakano Niwa e Emília Naomi Todo Liem

“Vejam como crescem os lírios do campo. Eles não trabalham nem tecem. Contudo, eu lhes digo que nem Salomão, em todo seu esplendor, vestiu-se como um deles. (…) Busquem pois em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas”. (Mateus 6.28, 29, 33)
Em 1996, o desejo de servir a Deus cuidando de pessoas idosas com limitações, floresceu no coração de uma mulher. Ela orou por aproximadamente dez anos e após a aposentadoria do marido, nascia o Projeto Lírios do Campo, criado oficialmente em 2007.
Com objetivo de proporcionar um dia de folga para o cuidador de idosos portadores de comprometimento cognitivo e físico leve e moderado, o Lírios do Campo recebe idosos para passar o dia na primeira, segunda e terceira sexta-feira de cada mês.
O projeto começou com um convite aos interessados em trabalhar com pessoas idosas. A ideia era que o projeto funcionasse com base em princípios bíblicos. Os interessados se reuniram por um ano para planejar, estruturar, desenvolver, capacitar e estagiar, com vistas a atender da melhor maneira possível os idosos que ficariam sob seus cuidados.
Lírios do Campo é ligado à Igreja Metodista Livre da Saúde, em São Paulo, SP. Do ponto de vista financeiro, o projeto sem fins lucrativos é autossustentável. Para cobrir os gastos com materiais lúdicos e de cuidados é cobrada uma mensalidade, e para subsidiar as refeições é paga uma taxa.
No projeto, são chamados usuários as pessoas idosas que desfrutam do projeto. O cuidador é o familiar responsável pelo cuidado do idoso e o/a voluntário/a é a pessoa de maneira direta no projeto.
Os critérios para participação do usuário no projeto são: presença de cuidador, vontade da pessoa em participar e competência do grupo em cuidar. Desse modo, a pessoa idosa e o cuidador participam de dois encontros e decidem se querem envolver-se com o projeto. Se decidem participar, Lírios do Campo entrevista o cuidador para conhecer as características sociodemográficas, hábitos alimentares e vesico-intestinais, atividades de vida diária, problemas de saúde, medicações em uso, convênio médico e o contato do cuidador.
O projeto tem capacidade para atender dezoito idosos. Atualmente, todas as vagas estão preenchidas e existe uma fila de espera. A maioria dos usuários tem ascendência japonesa e alguma limitação física e/ou cognitiva. Há predomínio de mulheres e a mais idosa tem 103 anos. Os cuidadores são familiares e nem todos frequentavam a igreja quando começaram a participar do projeto.

As atividades acontecem entre 9 e 14 horas e incluem: aferição de pressão arterial e frequência cardíaca; músicas e louvores entoados acompanhados ao som do teclado; meditação rápida sobre uma passagem da Bíblia, com a ajuda do pastor; ginástica corporal sentada e com os dedos; exercícios orofaciais, atividades lúdicas adaptadas; origami que são dirigidas e acompanhadas pelos voluntários.
As refeições são feitas ao estilo da culinária japonesa, adaptadas com consistências macias, tamanhos diferentes de cortes e temperos para atender as necessidades dos usuários. Ao todo, são três refeições: lanche de boas-vindas, almoço e café de despedida.
Cada usuário recebe uma agenda do projeto onde constam o calendário com as datas dos encontros e uma anotação referente ao dia com informações de todas as atividades desenvolvidas para conhecimento da família. A agenda é o meio de comunicação entre os cuidadores e o projeto e é preenchida próximo ao final das atividades do dia no projeto.
Além dos encontros semanais, o Lírios do Campo oferece um passeio fora da cidade de São Paulo para maior integração entre os usuários, familiares e voluntários. Também são realizadas palestras de interesse do cuidador, como por exemplo o envelhecimento ativo e a doença de Alzheimer, geralmente em um sábado no segundo semestre.
Os critérios de aceitação para os que desejam ser voluntários são: preferencialmente terem vínculo com a igreja, serem indicados por outros voluntários e terem disposição para planejar e participar das atividades junto aos usuários. Da mesma forma que o usuário, o candidato a voluntário, também, participa de dois encontros antes de sua inserção no projeto, e pode escolher envolver-se com as atividades junto aos usuários ou na preparação das refeições. Hoje o projeto conta com 28 voluntários divididos entre o cuidado com os idosos limitados e as atividades da refeição.

Ao término das atividades do dia, os voluntários se reúnem para avaliação das atividades, refeições oferecidas no dia, percepções sobre facilidades e dificuldades dos usuários. A partir dessa avaliação o próximo encontro é planejado e são feitos planos de comemorações, visitas e passeios. Tudo é documentado e arquivado na igreja.
Em 2011, o Lírios do Campo foi premiado pela Câmara Municipal de São Paulo, no dia do voluntário, pelo trabalho de prover um descanso para o cuidador de idosos.
Ao longo dos dezessete anos de existência o projeto, Deus tem sido maravilhoso e apesar de três voluntários estarem na morada celestial, podemos acompanhar conversões e batismos de pessoas idosas em idades avançadas.
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Aposentada do trabalho, na ativa como voluntária
Por Emília Naomi Todo Liem
Meu nome é Emília Naomi Todo Liem. Sou formada em fonoaudiologia pela PUC-SP e atuei por mais de vinte no atendimento a crianças e a adolescentes.
Aposentei-me em 2020 e me apresentei como voluntária no Projeto Lírios do Campo em 2022 quando as reuniões voltaram a ser presenciais.
Soube pela senhora Rosa Hasegawa que nas casas de idosos do Japão eram realizados exercícios orofaciais a fim de prevenir a disfagia. E por causa de minha formação, ela pediu que eu dirigisse o momento de exercícios orofaciais com usuários.
A disfagia apresenta diversos sintomas que mostram a dificuldade para mastigar e deglutir. Um exemplo de sintoma é o engasgo, com risco da saliva, líquido, e alimento irem para o pulmão, provocando a pneumonia aspirativa.
Esse não é um distúrbio exclusivo da velhice, ele pode surgir em estados avançados de doenças como o Alzheimer e Parkinson, em sequela de doenças neurológicas, de câncer e de AVC.
Para diagnosticar e tratar a disfagia são necessários a avaliação fonoaudiológica, exames e exercícios específicos.
Os exercícios com as estruturas orofaciais ajudam a manter o tônus muscular e a mobilidade para a respiração, fala, voz, mastigação e deglutição.
As estruturas orofaciais trabalhadas com os exercícios são as arcadas dentárias, a articulação temporomandibular, as bochechas, a língua, os lábios, a úvula e as pregas vocais. Cada estrutura é trabalhada individualmente, e depois coordenadamente.
Na fala, mastigação e deglutição há diversos movimentos sincronizados das estruturas orofaciais.
Os usuários do Lírios do Campo não apresentam os problemas de saúde citados acima. Alguns deles apresentavam apenas engasgos na fala e na alimentação e, depois de participarem dos exercícios do projeto, melhoraram significativamente.
Todos participam dos exercícios orofaciais de forma muito descontraída e divertida.
Luciana Mitsue Sakano Niwa é enfermeira com especialização em enfermagem geronto-geriátrica modalidade residência na UNIFESP. Mestrado em ciências do cuidado pela USP, Doutorado em saúde coletiva pela USP. Participa da Igreja Metodista Livre, no bairro Saúde, São Paulo, SP. Atua como voluntária nos projetos Lírios do Campo e Cérebro Ativo.
Emília Naomi Todo Liem, formada em Fonoaudiologia pela PUC – SP, é voluntária no Projeto Lírios do Campo da Igreja Metodista Livre no bairro Saúde, em São Paulo, SP.
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