Sou idoso, o que a igreja precisa saber a meu respeito?

Trago um passado dentro de mim

Deus já me concedeu 73 anos de bênçãos. Papai era pastor. Inspiração para mim! Fui casada com um pastor, a quem Deus chamou para si, quando eu tinha apenas 38 anos. Uma filha e três outros filhos fizeram permanecer o amor entre nós. Casei-me, depois de nove anos de viuvez, com outro pastor. Outros quatro filhos. Mais amor. Família grande, que me tem enchido de felicidade. As marcas do passado continuam comigo. Ganhos, perdas, alegrias, tristezas. Risos, às vezes, choro. Marcas que se podem revelar em momentos menos adequados.

Minhas forças não são as mesmas de anos passados
“…nossos anos acabam-se como um suspiro”. Eu acrescentaria a essa afirmativa do sábio: “…e nossas forças se vão com esse suspiro”.

Ainda posso fazer muito
“…na velhice ainda darão frutos!” Que bom! Ainda posso frutificar! Fazer muito para o glória do meu Deus.

Jovens e crianças me inspiram a prosseguir
Vê-los na igreja renova-me as forças, a alegria, a esperança de que o mundo será melhor.

Preciso ouvir palavras de ânimo
Ânimo é alma. A alma precisa de alimento. E “as palavras agradáveis… revigoram a saúde e a alegria de viver”.

Noemí Lucília Soares Ferreira, 73 anos, mora no Rio de Janeiro (RJ).

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Ainda posso ser útil

Tenho oitenta e dois anos e meu marido é pastor jubilado. Sempre tive muito prazer em trabalhar com ele por onde passamos e agora sinto trabalhar pouco, não só pelas limitações da idade como pela fragilidade da saúde. Estou atenta para descobrir em que posso ainda ser útil.

Cleds Bussinguer L. César, 82 anos, mora em Viçosa, MG.

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Meu tempo já passou, mas sou uma idosa feliz

No meu carro há uma placa: “Vaga especial”. Tenho privilégios especiais nas filas, Correios, bancos, etc. Mas não são apenas esses privilégios que me fazem feliz. Andei fazendo as contas da família, número de netos e bisnetos; é bem difícil, constantes acréscimos sempre alteram os meus números. Posso abrir os olhos de manhã sempre grata pela casa, família, alimento, os queridos e amigos. Domingo, então, melhor ainda, vou me juntar aos irmãos da grande família da fé. Aquele diácono me ajuda entrar, o presbítero me indica a sala da escola dominical e o pastor, inspirado pelo Espírito Santo, trazendo aquela mensagem que eu precisava naquela hora. Ah, como é bom tudo isso. Sento e penso: “Essa igreja não é igual a que cresci com meus pais, quando sentava ao lado deles aprendendo a ler no Salmo 23; eles me faziam acompanhar a leitura responsiva, hoje pode ser que cantemos o hino predileto do papai: ‘Deixa a luz do céu entrar’, ou de minha mãe. Bom mesmo é quando cantávamos o meu ‘Vinde meninos’ subindo para a minha classe de olho para ver quais classes estavam completas com presença dos alunos, suas Bíblias, a minha meio pesada, coleta para a cestinha.”

Chega de recordações, o que mais me incomoda hoje, será pontualidade? Será rol do berço (0 a 3 anos)? Será Bíblia? Será Reforma? Será moedinhas? Será cesta-de-amor? Será liturgia? E as baguncinhas?

No meu tempo… Ah, esse já se foi.

Meu tempo hoje só me torna alegre: minha igreja tem naturalmente muitas vovós (só fazendo também vovócas), mas vejo numero considerável de jovens das mais diversas procedências: Roraima, Minas, Goiás, Espírito Santo… E aonde vão esses jovens nas noites de domingo, considerando os convidativos apelos da Unicamp? Os happy hours de calçada longe de papai e mamãe? Pois venham ver: estão aqui na igreja, de manga arregaçada servindo em tudo, cantando e louvando ao Senhor, se conhecendo, formando laços nesse teto onde a Divina Providencia os trouxe e os aproxima. Querem coisa mais linda, mais inspiradora para uma idosa como eu?

Sou feliz. Sou uma idosa feliz, muito feliz. Participo dessa numerosa família da fé.

Nelly B. Lane, 86 anos, mora em Campinas, SP

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As igrejas não priorizam os idosos

Infelizmente, as igrejas hoje não priorizam os idosos. Eu, modéstia parte, sentava no primeiro banco da igreja, hoje sento na última fila, pois adquiri labirintite e o som muito alto perturba. Assim sendo, acho que deveria haver um evento sobre os idosos nas igrejas para que suas necessidades sejam ouvidas e, na medida do possível, melhorar a nossa vida na igreja.

Sarah Gomes, 68 anos, mora em Parintins, AM.

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Minha dedicação é meu testemunho de gratidão

Os que me conhecem evidentemente não precisam ler estas informações, pois minha vida e meus atos são claros a eles. O que gostaria de testemunhar aos que não me conhecem é que não tive uma reviravolta determinado dia, relativa à minha fé. Desde criança, com os ensinos da Igreja e de minha mãe, pude entender a graça de Deus pela qual vivo o dia a dia. Cresci na Igreja estudando vivendo a escalada da fé. Posso dizer que sou abençoado em todos os meus trabalhos com a família e vejo em cada momento decisivo do passado de um homem a mão de Deus guiando-me nas escolhas que fiz. Minha dedicação à causa é meu testemunho de gratidão pelas bênçãos recebidas especialmente dentro da Igreja. Sempre estudei e estudo, mas sei que pouco sei: acompanhar e imitar os servos de Deus foi um incentivo ao meu crescimento espiritual. Há um pensamento que diz: “Só devemos olhar as pessoas de cima para lhes dar a mão e levantá-las”. Este é um ato de humildade com o qual demonstramos o exercício do amor cristão. Gratidão e fé me elevam e me fazem reconhecer obra do Criador através de Jesus Cristo na força do Espírito Santo. Deus seja louvado.

Oswaldo Augusto Silva, 77 anos, mora em Uberlândia, MG.

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Programações cansativas

Quando eu era mais novo eu achava muito boa a programação na igreja, mas agora eu acho um pouco cansativas. Bom que, na minha igreja, agora temos dois cultos com uma hora de duração cada. Tem uma escada grande para subir, mas também é bom porque a gente exercita as pernas. Para mim, isso é muito bom.

Valdir Ferreira dos Santos, 86 anos, mora em Parintins, AM.

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Conteúdo publicado originalmente no blog Ultimato em maio de 2017. Reproduzido com permissão.

Imagem: Pixabay.

Aposentar não é deixar de ser produtivo

Experiências profissionais, pessoas com quem convivi, lugares que conheci, foram divinamente escolhidos para que, mesmo “aposentado”, eu pudesse ser usado por Deus para ser luz em meio à escuridão

Por Robert Liang Koo

Revisitar a sua própria história é sempre surpreendente. Como cheguei aqui? Não foi por minha escolha nem muito menos por mérito. Foi pela mão invisível de Deus, que me guiou, abrindo as portas, fazendo-me entrar mesmo sem entender. Pela graça de Deus, sou o que sou. E a graça não foi em vão, mas tem seu propósito (1Co 15.10).

Tenho 78 anos, três filhos e nove netos. Sou a quarta geração de uma família cristã da China. Meu avô nasceu na Coreia por causa das perseguições aos cristãos em meados do século 19. Chegamos ao Brasil em 1958, e me formei em engenharia eletrônica no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) em 1971. Sou grato a Deus por ter conhecido a Aliança Bíblica Universitária (ABU) durante o tempo de faculdade. Ela me deu base bíblica para entender o embate ideológico, influenciou minha formação espiritual e despertou em mim compaixão pelas causas sociais que iriam direcionar toda a minha vida. Já casado, vivi alguns anos nos Estados Unidos e com isso pude entender e comparar três culturas diferentes: a oriental, a americana e a de terceiro mundo (a brasileira); a concepção de vida e o cristianismo tingido por cada cultura.

De volta ao Brasil, permaneci por um certo tempo na academia, dando aula e fazendo  pesquisa. No fim da década de 80, comecei a minha própria empresa na área de automação industrial. O interessante é que nunca foi meu sonho ser um empresário, mas as circunstâncias me levaram por esse caminho. Embora eu não tivesse formação nem experiência empresarial, a graça de Deus foi mais do que suficiente. Minha empresa conseguiu sobreviver em meio a várias crises e decisões equivocadas, cresceu e permanece sólida, depois de 35 anos.

Também nessa época, comecei a pastorear a igreja da qual fui um dos fundadores. Como não havia feito seminário teológico, dediquei-me à leitura de bons livros, não só de teologia e de comentários bíblicos, mas principalmente de temas relacionados a orientação da formação espiritual. As obras de A. W. Tozer, John Stott, Eugene Peterson são as minhas leituras preferidas. Eu acredito que a congregação precisa não somente de exposição bíblica e ortodoxia, mas principalmente de saber como aplicar esses conhecimentos na sua vida diária.

Ao me aproximar dos 70 anos, iniciei o processo de passar a responsabilidade tanto da empresa como da igreja para outras pessoas. Eu sabia que retardar esse processo traria prejuízo, pois impediria o amadurecimento e a formação de novos líderes, então passei um bom tempo caminhando junto com eles.

Sempre alguém me pergunta: “Você já se aposentou?”. Fico pensando o que isso significa. Ter idade para receber uma aposentadoria não significa parar de trabalhar, ou que não temos mais utilidade. Não encontro base bíblica para deixar de ser produtivo mesmo que estivesse com idade avançada.

O trabalho vai mudando de acordo com a necessidade e a oportunidade, mas a vocação permanece sempre a mesma. Trabalho é o meio para cumprir a vocação. À medida que o tempo passa, a vocação que antes estava abstrata, nebulosa, fica mais concreta e clara, e o trabalho, mais objetivo. Trabalho é uma bênção de Deus. Ele traz maturidade e compreensão do mundo. O meu trabalho secular (academia, governo e empresa) me deu ferramentas para cuidar da igreja e das pessoas.

Mais recentemente, em meio à pandemia, montamos um projeto social para abençoar produtores rurais e comunidades urbanas com a distribuição de alimentos vindos do campo. Olhando para trás, vejo que minhas experiências profissionais, pessoas com quem convivi, lugares que conheci, foram divinamente escolhidos para que, mesmo “aposentado”, eu pudesse ser usado por Deus para ser luz em meio à escuridão.

Dom não é somente talentos que recebemos pela graça, mas engloba toda experiência adquirida debaixo do desígnio de Deus e deve ser usado para a sua glória até o último dia da nossa vida.

Robert Liang Koo foi empresário e pastor em São Paulo por mais de 30 anos. Atuou na ABUB nas décadas de 60 e 70. É engenheiro pelo ITA e PhD pela Carnegie-Mellon University, nos Estados Unidos. Ele integra o núcleo fundador do MC60+.

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