Pequenas grandes coisas que nós, idosos, devemos fazer

Por Thomas Hahn

Eis minha única credencial para falar sobre a velhice: sou um velho. A arrogância da minha ignorância não me constrange: me liberta, assim como liberta você, leitor, de me levar muito a sério. Ficamos ambos mais leves.

O que fazer durante o ocaso da nossa vida?

Permito-me fazer algumas sugestões de como proceder em nossa caminhada.

Simplificando

Somos acumuladores de coisas que, em certo momento, nos pareceram vitais, mas que mais tarde provam ser pesadas e desnecessárias. Nossa inércia natural faz com que não tomemos decisões que tornariam nossas vidas mais simples, menos pesadas? As de nos desfazermos daquela casa com quartos para as crianças? Elas cresceram, voaram do ninho, casaram. A casa ecoa o silêncio. Mudei para um pequeno apartamento que contém o espaço que minha esposa e eu realmente precisamos, e que nos custa muito menos em manutenção.

A casa de praia/campo para qual só vamos uma vez por mês para pagar as contas? Passe adiante, e alugue um quarto de hotel, variando o destino. Simplifique os investimentos para que sejam facilmente administrados, seja por você, seja pelos seus sucessores. Deixe as coisas em ordem para os herdeiros, consultando um advogado para escolher o melhor caminho. Em síntese: diminua o peso e viva uma vida de leveza.

Aprendendo a depender

Você era o provedor, o sustentáculo, a coluna de sustentação. Agora você se vê dependente. Pode ser financeira, ou fisicamente. Lembro-me da minha reação, no hospital, depois de uma pesada cirurgia, sendo ensaboado e banhado no chuveiro por um enfermeiro. No começo, humilhação. A seguir, a percepção da providência de Deus, dando a este enfermeiro o dom de cuidado. A Graça de Deus em ação, e eu o receptor desta imensa Graça. A dependência mudou meu olhar, minha percepção. Aprendi a ver Deus realizando sua obra; meu foco deixou de ser autocentrado, e passei a ver o outro mais claramente.

Perdendo

A terceira idade é um período que se caracteriza por perdas. Perdas físicas: não é como desejaria, um processo de declínio lento e gradual, mas sim uma sucessão de quedas súbitas, de mudanças bruscas de patamares. Pode ser financeira: viver na aposentadoria é bem mais desafiador do que se imaginava. Perdas de pessoas queridas, amigos e amigas que se vão, pedaços nossos que são tirados, ficando os buracos da ausência, dores que continuam a doer, a despeito das orações e lembranças de versículos bíblicos sobre o consolo. E, por fim, a perda que define o início da nossa velhice: a perda da relevância. Não somos mais players. Os mais jovens não nos consultam – pelo contrário, nos dão conselhos que soam como ordens. Em nosso local de trabalho, nossa opinião patentemente não carrega nenhum peso; se perguntados, é meramente protocolar. Neste aspecto, a igreja pode mitigar a dor da irrelevância, invocando a sabedoria dos idosos (de verdade, não de mentirinha).

Aprendendo uma nova linguagem

Fazemos parte de uma civilização que endeusa a prosa da ciência. Com isto, perdemos o senso do Belo. Nossa teologia se debruça sobre a prosa racional e expositiva de Paulo, mas esquece que a cada raciocínio doutrinário segue-se uma doxologia, uma explosão poética de louvor e adoração, posto que a linguagem do amor é a poesia. E, já que em breve nós, os velhinhos, seremos adoradores na presença de Deus, convém que aproveitemos este tempo para sermos mais poetas e menos prosadores.

Já que falei em amor, faço uma proposta: reúna-se com as pessoas que lhe são realmente importantes, e diga-lhes o quanto as ama. Não em público, mas em casa, à mesa, com pão e vinho, olho no olho. Solene, não no piloto automático do “Te amo, irmã/irmão”. Quando meus filhos e seus cônjuges vieram me ajudar a comemorar meus oitenta anos, pedi a palavra antes do almoço, e lhes informei que eu os respeitava, admirava, e amava. Foi tão gostoso, que eu gostaria que você tivesse um prazer semelhante!

Uma última palavra sobre o amor: lembremos que dentro desta palavra existe outra, sem a qual a primeira não subsiste. Esta palavra é perdão. Na etapa final de nossa vida aqui na Terra, devemos fazer um esforço para, enquanto possível, consertar relacionamentos quebrados. Perdoar ou pedir perdão, conforme o caso. Mesmo sabendo que nem sempre nosso esforço será exitoso. Sem perdão não há como construir o amor, e o amargor continuará em nós.

Que o outono e o inverno da sua vida sejam inundados pelo amor do nosso Deus Triúno: Pai, Filho e Espírito Santo!

Thomas Hahn, 88 anos, casado com Christine há 60, pastor da Igreja Batista da Granja Viana, em Cotia, SP.

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