Disrupção e o futuro do trabalho

Por Volney Faustini

É imperioso portanto, abandonar a falácia de que a função que exerço determina quem eu sou, assim como o erro de que a minha ocupação é o que me dá significado para a vida

Aproveito minha escrita de estreia no blog MC 60+  para trazer um relato pessoal de vida, mais precisamente como estou me reinventando no presente, esperando que sirva de inspiração aos queridos leitores. Mesmo sendo avô de cinco netos, e aos 71 anos, já com idade para pendurar as chuteiras, minha jornada pessoal está em modo disruptivo.

Há alguns anos venho dando atenção especial ao tema do futuro do trabalho (acredito que Freud explica), a ponto de recentemente montar e coordenar a FOW Global Network, uma rede global. Somos futuristas e pensadores debruçando sobre essa importante questão. Tenho feito vídeos e entrevistas no YouTube, assim como escrito semanalmente sobre esse grande desafio que tira o sono de muita gente.

Já sabemos que a Inteligência Artificial (IA) veio para ficar. E com ela, e por causa dela, temos um grande paradigma de transformação. Por isso, em minhas diferentes expressões, recorro a uma só palavra para resumir qual deva ser nossa reação: disrupção!

Assim, procuro ser eu mesmo, um exemplo do que estou a falar. A palavra de ordem pode ser entendida como: realizar a reinvenção de vida, tendo por perspectiva o futuro, a fim de construí-lo em antecipação às sucessivas mudanças do nosso tempo.

Em relação a lidar com o futuro do trabalho, há um conjunto de chaves que servem a esse propósito. No entanto, compreender o que se deve abandonar torna-se essencial no preparo do processo de uma construção pessoal rumo ao amanhã. É imperioso assumir o controle e construir o futuro ao invés de esperar que o futuro lhe construa.

Deixe-me ilustrar lembrando que, assim que a TV Record foi inaugurada, sua programação era toda ao vivo, e trazia um show de competição – tipo quiz – chamado “Adivinhe o que ele faz”. O saudoso Blota Junior (1920-1999), era seu apresentador. Eram três os participantes permanentes, que sentavam na bancada e tinham por desafio dirigir perguntas ao convidado do programa, que sempre desempenhava um ofício ou profissão nada comum. O convidado por sua vez respondia com um “Sim”, “Não” ou “Talvez”. Ao longo do questionamento, quem adivinhasse a profissão do convidado, vencia a competição.

A versão original, americana, trazia o título “What’s my line?” – ou seja qual a minha linha? referindo-se ao sentido da profissão, atividade ou dedicação de trabalho.

Desde a Revolução Industrial estamos a raciocinar dessa forma, achando que trabalho é igual a emprego, fazendo com que carreguemos o falso conceito de que somos o que fazemos. Seguimos uma linha do que diariamente fazemos.

A concepção que herdamos, enquadra de forma linear o funcionário (ou funcionária) na organização. Foi trazida pela Administração como uma disciplina que estrutura a empresa definindo cargos, funções e processos. Coloca os funcionários em espaços marcados, com atuação linear e precisa, sempre relacionada ao que se produz, ao que se realiza, ao serviço que presta.

Os métodos se aperfeiçoaram a ponto de criar uma parafernália sistematizada e burocrática, que ao fim e ao cabo desumaniza o indivíduo. O funcionário (ou a funcionária) se torna uma peça, tal qual Chaplin entrando nas engrenagens da sua fábrica em Tempos Modernos, filme de 1936.

Apesar das críticas, temos passado décadas mantendo esse modelo que, finalmente, chegou à sua exaustão.

É imperioso portanto, abandonar a falácia de que a função que exerço determina quem eu sou, assim como o erro de que a minha ocupação é o que me dá significado para a vida. Apesar de termos absorvido esse tipo de pensar em nosso mindset, é essencial a eliminação desse nefasto conceito enraizado em nossa cultura.

Há uma razão ainda maior a nos obrigar a abraçar a reinvenção diante dessas transformações continuadas. A antiga forma de pensar, afronta a verdade de Deus, que nos criou à Sua imagem e semelhança. Somos seres individualmente dignos, com valores intrínsecos diante de Deus.

O alento para quem já passou dos sessenta anos de idade, está em seguir a verdadeira essência que dá sentido à vida: o ser (e não o fazer). Está uma postura libertadora. Não precisamos radicalizar, ao se avizinhar ou entrar na aposentadoria, pressionado a decidir entre dois polos: emprego ou ociosidade. O que importa é o que você já é, continua sendo. O ser (no sentido do que eu sou), é útil à sociedade e à ela gera valor. Permaneça desenvolvendo-se e crescendo (nunca devemos parar). E esteja sempre de prontidão. Mesmo que não esteja empregado ou ativo.

Saiba de antemão que o ser sai vitorioso no embate com o fazer. Ainda mais no tempo presente, em que a modernidade ampliou de forma exponencial as oportunidades para todos nós. Basta que, cada um, a seu modo, dê prioridade ao ser.

E assim, se reiventar.

  • Volney Faustini, nascido em 1952, casado com Regina há 46 anos, tem três filho e cinco netos. É administrador e autor, e se considera um futurista social. É diretor do programa Dom Aquiles de Educação Corporativa e fundador e coordenador da Future of Work Global Network, uma rede internacional de futuristas e pensadores dedicados ao tema do futuro do trabalho. Você pode encontrar os escritos semanais de Volney clicando aqui.

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