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O cuidado com os idosos vai além das tarefas diárias, envolvendo um profundo respeito, amor e diálogo

Entrevista com Adriana Saldiba

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Ao valorizar as pessoas idosas, a igreja ajuda as diferentes faixas etárias a enxergarem a velhice como algo bom e cria um alicerce comunitário importante para o envelhecimento ativo e saudável

Adriana Saldiba, nutricionista e doutora em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, traz à tona uma perspectiva sobre o processo de envelhecimento.

Casada com o Rev. André Saldiba e mãe de três filhos, sua dedicação se estende não apenas à sua família, mas também ao ensino e à pesquisa como coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Envelhecimento na Universidade São Judas Tadeu. Além disso, Adriana lidera a REPRINTE, uma rede nacional de programas interdisciplinares sobre envelhecimento.

Conversamos com Adriana sobre o papel dos valores cristãos no cuidado com os idosos, os desafios enfrentados pelas famílias e a importância da comunicação intergeracional. Ela compartilha preciosos ensinos sobre como a fé pode fortalecer as famílias diante dos desafios do envelhecimento e como a esperança na vida eterna influencia a forma como os cristãos encaram esse processo inevitável.

Adriana nos conduz por uma jornada de reflexão, destacando a importância da autonomia e independência das pessoas idosas, bem como a necessidade de uma rede de apoio familiar sólida para promover um envelhecimento ativo e saudável. Ela nos convida a explorar como as igrejas e comunidades religiosas podem desempenhar um papel vital no apoio às famílias que cuidam de membros idosos, incentivando práticas intergeracionais e a valorização das pessoas idosas dentro desses espaços.

Por meio de suas experiências e conhecimentos, ela nos mostra que o cuidado com os idosos vai além das tarefas diárias, envolvendo um profundo respeito, amor e diálogo dentro da família. Sua visão nos inspira a repensar nossas abordagens ao envelhecimento e a reconhecer o valor intrínseco de cada indivíduo em todas as fases da vida.

Confira a seguir.

Como os valores cristãos influenciam a maneira como as famílias lidam com o envelhecimento de seus membros?

A família é uma rede de apoio fundamental para a garantia de um envelhecimento saudável. Valores cristãos que permeiam as famílias podem gerar um ambiente de amor, de alegria, de respeito, de honestidade, de gratidão, de paciência, de solidariedade e de lealdade às pessoas idosas para que possam usufruir de um envelhecimento ativo com total autonomia.

Diversos trabalhos têm evidenciado que um envelhecimento ativo garante uma melhor qualidade de vida do processo de envelhecer.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2005), “o envelhecimento ativo é o processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas”.

A palavra “ativo” refere-se à participação contínua nas questões sociais, econômicas, culturais, espirituais e civis, e não somente à capacidade de estar fisicamente ativo ou de fazer parte da força de trabalho.

Quais são os desafios mais comuns ao lidar com membros idosos?

Manter a autonomia e a independência das pessoas idosas é um grande desafio! Isso deveria ser uma meta de todos e envolve amigos, colegas de trabalho, vizinhos e membros da família.

A autonomia refere-se à capacidade de uma pessoa controlar, lidar e tomar decisões pessoais sobre sua vida diária, de acordo com suas próprias regras e preferências.

Por outro lado, independência é geralmente definida como a capacidade de realizar atividades relacionadas à vida diária sem depender significativamente da ajuda de outras pessoas, permitindo viver de forma autossuficiente na comunidade.

A qualidade de vida, por sua vez, é definida como a percepção que um indivíduo tem de sua posição na vida, considerando sua cultura e sistema de valores, além de seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações.

Este conceito abrangente incorpora diversos aspectos, como saúde física, estado psicológico, nível de dependência, relações sociais, crenças e interação com o ambiente.

À medida que uma pessoa envelhece, sua qualidade de vida está fortemente ligada à sua capacidade de manter autonomia e independência.

Isso significa que preservar a habilidade de tomar decisões pessoais, realizar atividades cotidianas e permanecer engajado na comunidade são aspectos cruciais para promover uma boa qualidade de vida na velhice.

Na perspectiva cristã, como a noção de honrar pai e mãe se aplica ao cuidado dos idosos na família?

Quando honramos nossos pais e nossas mães, nós incentivamos as crianças a valorizarem, a respeitarem e a cuidarem com amor e carinho das pessoas idosas.

O processo de envelhecimento é algo inerente a todos os seres humanos. A partir do momento que nascemos, já começamos a envelhecer a cada dia. Falar sobre envelhecimento precisa ser algo natural. “A criança de ontem é o adulto de hoje e o avô ou avó de amanhã”.

A qualidade de vida das pessoas idosas quando se tornarem avós é influenciada não apenas pelas experiências e pelos desafios enfrentados ao longo da vida, mas também pela forma como as gerações futuras fornecerão assistência e apoio uns aos outros, quando necessário.

Como a comunicação entre diferentes gerações dentro da família pode facilitar o processo de envelhecimento e a aceitação da ajuda?

A família deve ser o espaço de valorização da pessoa idosa, no qual avôs e avós brincam, contam histórias e cozinham com os netos e com as netas.

Além disso, avós e avôs devem ter autonomia para tomar as suas decisões e ser respeitados por todos da casa.

Isso fortalece a habilidade das pessoas idosas de tomar suas decisões e realizar as suas atividades cotidianas, garantindo assim um envelhecimento ativo e saudável.

Crianças que convivem com pessoas idosas tendem a desenvolver, quando adultas, uma escuta atenta às pessoas idosas, respeitando as suas queixas, as suas trajetórias de vida, seus medos, suas inseguranças, sua história!

Quais são os benefícios de envolver toda a família no cuidado e apoio aos membros idosos? Como podemos promover essa colaboração familiar?

A capacidade funcional de um indivíduo determina sua habilidade de realizar atividades do dia a dia, podendo ser classificado como dependente, quando necessita de auxílio, ou independente, quando consegue realizar essas atividades sem ajuda externa.

O comprometimento da capacidade funcional ocorre quando o indivíduo encontra dificuldades em realizar as atividades cotidianas, o que está associado a um maior risco de fragilidade, dependência, institucionalização, quedas, problemas de mobilidade e até mesmo mortalidade.

Essas complicações podem resultar em cuidados de longo prazo e custos elevados.

É fundamental que a família das pessoas idosas esteja bem-informada sobre a importância de incentivar a realização das atividades básicas diárias das pessoas idosas, como tomar banho, se vestir, se alimentar, além do incentivo à ações mais amplas e complexas, como a realização de compras para a família, uso do telefone, uso de meio de transportes, entre outras atividades.

Muitas vezes, a imobilidade na velhice é incentivada pela família, como uma forma de cuidado à pessoa idosa, mas. pelo contrário, o melhor cuidado à pessoa idosa é incentivá-la a ter autonomia e independência.

É essencial que a família esteja consciente do seu papel crucial no estímulo à independência e à autonomia da pessoa idosa, promovendo assim uma melhor qualidade de vida e prevenindo complicações associadas à perda de capacidade funcional.

Como as igrejas e comunidades religiosas podem desempenhar um papel importante no apoio às famílias que cuidam de membros idosos?

O rompimento de laços sociais e a perda de familiares podem levar a pessoa idosa à solidão.

O isolamento social e a solidão na velhice estão ligados a um declínio de saúde física e mental.

A igreja tem um papel de acolher as pessoas idosas e as famílias que promovem essa rede de apoio.

Atividades intergeracionais, espaço de fala e de escuta, incentivo ao voluntariado das pessoas idosas podem ser estratégias sólidas para a igreja inibir o ageísmo e o capaciticismo, e trazer a valorização das pessoas idosas.

A comunidade de fé pode também promover um aprofundamento dos valores cristãos entre os seus frequentadores para fortalecer a rede de suporte social das pessoas idosas e, consequentemente, garantir um envelhecimento saudável.

A igreja, ao valorizar as pessoas idosas, engaja diferentes faixas etárias da comunidade a enxergar a velhice como algo bom e cria um alicerce comunitário importante para o envelhecimento ativo e saudável.

O conceito de família na perspectiva cristã é amplo e inclui não apenas os laços sanguíneos, mas também os relacionamentos espirituais. Como isso se reflete no cuidado dos idosos dentro das comunidades cristãs?

O apoio familiar desempenha um papel crucial na preservação da saúde física e mental do indivíduo.

Quando percebido como disponível e satisfatório, ele beneficia tanto quem o recebe quanto quem o oferece dentro da família.

Por isso, compreender o contexto familiar é essencial para um planejamento assistencial adequado às pessoas idosas, envolvendo uma compreensão das dinâmicas e estruturas familiares.

A família é um sistema dinâmico que busca promover o desenvolvimento emocional e a liberdade do indivíduo no mundo.

Em situações de disfuncionalidade, a capacidade de fornecer cuidados pode ser prejudicada, o que impacta negativamente na independência, autonomia e qualidade de vida das pessoas idosas.

A falta desse suporte familiar pode levar a problemas psicológicos e afetivos, levando a sérias complicações de saúde física, mental e social da pessoa idosa.

Como a esperança e a promessa da vida eterna influenciam a maneira como os cristãos encaram o envelhecimento e a morte?

O fato de termos esperança na vida eterna pode trazer sentido e significado à morte e nos incentiva a deixar um legado, uma marca significativa à outras gerações.

Essas convicções podem nos auxiliar a experimentar um envelhecimento ativo pleno, repleto de autonomia e independência com participação pertinente nas questões sociais, econômicas, culturais e espirituais mesmo durante a velhice.  

Você poderia compartilhar exemplos de famílias que encontraram força e consolo em sua fé ao lidar com os desafios do envelhecimento de seus entes queridos?

Nos desafios para cuidar das pessoas idosas, não há uma “receita de bolo” ou um guia prática com o passo a passo. Cada família tem a sua dinâmica e o seu jeito singular.

Famílias que respeitam e valorizam a autonomia das pessoas idosas, que estimulam o diálogo acolhedor e atento, também têm conversas difíceis, mas pautadas no amor, no perdão, no respeito e no cuidado um do outro, podendo, dessa maneira, encontrar um caminho saudável diante dos desafios diários do envelhecimento.

Acertos mais comuns da família com pessoas idosas

  • Famílias que escutam e valorizam as pessoas idosas da casa.
  • Crianças que entendem a importância da pessoa idosa na família.
  • Avôs e avós que brincam, contam histórias e cozinham com os netos e com as netas.
  • Famílias que dialogam muito, têm conversas difíceis também, mas pautadas no amor, no respeito e no cuidado um do outro.
  • Avós e avôs que têm autonomia para tomar as suas decisões e são respeitados por todos da casa.

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Isabel – “Minha segunda carreira foi ser mãe”

Abracem sua segunda carreira de coração, seja ela qual for – algumas vezes será escolhida, outras vezes será imposta pelos acontecimentos. Mas aceitem o que vier de bom grado e Deus será com cada um de vocês

Meu nome é Isabel, que significa “Deus é meu juramento”. Sou da linhagem do primeiro sacerdote: Arão. Vocês devem achar estranho… Em nossa cultura, a pessoa é o nome, ou o nome é a pessoa, sei lá. Para nós, é fundamental saber o significado de cada nome, que, afinal, faz parte da personalidade da pessoa e mostra seu relacionamento com o Deus Eterno. Zacarias esqueceu de mencionar que o nome dele significa “lembrado por Jeová”. Como vocês ouviram, ele foi mesmo lembrado por Deus e contemplado com grandes maravilhas.

Não somente ele. Eu participei de tudo, exceto da visita do anjo no templo. Depois de dispensar a multidão, já em casa, como não podia falar, Zacarias escreveu pra mim um resumo da promessa do anjo. Fiquei extasiada!

Fui a primeira mulher mencionada no Novo Testamento, mais especificamente, no Evangelho escrito pelo Dr. Lucas. Ele foi um grande pesquisador e autor, e deu ênfase especial às mulheres em seu livro. Sou muito grata por isso.

Como Zacarias mencionou, não tínhamos filho e isso trouxe grande sofrimento para mim. Mas não vou me deter nessa parte. Tenho coisa mais bonita pra contar pra vocês!

Deus fez um milagre no meu corpo! Fazia uns dez anos que eu não tinha mais o costume das mulheres. Contudo, acordei um dia com enjoo e descobri que estava grávida, direitinho como o anjo havia dito. Resolvi ficar mais em casa – um costume da minha terra – mas também pra evitar falatórios. Nesse tempo, meu corpo foi se transformando a cada dia e, de certa forma, ficando cada vez mais “vivo”. Quando completei seis meses de gravidez, recebi a visita de uma prima muito querida, a Maria. No momento em que ela foi entrando pela porta, meu filho mexeu muito dentro da barriga, uma mexida diferente de soluço, de chute, de qualquer outro movimento que ele já tinha feito. Parecia um estremecimento de alegria, uma emoção muito forte. Nesse exato momento, fiquei possuída pelo Espírito Santo e exclamei para Maria: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito o fruto do teu ventre. E de onde me provém que me venha visitar a mãe de meu Senhor?” Gente, que tempo especial tivemos o privilégio de viver! Quisera eu que todos vocês estivessem lá. O Espírito Santo, de repente, parecia que estava solto. Enchia um e outro entre um espaço de tempo curto, o que era novidade para todos nós. E eu estava ali, diante da mulher escolhida para ser a mãe do Messias, que tanto aguardamos. O meu Senhor estava sendo gerado no ventre da minha prima Maria! Isso era deslumbrante e muito emocionante!

Maria ficou comigo por três meses. Nessa época, aprendi sobre a intergeracionalidade: ela era tão jovem e eu, nos meus sessenta e poucos (dizem que a mulher para de contar, né?). Uma diferença de mais de 40 anos entre nós duas. Mas tínhamos assunto o tempo todo. Além disso, ela me ajudava em algumas tarefas da casa que já estavam ficando pesadas para uma grávida, ainda mais uma 60+. E ela me ouvia muito, das histórias do templo, dos meus antepassados, das minhas experiências de vida. Que tempo gostoso!

Aí nasceu nosso meninão e Maria fez sua viagem de volta. Afinal, ela também precisava se

organizar para receber seu bebê dali uns meses.

O resto da história Zacarias já contou a vocês. Gostaria de acrescentar apenas (porque é um dos temas deste evento) que não escolhi uma segunda carreira, ela me escolheu – e foi deliciosa! Minha segunda carreira, por incrível que pareça, foi ser mãe. Amamentei o Joãozinho por alguns anos, me diverti e me alegrei muito com ele. Parece que junto com a bênção de ser mãe tive outra bênção, a de me sentir rejuvenescida.

Irmãos, para finalizar, deixo alguns conselhos. Deixem-se surpreender por Deus: esperem dele algo novo e não o óbvio. Esforcem-se por se relacionar com outras gerações, como os jovens, os adolescentes e as crianças; mesmo que haja resistência no início, todos saem ganhando e aprendendo no processo. Abracem sua segunda carreira de coração, seja ela qual for – algumas vezes será escolhida, outras vezes será imposta pelos acontecimentos. Mas aceitem o que vier de bom grado e Deus será com cada um de vocês.

Este artigo é parte da palestra Os 60+ do Primeiro Natal, oferecida no III Encontro do Movimento Cristão 60+.

Délnia Bastos é casada, mãe de três filhos e avó de cinco netos, e serve na área de governança em algumas iniciativas de missão.

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Engata Terceira, um programa do Águias de Cristo

Por Elias Bispo

Há quase 30 anos, por iniciativa do Rev. Edijéce Martins Ferreira, pastor emérito da Igreja Presbiteriana da Madalena, em Recife, PE, foi organizado o Ministério da Terceira Idade, denominado Águias de Cristo.

Dia das Mulheres

As programações do Águias de Cristo são diversificadas e abrangem aspectos espirituais, evangelísticos, missionários, culturais, musicais, esportivos e recreativos, buscando-se a interação intergeracional e com outros ministérios da comunidade.

Essas atividades foram interrompidas em decorrência do distanciamento social imposto pela pandemia da Covi-19, ensejando o desenvolvimento do Programa de Assistência a Terceira Idade, Engata Terceira.

Foram consideradas algumas linhas mestras como consolidação da cosmovisão cristã, assistência espiritual e material, manutenção das amizades, estilo de vida saudável e, na medida do possível, com a flexibilização das regras de isolamento, o retorno à igreja.

Culto da Terceira Idade

A população idosa da Madalena é composta por cerca de 130 idosos, com idades entre 60 a 100 anos, sendo 89 mulheres e 41 homens, distribuídos nas seguintes faixas etárias:

  • 90 – 2 idosos
  • de 80 a 89 – 25 idosos
  • de 70 a 79 – 44 idosos
  • de 60 a 69 –  59 idosos

O Engata Terceira exigiu a elaboração de um plano de ação que possibilitasse a assistência com base nas seguintes premissas:

  1. Mobilização dos irmãos interessados em participar da ação de várias faixas etárias, em especial os mais jovens;
  2. Fazimento de pelo menos um contato mensal com todos os idosos;
  3. Realização de contatos por telefone com o objetivo de se atingir toda a população de idosos;
  4. Remessa de mensagens físicas a essa membresia, que corresponde a 25% da comunidade;
  5. Fazê-los se sentir prestigiados e não esquecidos pela igreja, comemorar o Dia do Idoso;
  6. Levantar as necessidades dos contatados, com consolidação e repasse das informações ao Conselho e Junta Diaconal, quando necessário.
Atividade laboral

Passada a pandemia, o Águias de Cristo retornou as suas atividades com muita força, colhendo-se bênçãos como a manutenção da identidade do grupo, a abertura de um diálogo intergeracional entre aqueles que participaram do projeto; comunhão entre os idosos e os jovens; o resgate do sentimento de pertencimento a comunidade; a alegria de sentir integrante do Corpo de Cristo.

Elias Bispo é contador, atua na área financeira há 44 anos, educador financeiro, servidor público, casado com Mércia (psicóloga) há 42 anos, um casal de filhos, três netos, presbítero na Igreja Presbiteriana Madalena.

Como honrar os idosos em um mundo que valoriza os jovens

Por Ariane Gomes

Há pouco menos de um ano, o bilionário norte-americano Bryan Johnson, 45 anos, ocupou por muitos dias as páginas de notícias por gastar 2 milhões de dólares por ano para rejuvenescer e voltar a ter o corpo de quando tinha 18 anos.

Para alcançar seu objetivo, Johnson mantém uma rotina que inclui a ingestão de suplementos e remédios que visam a manutenção da saúde e a proteção contra inflamações; uma sequência diária de exercícios físicos e alimentação com pratos preparados de acordo com os resultados de exames médicos realizados mensalmente e o acompanhamento de uma equipe de dezenas médicos.

Esforços obstinados como o de Johnson revelam uma percepção ruim do envelhecimento. Há uma fuga desesperada desta fase da vida sob alto custo. Envelhecer é quase uma desonra. Além deste aspecto, atitudes como a de Johnson projetam uma sombra sobre o idoso, sua história e suas possibilidades, como se a inutilidade fosse a consequência natural do envelhecer.

Esta percepção e atitude traz um grande prejuízo a pessoas, famílias e às relações sociais. É um desserviço à intergeracionalidade, à honra, à história e à vida, que é dada e mantida por Deus.

O artigo A geração esquecida, publicado em Christianity Today, lembra que a fé cristã exige outro caminho: “Em toda a Bíblia, Deus lança uma visão para incluir os idosos em todos os aspectos da vida comunitária. Especialistas em cuidados com idosos estão descobrindo que a visão bíblica não só beneficia os idosos, mas também os jovens”.

A igreja é convocada não apenas a incluir idosos, mas a oferecer portas abertas para serem protagonistas junto com os mais jovens compartilhando histórias, experiências, saberes e realizando serviços para os quais têm habilidades e força.

Para quem deseja compreender e relacionar-se com os idosos, o artigo mencionado acima faz três sugestões: aprender a ouvir, trabalhar para o bem-estar, ser fiel aos esquecidos.

Aprender a ouvir

Significa não deixar a pessoa para trás, reduzindo-a à sua utilidade, mas dando valor à sua essência como portador da imagem de Deus. A razão pela qual as pessoas importam não é porque elas têm algo para contribuir. Eles são criados para refletir Deus no mundo.

Para os idosos, contar histórias sobre suas vidas está ligado a melhorias no bem-estar geral, maior qualidade de vida e redução da solidão. Os jovens que aprendem a fazer boas perguntas e ouvir pacientemente as histórias dos idosos se beneficiam da construção de conexões sociais intergeracionais e têm a oportunidade de desempenhar um papel na preservação da história e da cultura.

Trabalhar para o bem estar

Ao procurar maneiras de honrar os idosos, é provável que as necessidades surjam. Talvez eles não possam mais manter o trabalho no quintal ou a limpeza. Talvez ir ao mercado seja assustador. Os cristãos podem encontrar oportunidades significativas e tangíveis para oferecer ajuda e apoio aos vizinhos e a outros crentes idosos. 

Ser fiel aos esquecidos
Na primeira carta de Paulo a Timóteo há um convite para que os jovens tratem seus idosos com bondade, respeito e dignidade: “Não repreenda um homem mais velho; pelo contrário, exorte-o como você faria com o seu pai” (1Tm 5.12). Embora honrar os idosos com nosso tempo não pareça ser prioridade em nossas vidas ocupadas, o desejo de Deus é que os cristãos honrem toda a humanidade. Criar vínculos com aqueles que têm a sabedoria, a força e o entendimento (Jó 12.12) é uma bela imagem do céu na terra.

Ariane Gomes atua como coordenadora de produção de Ultimato e gestora de conteúdo do Portal Ultimato.

Saiba mais:

>> Movimento Cristão 60+ e Editora Ultimato firmam parceria para produção e divulgação de conteúdos com foco no público de sessenta anos ou mais

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