Uniedas segue fazendo discípulos entre indígenas no Brasil e na América do Sul

Por Xênia M. Lança de Q. Casséte

Indígena do povo Terena do Mato Grosso do Sul, Jader Oliveira também é pastor e presidente da União das Igrejas Evangélicas Indígenas da América do Sul (Uniedas).1 Segundo Jader, “A Uniedas foi fundada em 1972, cinco anos após a Funai (Fundação Nacional do Índio) proibir a permanência de missionários cristãos nas aldeias, no ano de 1967. E nesse momento fomos desafiados a continuar a caminhada de fazer discípulos entre nosso povo”.

A Missão Uniedas está presente em seis estados brasileiros: Acre, Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Alagoas e São Paulo. A Missão trabalha com 41 etnias no Brasil (das 266 etnias brasileiras, 117 ainda não têm presença missionária). “Hoje, a Uniedas não é apenas do povo Terena, mas também é Xavante, Xingu, Pataxó, Xucuru, Caiapó, etc. É um ministério do povo indígena e carecemos de orações”, diz Jader.

Há desafios e conquistas: “Deus vai nos dando possibilidades, dentro da nossa realidade. Fazemos nossos próprios barcos para irmos evangelizar pelos rios da Amazônia, Rondônia, Roraima, Pará e Mato Grosso. No início, havia sete igrejas da missão e atualmente são 43 em todo o Brasil. Nós entendemos que Deus nos amou como o povo que somos, com a nossa cultura, com a nossa cor, cor da terra. Somos índios porque nascemos índios e não será a religião, pesquisas ou teorias que vão tirar a nossa identidade. Mas formos alcançados pelo Evangelho do Senhor Jesus Cristo e temos certeza de que quando na Cruz do Calvário Jesus disse “Está tudo consumado” as 266 etnias registradas no Brasil também estavam presentes no Seu maravilhoso plano de salvação da humanidade”.

A esperança que o Evangelho trouxe a todos é o que faz a Missão Uniedas seguir levando o Evangelho aos povos indígenas no Brasil e na América do Sul, porque todos precisam dessa esperança e de salvação.

Preparando obreiros e missionários

“Temos institutos preparando missionários e obreiros como o Centro de Treinamento em Pimenta Bueno, RO, com 48 alunos. No Baixo Xingu, o irmão Terena, pastor Cirenio, divide uma casa de seis por trinta e quatro metros como moradia para sua família e para cerca de 28 jovens a quem discípula e ensina. E é uma luta diária para alimentar todos”.

Segundo a Uniedas, há muitos missionários indígenas dispostos evangelizar indígenas no Brasil e no exterior como o Edson, um jovem da tribo Caxinauá que sobe em um barco e viaja durante três dias junto com sua esposa e seus filhos até aldeias indígenas no Peru para falar do amor de Cristo e da salvação que ele dá. E entre os povos indígenas do Xingu há uma igreja e duas congregações, fruto do trabalho missionário da Missão. Para Jader, “é hora da igreja brasileira começar a ouvir o missionário indígena, suas experiências e metodologias”.

Primeira igreja dos Terena

A primeira igreja evangélica dos Terena foi construída em 1926 (e continua no mesmo local). Henrique Winston e John Hey, missionários da Inglaterra e da Escócia, que vindo do Paraguai e chegando ao Mato Grosso em 1912, trouxeram as boas novas do Evangelho aos Terena. Entre 1905 e 1906, o Serviço de Proteção ao Índio (SPI), órgão que inaugurou a política indigenista no Brasil, iniciou aldeamentos e as reservas indígenas. “Esses missionários chegaram entre nós no período em que estavam sendo feitos os aldeamentos. Não chegaram pregando o Evangelho nem usando um púlpito ou abrindo a Bíblia. Eles começaram um relacionamento nos ajudando no difícil processo de sair da vida nômade e, então, começarmos a estabelecer um lugar para nosso povo”, conta Jader.

Winston era construtor, carpinteiro, oleiro e cozinheiro e ensinou estas profissões aos Terena. E quando chegou a hora de construir o primeiro templo os missionários e os indígenas criaram uma olaria e uma serraria que colaborou para a construção. Naquele momento de medo e adaptação dos Terena a uma nova forma de vida, os missionários também os ensinaram a furar poços, a cuidar da alimentação e abriram uma escola, dando grande ênfase à educação dos indígenas. “O que mais impactou a vida do nosso povo foi a educação de adultos e crianças. Hoje, nós temos inúmeros irmãos Terena com graduação superior, pós-graduação, mestrado e doutorado e alguns com pós-doc. Tudo isso como fruto do trabalho que os missionários fizeram entre nós no início do século 20”, relembra Jader.

“Hoje, a cidade em que moro, com 50 mil habitantes tem uma universidade federal onde estudam mais de quatrocentos indígenas. E a gente sempre escuta que a universidade só não fecha porque tem os alunos indígenas”, relata o pastor. “Então, o Evangelho que foi pregado para nós não só nos apresentou o céu e o que virá depois, mas nos deu instrumentos para vivermos como cidadãos brasileiros e cidadãos do Reino de Deus”.

Apesar de o Evangelho não ter sido pregado no idioma Terena, isso não mudou a sua cultura. “Isso é irrelevante para nós diante do que as boas novas do Evangelho trouxeram para o nosso povo”. A bisavó do pastor Jader, Tati, foi a primeira Terena que se converteu ao Evangelho, já com mais de 60 anos. Ela era filha de um dos maiores feiticeiros dos Terena. E o primeiro pastor Terena era seu filho. Todos os seus netos foram pastores e uma grande parte dos bisnetos também são pastores.

A respeito do trabalho feito pela Uniedas, Jader conta: “Nós preferimos ficar ‘embaixo do radar’, ir somente pelos rios e estradas para não entrar em atrito direto com os que são contra nosso projeto de missões entre indígenas no Brasil”. Assim, quando os que não concordam com este trabalho chegam nas aldeias, a Uniedas pode sair porque, de um modo geral, já está deixando uma igreja constituída e alguns líderes treinados. “Nós plantamos, outros regam e colhem os frutos, mas a obra é de Deus, não nossa”, afirma o pastor Jader.

Censo 2022

De acordo com o último Censo Demográfico apresentado em 2022 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existem hoje, no Brasil, 266 povos indígenas, totalizando uma população de 1.693.535 pessoas. Esse número de pessoas autodeclaradas indígenas no Brasil representa uma parcela de 0,83% de toda a população que vive no país. Uma das constatações do levantamento é que 51,25% dessas pessoas vivem na Amazônia Legal composta pelos estados do Norte, Mato Grosso e parte do Maranhão. Só no Mato Grosso do Sul existem hoje, 116,3 mil indígenas, incluindo os Terenas.

Ainda conforme a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, sobre o Censo 2022, ao se considerar o total de indígenas que vivem no país, 622,1 mil (36,73%) residem em Terras Indígenas e 1,1 milhão (63,27%) fora delas; três estados respondem por quase metade (46,46%) das pessoas indígenas vivendo nas Terras Indígenas no Brasil: Amazonas (149 mil), Roraima (71,4 mil) e Mato Grosso do Sul (68,5 mil).

Durante a cerimônia de apresentação dos dados do Censo Indígena de 2022, em Belém (PA), Sonia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas, disse que as informações do Censo vão “subsidiar a presença indígena no governo brasileiro, que está trabalhando de forma totalmente transversal, integrada com outros ministérios para pensar políticas públicas adequadas, que possam chegar a essas distintas realidades”.

Nota

1. Jader Oliveira participou do 2º Encontro do Movimento Cristão 60+, em Pompeia, SP, onde compartilhou sobre o trabalho da Missão Uniedas.

Terenas criaram rede de igrejas evangélicas. Acesso em 03 de maio de 2024.

Brasil tem 1,69 milhão de indígenas, aponta Censo 2022. Acesso em 03 de maio de 2024.

Brasil tem 1,7 milhão de indígenas e mais da metade deles vive na Amazônia Legal. Acesso em 06 de maio de 2024.

Xênia M. Lança de Q. Casséte, jornalista, aposentada, faz parte do grupo 60 + da Igreja Batista da Redenção (Redê).

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