O caminho é unir a sabedoria e a experiência das pessoas idosas à energia e aos novos conhecimentos dos jovens.
Por Kléos Magalhães Lenz César

A desigualdade entre gerações é um fato real. Jovens e idosos têm opiniões, prioridades e estilos de vida diferentes. Essas desigualdades podem produzir os “conflitos de gerações”.
Há valores inquestionáveis na sabedoria da velhice, os quais devem ser considerados pela juventude. Os mais velhos, contudo, não devem ignorar o fato de que grande parte de nossos jovens também conhece valores igualmente indiscutíveis. Às vezes, esses valores, de jovens e de velhos, são os mesmos, porém vistos de maneiras diversas e expressos em ângulos e palavras diferentes. Cabe a cada grupo não se julgar dono absoluto da verdade, que pode estar com uns ou com outros, ou com ambos. O respeito, o diálogo e a tolerância mútua, sustentados pelo vínculo do amor, são as virtudes que possibilitam esse entendimento.
No livro de Esdras, há um interessante relacionamento entre jovens e idosos, com suas igualdades e desigualdades.
Ambos os grupos, igualmente alegres, comemoravam o lançamento dos alicerces do novo templo. Ambos cantavam com vozes altas. Ambos rendiam graças ao Senhor com um
mesmo refrão: “Ele é bom, porque a sua misericórdia dura para sempre sobre Israel” (Ed 3.11).
Mas, nos dois versículos seguintes, há uma aparente desigualdade: “Porém muitos dos sacerdotes e levitas e cabeças de famílias já idosos, que viram a primeira casa, choraram em alta voz quando à sua vista foram lançados os alicerces desta casa; muitos, no entanto, levantaram as vozes com gritos de alegria. De maneira que não se podiam discernir as vozes de alegria das vozes de choro do povo.” (Ed 3.12-13).
Os idosos choravam enquanto os jovens jubilavam. Em face dos acontecimentos do dia, quem estava com a razão? Naturalmente que ambos, e cada um tinha o seu motivo.
Os idosos, presos ao passado, choravam porque haviam visto o primeiro e belíssimo templo, construído por Salomão e brutalmente destruído por seus inimigos. Agora, as obras de reconstrução começavam. Os jovens, que não haviam conhecido a primeira casa e, por isso, não sofriam influências saudosistas, emocionavam-se com os fatos presentes e
as perspectivas futuras. As lágrimas dos idosos voltavam-se mais para um passado glorioso, enquanto que o riso dos jovens antevia um futuro igualmente glorioso. Mas ambos, vertendo lágrimas ou abrindo-se em risos esfuziantes, estavam igualmente felizes e louvavam ao Senhor pela grande vitória alcançada. Eram manifestações desiguais com intenções iguais.
Entretanto, imaginemos aqueles idosos e jovens se repreendendo mutuamente por suas reações num dia memorável! Os velhos querendo que os novos chorassem com eles, e
os novos desejando que os velhos abrissem um riso festivo. Essa intolerância mútua certamente ofuscaria todo o brilho da festa. Mas eis que, mãos dadas e esquecidas as desigualdades, todos, unidos por uma só alegria, louvavam ao Senhor, Deus de idosos e de jovens.
Isso é possível em nossos dias. Só que os jovens precisam entender os idosos, e os idosos, os jovens. Tal convívio tornaria bem mais agradável a vida de uns e outros.
A psicóloga Maria Luíza M. Bisinotto alerta:
No futuro, com a extensão do período de vida, os casais terão, talvez, 30 ou 40 anos pela frente, depois da saída dos filhos de casa. Serão comuns famílias de quatro ou cinco gerações. Carece, então, que, urgentemente, comecemos a mudar os modelos de papel para as relações familiares no estágio tardio da vida. Carece, ainda, que alteremos a natureza dos relacionamentos pais-filhos, os
quais mudam no estágio posterior da vida. O caminho é unir a sabedoria e a experiência das pessoas idosas à energia e aos novos conhecimentos dos jovens. A base do novo relacionamento será o rico intercâmbio entre as gerações. É importante nutrir um sentimento de orgulho pela idade, pela própria história e experiência de vida e pela capacidade de lidar com a mudança. O livro dos Provérbios ensina-nos que “adquirir sabedoria vale mais que o ouro” (Pv 16.16).
Nota
1. Maria Luíza M. Bisinotto. Edições Kolbe, julho de 1998, p. 16.
Artigo publicado originalmente no livro Fui Moço, Agora Sou Velho. E Daí?, Kléos Magalhães Lenz César. Ultimato.
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Imagem: Unsplash
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