Nada é para sempre?

Pensar que nada é para sempre pode evocar tristeza e insegurança, mas, noutra perspectiva, é um alerta para aproveitar bem aquilo que experimentamos de bom e a bondade na história hoje

Por Christian Gillis

Recentemente tornei-me um 60+. Fiquei reflexivo, contando e considerando os meus dias, buscando alcançar alguma sabedoria da história vivida para o tempo vindouro.

Tive uma sensação semelhante por volta dos 30, na virada da juventude para a vida adulta, quando elaborava planos para a fase seguinte, contando ainda, porém, com boa saúde. Agora a conjuntura é diferente, o corpo envelheceu e desgastou-se (2Co 4.16); a força e as possibilidades são limitadas; as escolhas, então, mais restritas.

Lembrei-me também do filme dirigido por Robert Redford Nada É para Sempre (1992), que conta, em perspectiva, as mudanças que ocorrem no corpo, nos relacionamentos, nos caminhos… enfim, na dinâmica da vida humana, ainda que alguns anseios e perguntas estejam continuamente subjacentes na alma.

Na Palavra do Eterno, a brevidade da vida humana é um tema recorrente.

Moisés declara: “Os dias da nossa vida […] passam rapidamente; nós voamos” (Sl 90.10) e o profeta Isaías constata: “[…] Toda a humanidade é como a relva, e toda a sua glória como as flores do campo. A relva murcha e cai a sua flor, quando o vento do Senhor sopra sobre eles […] A relva murcha, e as flores caem, mas a palavra de nosso Deus permanece para sempre” (Is 40.6-8).

Tiago, a seu tempo, pergunta: “[…] Que é a vida? É um vapor que aparece por um pouco, e logo se desvanece” (Tg 4.14) e Jó assinala que a existência “[…] foge como uma sombra e não permanece” (Jó 14.2).

Assim como a existência é breve, parece que os projetos humanos também são transitórios, mesmo os muito bons, servindo durante algum tempo à sua época. Permanece, depois de tudo, algo do legado impresso no coração dos que foram abençoados, dos que seguem caminhando na história e levam na memória o bem comunicado.

Nada é para sempre, nem mesmo as coisas deste mundo que parecem mais sólidas e inabaláveis. Tudo passa. Não seria essa uma perspectiva lúgubre, pessimista? Considerar a finitude, os limites, é antes uma percepção realista, que ajuda a fazer melhores escolhas no presente, pensando nos anos seguintes, e estimula a averiguar o que seria eterno.

O fato é que tudo na vida natural está sujeito a mudanças. Há o envelhecimento e a morte; relacionamentos desgastam e quebram, objetos e instituições acabam ou perdem sua funcionalidade. Como nada aqui é permanente, como o é agora, devemos ser sábios e cuidar daquilo a que o coração se apega.

Na dinâmica deste mundo, como ouvimos de tantas histórias, o que temos pode ser tirado de nós e por isso devemos fundar nossa segurança, significado e sentido em bases consistentes.

Pensar que nada é para sempre pode evocar tristeza, medo, insegurança e até ansiedade, mas, noutra perspectiva, é um alerta para aproveitar bem aquilo que experimentamos de bom e a bondade na história hoje.

De todo modo, a vida nessa configuração é, de fato, impermanente e, na existência atual, as coisas podem mudar rápida ou lentamente, sendo sábio preparar-se para o inesperado e usar bem o tempo hoje, vivendo a vida com densidade, especialmente nas relações pessoais.

Mesmo que algo ruim aconteça, ainda podemos sempre aprender com os erros e tentar seguir em frente partilhando a sabedoria.

A expressão “nada é para sempre”, por outro lado, indica que há uma renovação contínua em curso, com novas possibilidades surgindo, que há mudanças acontecendo e novas chances de começar.

Graças ao Deus Eterno, que nos ama eternamente, que é rocha sempre firme, cuja Palavra subsiste para sempre, mesmo que os céus, a terra e tudo à nossa volta passe; o Deus que faz todas as coisas novas e eternas em Jesus, o Deus que dá vida eterna a criaturas que faz novas para habitar a nova criação; graças ao Deus que todo dia, apesar do desgaste do nosso corpo mortal, nos renova interiormente com esperança no coração enquanto peregrinamos por este mundo, até que venham os definitivos novos céus e nova terra.

Christian Gillis é pastor na Igreja Batista da Redenção em Belo Horizonte, MG

Artigo originalmente publicado na edição de novembro/dezembro de 2025 de Ultimato.

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