Por Jorge Cruz
Os cabelos brancos são uma coroa de glória, quando embranquecem no caminho da honradez. Provérbios 16.31

O envelhecimento da população está ocorrendo em todas as regiões do mundo, à medida que os progressos médicos e tecnológicos e a melhoria do acesso aos cuidados de saúde vão contribuindo para um aumento da longevidade. No Brasil, a expectativa de vida ao nascer aumentou mais de trinta anos desde 1940, sendo atualmente de 76,8 anos.
A Assembleia Geral das Nações Unidas declarou o período de 2020 a 2030 como a década do envelhecimento saudável, procurando encorajar os decisores políticos, a sociedade civil, as instituições acadêmicas e a mídia a cooperarem na melhoria das condições de vida dos mais velhos, suas famílias e comunidades.1
O envelhecimento é um processo fisiológico progressivo e inevitável que conduz à deterioração da estrutura das células, comprometendo a função dos diferentes órgãos e sistemas. Ao nível celular, tem início mesmo antes do nascimento, sendo determinado por fatores genéticos e ambientais. Porém, em termos práticos, faz sentido situá-lo a partir da sexta década da vida, quando o declínio orgânico e funcional do corpo humano começa a manifestar-se com maior intensidade, apesar da grande variabilidade individual. Se dividirmos o tempo de vida de uma pessoa em estações, o envelhecimento é mais notório no outono da vida, quando o cabelo se torna grisalho (ou inexistente), a capacidade física diminui e o peso corporal aumenta. Está geralmente associado à idade de aposentadoria, que na maioria dos países ocorre entre os 60-65 anos.
O envelhecimento não é uma doença. É um fenômeno fisiológico natural que representa uma etapa importante do ciclo de vida das pessoas, apesar de algumas limitações que traz. Sendo inevitável (a não ser que ocorra uma morte prematura), pode ser retardado por meio da adoção de estilos de vida saudáveis, de modo a aumentar a qualidade de vida e a prevenir o aparecimento de doenças associadas à idade avançada, em particular as doenças cardiovasculares e oncológicas. Um dos aspectos mais sombrios do envelhecimento é surgirem com frequência doenças degenerativas do sistema nervoso, entre as quais a doença de Alzheimer e outras formas de demência. No entanto, alguns estudos têm demonstrado que a idade média de aparecimento das doenças crônicas aumentou cerca de dez anos nas últimas décadas.
Em 2002, a Organização Mundial de Saúde introduziu o conceito de envelhecimento ativo, que é o processo de otimização das oportunidades para a saúde, participação e segurança, para melhorar a qualidade de vida das pessoas que envelhecem. O objetivo é que cada cidadão possa envelhecer com saúde e autonomia, mantendo em idades avançadas as capacidades físicas e mentais que lhe proporcionem bem-estar, continuando a participar plenamente na sociedade e a usufruir de uma boa qualidade de vida.
Para um envelhecimento ativo e saudável é importante uma atividade física regular, bons hábitos de sono e de descanso, uma alimentação equilibrada, rica em frutas e legumes e com pouco sal e açúcar, a abstinência tabágica e de bebidas alcoólicas, e a toma de medicação considerada necessária, por exemplo, para o controlo tensional. Uma atividade mental estimulante e desafiadora também é essencial para uma saúde integral, assim como boas relações de afeto e estima no seio da família e da comunidade.
Um dos resultados da aposentadoria, que surge com o envelhecimento, é uma maior liberdade no uso do tempo, sem as imposições rígidas de um horário laboral. A experiência adquirida ao longo da vida e, no caso dos cristãos, a sua esperada maturidade espiritual, torna os mais velhos entre nós um recurso indispensável, embora por vezes desvalorizado e subaproveitado, ainda que muitos se envolvam em diversas atividades de voluntariado, que é uma excelente forma de promoção do envelhecimento ativo.
A Palavra de Deus afirma o valor e dignidade do ser humano em todas as fases da vida, desde a concepção até a morte natural. Na carta a Tito (2.2-3), o apóstolo Paulo realça o papel fundamental e imprescindível dos homens e mulheres mais velhos na comunidade cristã, para que sejam um exemplo de moderação, respeito, sabedoria, fidelidade, amor e perseverança, contribuindo assim para o crescimento e edificação da fé dos mais novos (cf. Salmos 92. 14-15).
A vida humana é limitada e o envelhecimento faz parte dela. John Wyatt, professor catedrático de neonatologia no Imperial College, em Londres, e um cristão convicto, salienta: “A esperança de vida do ser humano é limitada, não apenas como resultado do castigo de Deus, mas também da sua graça e misericórdia”, porque “no cuidado de Deus para com a sua criação, não era possível que o ser humano vivesse eternamente no seu estado degradado e limitado como consequência da Queda”.2 A mensagem do evangelho anuncia a destruição da doença, do sofrimento e da morte, e a esperança de vida eterna, por meio de Cristo e do seu sacrifício na cruz, para salvação de todos os que nele creem. Como refere o apóstolo Paulo em 2 Coríntios 4.14,16: “[Deus,] que ressuscitou o Senhor Jesus, nos ressuscitará também por Jesus, e nos apresentará convosco (…) Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia”.
Notas
- Decade of Healthy Ageing
- Wyatt, John. Matters of Life & Death: Human dilemmas in the light of the Christian faith. Inter-Varsity Press, Nottingham, 2009, p. 219.
- Jorge Cruz é médico especialista em Angiologia e Cirurgia Vascular, doutor em Bioética, membro do Comitê de Países de Língua Portuguesa da International Christian Medical & Dental Association (ICMDA), membro honorário da Associação Cristã Evangélica de Profissionais de Saúde (ACEPS-Portugal), membro do Conselho Internacional da PRIME – Partnerships in International Medical Education. Mora em Porto, Portugal.
Artigo publicado originalmente no portal Ultimato em janeiro de 2022.
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