1º Encontro
João Pessoa, Paraíba
Diante da necessidade de um novo olhar no corpo de Cristo, organizou-se o 1º Encontro Nacional do MC60+ que aconteceu de 17 a 23 de outubro em João Pessoa, dentro do Instituto Bíblico Betel Brasileiro.
Três eixos orientaram as atividades desse encontro:
- O primeiro eixo é entender a si mesmo, a fase da vida que nos encontramos, a nossa vocação, nossos dons, a renovação do chamado de cada um, experiência e maturidade para viver e servir no reino de Deus.
- O segundo eixo é adquirir a visão, entender o amplo alcance do reino de Deus, o mandato para cuidar da seara e o jardim do Senhor, a visão missionária e as oportunidades para se envolver e cooperar com suas habilidades e experiências nas obras do reino.
- O terceiro eixo é o de autocuidado. “cuide de si mesmo e do rebanho”. Quem não sabe se cuidar, não sabe cuidar dos outros. Ser saudável, significa não apenas fisicamente estar bem, mas não negligenciar a parte emocional, social e espiritual. Viver o verdadeiro sábado do Senhor, ter tempo de lazer, desfrutar a beleza da criação de Deus, fazer novas amizades e aprofundar a comunhão.
Detalhamento do Encontro
O Encontro começou com a exposição da Durvalina Bezerra, Diretora do Centro de Educação Teológica de Betel Brasileiro, cujo tema foi Vocação e Dons. A mensagem principal é que os dons e a vocação são irrevogáveis (Rm.11:29), não se extingue, não perde a validade com o passar do tempo. Somos chamados para ser e fazer a vontade de Deus. Trabalho é a parte essencial do ser e do fazer. A forma de trabalho pode mudar, mas a vocação permanece a mesma. Continuamos a trabalhar e frutificar independente da idade.
A segunda exposição foi feita pelo José Alcione, pastor e psicólogo, cujo tema foi Os Desafios da Terceira Idade e a Missão da Igreja. Como psicólogo e pastor, Alcione analisou os desafios dos aposentados, no seu relacionamento conjugal, seus filhos já adultos e com pais muito idosos e incapacitados. Essa mudança de rotina e das dificuldades físicas inerentes a idade, muda sua perspectiva de vida e introduz uma carga extra de ansiedade e mudança de humor que pode levar a depressão. Muitas vezes a igreja não percebe essa mudança e trata as pessoas dessa faixa da mesma forma que antes, como nada tivesse acontecido. A igreja deve promover maior integração entre os mais velhos e os mais novos, juntando-os nos mesmos grupos de oração e de trabalho, fazendo-os entender uns aos outros. Ainda, ter palestras para a igreja entender as necessidades invisíveis da terceira idade, desenvolver os ministérios que possam aproveitar a experiência e a maturidade dos 60+, criar oportunidades e incentivar os mais velhos a servir. Na liturgia dos cultos, cantar hinos mais antigos, fazendo os jovens entenderem como era o espírito de adoração antigamente.
Terceira apresentação impactante foi a da ACEV – Ação Evangélica, missão que atua no sertão nordestino, principalmente na Paraíba. Conhecemos a obra da ACEV pela Ultimato (ed. Set/Out p.24), mas ouvir o relato do Lindon Carlos e ver o brilho de seus olhos ao falar sobre a transformação que ocorreu na vida das famílias no sertão, fez toda diferença, A proclamação do Reino pela ação de evangelização junto com os projetos sociais, como a perfuração dos poços, construção de banheiros, criação de cabras e galinhas, plantio das verduras com o reuso da água, geraram não só a renda para as famílias como mudaram totalmente o meio ambiente. Essa apresentação foi inspiradora ao mostrar como a proclamação do evangelho, cuidando ao mesmo tempo das pessoas e do meio ambiente, pode impactar toda uma região. Fica claro também que a obra do reino de Deus precisa não só de missionários, pastores e recursos financeiros, mas de empreendedores e gestores experientes, engenheiros, técnicos agrícolas, pessoas que entendem de logística e a administração, enfim as valiosas experiências dos 60+.
Tivemos também uma boa exposição sob o tema Segunda Carreira e Aceitação, feita por James Chen (engenheiro e também presbítero da Christian and Missionary Alliance Church em Chicago, EUA) baseada no livro “É Preciso Saber Envelhecer” do autor Paul Tournier. Entre os principais pontos, podemos destacar dois trechos com reflexões profundas para 60+: 1- “Uma segunda carreira nasce de uma motivação diferente, porém social e busca um fim, fixa-se numa missão que leva o indivíduo a se organizar, a ser fiel, a manter uma prioridade frente os prazeres egoístas. Tudo isso se fará por amor aos homens e não por dever, porque já não se trata de atividade profissional. É uma maneira de estar no mundo e não de se evadir dele” (pag. 146); e 2- “Os velhos que não reclamam por respeito são rodeados de respeito; pedimos conselhos aos velhos que não nos pretendem impor seus conselhos. Os velhos, porém, poderiam tornar-se coisa ainda melhor do que isso: confidentes. Ante um coração amplamente acolhedor, ante quem nos ouça para compreender e não para julgar ou dirigir, nós nos abriremos sem restrições. Esta é a forma de estar no mundo que convém à velhice.” (pag. 218)
Tivemos oportunidade de meditar Salmos 90 e vida de Moisés como inspiração para 60+. Ao ler esse salmo, que é a oração de Moisés, transparece claramente num tom melancólico a sua frustração e o sentimento de que a sua vida foi um fracasso e que em breve ela desaparecerá como flor do campo. Mas justamente nesse momento, quando ele já estava perto de 80 anos, Deus o convoca para sua grande obra, libertação dos israelitas. Ele entendeu depois que toda a sabedoria e ciência que ele aprendeu no Egito, incluindo frustrações e fracasso, tudo que ele aprendeu no deserto de Midiã, pastoreando aos pés do Monte Sinai, nada mais é do que uma preparação para ele poder libertar o povo e cumprir o propósito de Deus. Pois essas experiências foram fundamentais para ele guiar os israelitas pelo grande e terrível deserto. Assim também acontece com cada um de nós, tudo que passou, tudo que aprendemos, nada mais é do que uma preparação para o dia que se chama hoje.
A palestra do Serguem Jessui Silva, que foi Diretor da Visão mundial e da Tearfund, nos trouxe uma visão renovada do que é a missão e a ação social. O que Deus requer de nós, parafraseando Miqueias? A metanóia. Mudança permanente da nossa mente, a compreensão de que ações tem que produzir resultados duradouros com transformação sustentável. Ainda que seja necessário em certos momentos na vida socorrer os mais vulneráveis, a prática assistencial não produz transformações duradouras. Os 60+ podem aliar o conhecimento adquirido ao longo da sua jornada profissional, colaborar como voluntários, diante das novas demandas e possibilidades, tornar as ações sociais mais produtivas e úteis, oferecendo um leque amplo de ferramentas e metodologias que poderão levar a transformação, quebrando o ciclo da pobreza.
A última palestra foi de José Almeida, pastor da Igreja Batista do Povo, intitulado “Esperança na Caminhada com o Senhor – Uma Mensagem de Encorajamento”. Não é fácil ter esperança diante de doenças incapacitantes, reveses inesperados, incompreensão da comunidade. O mundo fala que ter esperança faz parte da autoajuda, é sonhar acordado, dá um alívio temporário, mas não se pode depender da esperança. Para nós, a esperança não é criação da nossa cabeça, mas é crer naquele que é fiel e ter coragem para tomar decisões radicais, não ter medo de se arriscar, e ser perseverante para chegar ao fim da nossa jornada.
Tivemos oportunidade de passeios turísticos todos dias: Farol de Cabo Branco, Mirante da Ponta do Seixas, Ilha de Areia Vermelha, por do sol na Praia de Jacaré, Praia de Tabatinga, de Coqueirinho e de Tambaba. Como os participantes eram de lugares diferentes, não se conheciam, a comunhão acontecia à mesa, degustando a culinária nordestina, peixada e carne de sol ao leite. Foi o início de uma amizade que dará muitos frutos para o Senhor.
Somos gratos a Deus pelo nosso encontro em João Pessoa, que serviu não apenas para conhecermos melhor a essência do Movimento Cristão 60+ como também será um ótimo modelo para os próximos encontros.
