Relacionamentos na visão do apóstolo Paulo
Por Paulo Andrade

De forma geral, são estes os tópicos que se relacionam ao envelhecimento saudável:
- Físico: alimentação, exercícios físicos, sono
- Saúde mental e emocional
- Relacionamentos
- Espiritualidade
- Trabalho voluntário
É consenso que relacionamentos são um dos aspectos mais importantes da vida cristã. E sobre este assunto, o apóstolo Paulo nos oferece importante conteúdo na Carta aos Romanos, a partir do capítulo 12.
Romanos é considerado o maior tratado teológico da Bíblia. A partir do capítulo 12, Paulo passa a falar de aspectos práticos de sua mensagem – assim é em todas as suas cartas – e várias vezes cita a expressão “uns dos outros” (Tradução Revista e Atualizada).
A seguir apresento uma análise sucinta de alguns versículos.
Somos um só corpo
“Assim também nós, conquanto muitos, somos um só corpo em Cristo e membros uns dos outros” (Rm 12.5).
Um corpo, um organismo, um corpo e vários membros. Se alguém não está ligado aos outros membros, pode ser inútil e até prejudicial. Exemplo de uma célula cancerosa (independente).
Não somos uma multidão independente uns dos outros, que só pensam em si. Somos muito mais que um clube, um Rotary, ou outra reunião qualquer que podemos frequentar: somos um corpo, o corpo de Cristo, que se reúne em Cristo. Corpo místico de Cristo. Místico, porque é mais que uma agenda, uma liturgia, um programa, mais que um planejamento estratégico. Mas, sim, a manifestação do Espírito Santo promovendo transformação de vidas, realizando uma verdadeira adoração a Deus.
Primeira característica da comunhão – amor
“Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros” (Rm 12.10)
A comunhão exige o amor, amor com ações práticas. Amor intencional – resolver amar. No verso acima, o verbo amar está no imperativo, significa uma ação nossa. Irmãos aponta para um relação fraternal, como irmão de sangue.
“Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros” (Jo 13.35). Que tipo de amor? O de João 13.34: “Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei”.
Há uma evolução no conceito do amor nas Escrituras: de “Olho por olho, dente por dente” para “Amar o próximo como a si mesmo”, amar assim como Jesus nos amou e deu sua vida por seus amigos, discípulos.
Segunda característica da comunhão – sem discriminação
“Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros” (Rm 12.10)
Amar cordialmente é agir sem discriminação – que não foi a atitude do fariseu com relação ao publicano (“Graças a Deus não sou como esse meu irmão”). Colocar o outro na frente. Não ter inveja, sem ressentimentos, desavenças. Fazer a mesma coisa que você quer que o outro faça para você.
“Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros. Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus” (Fp 2.3-4).
Preferir em honra significa que se for preciso escolher, você dará a honra a outro e não ficará com ela.
Terceira característica da comunhão – não julgar
“Não nos julguemos mais uns aos outros; pelo contrário, tomai o propósito de não pordes tropeço ou escândalo ao vosso irmão” (Rm 14.13).
Não somos juízes de nossos irmãos, e precisamos lembrar que seremos julgados pelo mesmo parâmetro que julgarmos. “Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão, mas não se dá conta da viga que está no seu próprio olho?” (Mt 7.3).
Quarta característica da comunhão – edificar uns aos outros
“Assim, pois, seguimos as coisas da paz e também as da edificação de uns para com os outros” (Rm 14.19)
Minha atitude, minha intenção para com meu irmão deve ser a de edificação do próximo. Efésios 4.29 demonstra uma forma de edificar: “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem”.
A palavra torpe é malcheirosa, lembra cheiro de peixe podre. De acordo com o verso acima, nossa palavra é boa para a edificação, conforme a necessidade e transmite graça aos que ouvem.
Quinta característica da comunhão – acolher
“Portanto, acolhei-vos uns aos outros, como também Cristo nos acolheu para a glória de Deus” (Rm 15.7)
Precisamos acolher como fomos acolhidos. Acolher para a transformação (essa é a intenção) de todos, assim como nós precisamos ser acolhidos e sermos transformados.
Sexta característica da comunhão – acolhimento afetuoso
“Saudai-vos uns aos outros com ósculo santo. Todas as igrejas de Cristo vos saúdam” (Rm 16.16)
Devemos ser acolhedores. E, na prática, isso pode acontecer de diversas maneiras:
- Um abraço – pode ser o único abraço que a pessoa vai receber na semana.
- Um olhar – O olhar “olho no olho” demonstrando atenção.
- Escuta atenciosa – Dizem que a definição de chato é aquela pessoa que quando você pergunta “Como vai?”, quer explicar, responder detalhes. Mas não é assim. Ouçamos uns aos outros.
Você deve estar pensando: “Isso tudo é impossível!”. Por nossas forças nunca conseguiremos e, nesse sentido, é impossível mesmo. Por mais que nos esforcemos, será falsa a nossa atitude.
E é por isso que o capítulo 12 de Romanos começa assim:
“Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.”
Relacionamentos amorosos, sem discriminação nem julgamento, com acolhimento sincero e edificação só acontecerão se apresentarmos os nossos corpos por sacrifício vivo santo e agradável a Deus e experimentarmos a transformação e renovação da nossa mente. Só assim experimentaremos a boa agradável e perfeita vontade de Deus. E também a comunhão.
Relacionamentos que edificam acontecem somente com uma intervenção do Espírito Santo convencendo cada um de nós que:
- Sou terrivelmente pecador – meu próximo não é pior que eu, provavelmente eu sou pior que o meu próximo
- Mereço o inferno
- Que Jesus me salvou somente pela sua graça
- Jesus, o Deus Filho, nasceu de uma virgem, viveu entre nós sem pecado, morreu terrivelmente numa cruz, levou todos os meus pecados naquela cruz
- Agora posso tratar os meus irmãos como tudo que foi dito acima.
- Posso tratar quem não é salvo com amor e essa pessoa possa ver o que Jesus fez na minha vida e chegue-se à salvação.
Isso é evangelho. Se eu viver o evangelho a todo o momento, vou irradiar o amor de Jesus aos outros.
Paulo Andrade é médico e pastor. Casado com Dora, é pai de três filhos e avô de três netos.
Imagem: Unsplash.
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